Após 'invasão dos EUA', cidade italiana inflaciona casas de 1 para 3 euros
Antes considerada praticamente um vilarejo fantasma, a charmosa cidadezinha de Sambuca de Sicilia, no sul da Itália, ganhou uma "Little America" com o grande fluxo de migrantes dos EUA que se mudaram para lá desde a primeira rodada de venda de casas por 1 euro (R$ 5,85) em 2019.
A iniciativa, que visava repovoar e restaurar suas construções milenares, foi tão bem sucedida que houve repeteco em 2021. No último mês, a prefeitura abriu a terceira rodada de vendas e decidiu inflacionar o valor da pechincha: 3 euros ou R$ 17,50 por uma residência.
São 12 os imóveis que fazem parte desta nova rodada de negociações. "Queremos deixar claro que, numerando estes lotes, mais vendas provavelmente acontecerão nos próximos anos", informou o prefeito recém-eleito Giuseppe Cacioppo à CNN americana.
"O timing [do início das novas vendas] é perfeito. Turistas e compradores interessados atualmente estão viajando pela Itália e aqueles que planejam uma viagem para a primavera ou o verão podem vir dar uma olhada", convidou ainda.
Como são as casas de Sambuca?
As residências disponíveis estão no distrito histórico sarraceno, onde os árabes que povoaram a cidade (fundada pelos gregos) viviam durante a Idade Média. De acordo com a reportagem do jornal The New York Post, os imóveis estariam estruturalmente estáveis, mas precisam de reformas para que sejam novamente habitáveis.
Com dois a três dormitórios, as casas variam entre 50 a 80 metros quadrados distribuídos por dois a três andares. Elas foram construídas, a sua maioria, em pedras de um marrom-dourado, algumas com sacadas com vista aos seus becos e vales, portas originais pintadas em tons de verde, arcos decorados e grandes janelas, em típico estilo do sul da Itália.
As mais amplas possuem seus próprios pequenos quintais com limoeiros e pisos de azulejos pintados. No entanto, elas não possuem a beleza de outrora no momento. Dá para conhecer cada uma das casas disponíveis aqui no site da prefeitura.
A Pequena América
"Estrangeiros estão vindo em bando para comprar nossas casas, tem sido um sucesso até agora", celebrou ainda o prefeito Cacioppo à CNN. "Eles eram uma vista rara aqui antes de 2019, mas agora se tornaram parte de nossa paisagem. Nossa cidade definitivamente está no mapa neste momento".
A maioria dos novos moradores são americanos, criando uma verdadeira "Pequena América", uma subcomunidade dentro da cidadela de cerca de 5 mil pessoas. Com eles, os americanos trouxeram algumas novidades e modernidades para este endereço que parece perdido no tempo: um casal instalou até um elevador na sua propriedade, de acordo com o veículo.
Apesar da pechincha inicial, eles chegam a investir cerca de 30 mil euros (R$ 175,3 mil) em reformas mais simples, mas os projetos de "retiros de luxo" custam cerca de 200 mil (R$ 1,17 milhão). Diversos que já adquiriram imóveis nas primeiras rodadas acabaram também comprando mais propriedades na cidade, especialmente as vizinhas para ampliar seus imóveis — o que aqueceu o mercado imobiliário de Sambuca.
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Quero receberAtualmente, diversos moradores locais estão colocando garagens e antigos sótãos e anexos à venda, para fazer renda extra.
Projeto mudou a paisagem
Como resultado destes investimentos, Sambuca agora tem novas pousadas — em antigas casas de 1 euro reformadas —, além de lojas e mais trabalho para arquitetos, empreiteiros, designers de interiores e até tabeliões. Na esteira da chegada dos estrangeiros, a prefeitura inaugurou espaços de co-working para trabalhadores remotos e instalou wi-fi em seus pitorescos becos.
Inicialmente, apenas 16 casas foram vendidas por 1 euro em 2019. Dois anos depois, mais uma leva foi vendida por 2 euros cada. Mas a instalação dos novos residentes gerou cerca de 20 milhões de euros, ou quase R$ 117 milhões na economia local.
Isto porque nem só dos leilões das casinhas do projeto vivem as imobiliárias de Sambuca: muita gente interessada que não conseguiu levar o imóvel na batida final do martelo acabou comprando outros imóveis baratos pela cidade. No total, 250 casas já foram vendidas até agora, divulgou o prefeito.
O processo de negociação das casas do projeto acaba sendo burocraticamente facilitado, já que muitos imóveis desocupados por residentes que fugiram do terremoto de 1969 foram reapropriadas e agora pertencem às autoridades municipais. Como não há intermediários, como no caso de outras cidades em que o governo precisa convencer os proprietários a vender as casas desocupadas, a venda é mais fácil.
Como comprar uma casa de 3 euros?
Com uma barganha dessas, é de imaginar que haja muito interesse nas 12 casas disponibilizadas pela prefeitura. Portanto, como nas outras rodadas, será realizado um leilão — e as casas são, de fato, vendidas a quem está disposto a pagar o maior valor.
Mas elas não custavam 3 euros? Sim.
No entanto, para participar dos leilões, é preciso fazer um depósito-caução de 5 mil euros (R$ 29,2 mil) junto à prefeitura. Caso você não vença a disputa pela casa, o dinheiro é devolvido imediatamente, de acordo com a CNN. Já para aqueles que levam as casas, o dinheiro se torna uma "garantia" de compromisso com o projeto — é preciso completar a reforma em até três anos para não perder o reembolso.
Interessados podem encontrar mais informações sobre o processo no site comune.sambucadisicilia.ag.it.
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