Afinal, por que o vinho natural é tão caro no Brasil?
Se a ideia de consumir vinho natural — ou seja, que não é produzido em escala industrial e não leva agrotóxicos nem aditivos — ainda é novidade, no Brasil a bebida pode parecer ainda mais distante dos consumidores em razão do preço, em geral bem mais altos que as garrafas à venda no supermercado.
Mas, afinal, por que o vinho natural é tão caro no Brasil?
No videocast Vamos de Vinho desta semana, os jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas recebem a sommelière Lis Cereja, dona do restaurante Enoteca Saint VinSaint, em São Paulo, e fundadora da Feira Naturebas, para discutir a produção e o consumo dos vinhos naturais no Brasil.
Para a convidada, a resposta está na história e na geografia brasileiras:
As uvas vieram para o Brasil trazidas pelos portugueses; não existem registros de videiras no Brasil antes disso. E, até hoje, o que entendemos como movimento de vinho natural é estrangeiro, importado — a cultura, o cultivo, a produção
Embora se adaptem bem ao solo basileiro, as uvas não são autóctones, ou seja, não são naturais da nossa região. Isso dificulta o cultivo no solo e no clima tropical do Brasil, especialmente em pequena escala e sem uso de tecnologia industrial, o que inclui maquinário, agrotóxicos e aditivos, por exemplo.
O Brasil não é um país produtor de vinhos, a bebida não faz parte da nossa alimentação e ainda está restrita a uma elite. O cultivo é caro e não tem incentivo, porque a bebida representa menos de 1% do PIB", explica.
É fácil cultivar uva sem veneno e vender vinho natural barato na França. Aqui não
A solução para a produção de vinho natural no Brasil, acredita Lis Cereja, é apostar na produção da bebida à base de frutas naturais brasileiras, e não de uva.
"Talvez o grande movimento de vinho natural no Brasil não esteja ligado à uva, mas às várias frutas nativas que viram álcool", sugere. "Há registros na história de fermentados de caju, jabuticaba, mandioca, milho. Aí sim dá para produzir uma bebida barata e que pode ser cultivada sem veneno no Brasil".
Economia também dificulta produção de uva sem veneno no Brasil
Há, ainda, barreiras econômicas que impedem que o vinho natural seja produzido em escala e a preços acessíveis no Brasil.
Além da falta de conhecimento técnico para a produção agrícola sem agrotóxicos, o país também sofre com a falta de incentivos públicos para o cultivo limpo. Por fim, para fazer cultivo orgânico é preciso ter terra. "E quem é que tem terra hoje no Brasil?", questiona Lis Cereja.
Pouquíssimas pessoas no Brasil têm conhecimento de solo, microbiota e clima para fazer uma agricultura orgânica, sustentável, e de agrofloresta. Falta tempo, experiência e profissionais qualificados até para o cultivo tradicional, imagine para o cultivo orgânico
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Quero receber"Muitos produtores orgânicos não conseguem empréstimos em bancos porque, diferente dos produtores que usam agrotóxicos, eles não têm tanta garantia de colheita", critica Lis Cereja. "No Brasil, o veneno é garantia de colheita, e isso é um absurdo".
Vamos de Vinho
O videocast apresentado pelos jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas combina conhecimento especializado e conversas descontraídas sobre vinho.
Os episódios são disponibilizados toda quinta-feira, no Canal UOL e no Youtube de Nossa.
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