A presidente veste roxo: o significado dos looks da nova líder do México
A escolha da primeira mulher presidente do México carrega simbolismos por todos os lados. Entre a força do pioneirismo e o discurso político de Claudia Sheinbaum, é também pela roupa que a agora chefe de Estado comunica suas ideias e ideais.
Ainda que com um estilo mais minimalista em ternos e vestidos de corte reto, porém não sisudo, Sheinbaum investe em detalhes nas peças que remetem à cultura do seu país, usando a moda como vetor de uma mensagem que se alie ao discurso falado.
Em um evento de notoriedade mundial, a roupa escolhida por uma autoridade, em especial uma autoridade feminina, fala bem mais do que meras regras de etiqueta.
Desde a campanha até a posse, a presidente investe em enaltecer as estampas, os grafismos e o trabalho artesanal característicos da cultura mexicana.
Como é o caso dos bordados de Tenango de Doria (inspirados na cultura pré-hispânica otomí), os icônicos sarape de Saltillo (uma espécie de poncho ultracolorido) ou os bordados florais sobre um tecido escuro, muito característicos de diferentes regiões em Oaxaca, no sul do México - estética também muito forte na obra de Frida Kahlo (1907-1954), uma das expoentes mais importantes das artes visuais mexicanas.
Além disso, as escolhas de Sheinbaum se misturam em aspectos que remetem a povos originários, como indígenas, mas também a uma moda contemporânea.
O roxo e as sufragistas
Além dos grandes florais em cores vibrantes que estampavam tanto a sobreposição do vestido como a cintura, outro elemento simbólico do look escolhido por Sheinbaum para a cerimônia de posse está na cor do tecido. O roxo é um tom que carrega uma mensagem muito próxima ao que Sheinbaum acena em sua proposta política mais progressista.
Isso porque o roxo foi a cor predominante utilizada pelo movimento sufragista, pioneiras ativistas que lutaram pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, o direito ao voto e a participação ativa das mulheres na sociedade.
Vistas como precursoras do feminismo, as sufragistas fizeram parte desse movimento de reforma social, política e econômica que começou na França no século 18, chegando à Inglaterra no final do século 19 e aos EUA no início do século 20. Hoje, a cor costuma estampar bandeiras relacionadas a movimentos feministas.
A escolha da cor com uma ligação ao movimento feminista não parece coincidência, visto que a própria eleição da presidente conversa com as pautas do movimento, bem como a cobrança popular para que Sheinbaum se envolva na luta contra as violências de gênero.
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Quero receberNão chego sozinha. Chegamos todas, com nossas heroínas que nos deram a pátria, com nossas antepassadas, nossas mães, nossas filhas e nossas netas, disse a autoridade, em seu discurso de vitória.
Moda política
Ainda quando opta por composições mais sóbrias, Cláudia Sheinbaum inclui elementos característicos da cultura mexicana, como lenços estampados com o qual costuma adornar pescoço e colo.
A escolha, aliás, surge como uma referência à tradição e à cultura dos Mestizos, grupo étnico é composto por pessoas de ascendência mista, geralmente europeia (principalmente espanhola) e indígena americana.
Sendo a moda essa forma de se comunicar com o mundo, aliar o vestir com o discurso pode (e deve) ser uma poderosa ferramenta de expressão política.
E enaltecer a própria cultura nas roupas que escolhe, em vez de aliar-se a uma ideia europeia do que é considerado elegante e sofisticado, colabora na construção de imagem de uma autoridade que chega já com um feito histórico.
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