Vinho orgânico, natural e biodinâmico: as diferenças entre vinhos 'limpos'

Você sabe a diferença entre vinho natural, vinho orgânico e vinho biodinâmico? Qual é a vantagem das bebidas que levam estes rótulos em comparação às tradicionais? E por que eles costumam ser mais caros?

Essas e outras perguntas guiaram o episódio desta quinta-feira do videocast Vamos de Vinho. Nesta semana, os jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas recebem a sommelière Lis Cereja, dona do restaurante Enoteca Saint VinSaint, em São Paulo, e fundadora da Feira Naturebas, especializada em vinhos naturais.

Antes de começar a discussão, a sommelière deixa claro: vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais não são a mesma coisa. E é preciso entender as diferenças entre eles na hora de escolher.

O vinho orgânico provém da agricultura orgânica, ou seja, de um cultivo que não usa agrotóxicos. Mas não necessariamente um vinho produzido a partir de uvas orgânicas é também um produto orgânico — isso porque, como explica Lis Cereja, é possível que durante a produção o vinho receba aditivos químicos sintéticos em sua preparação e, com isso, deixe de ser orgânico.

Um vinho que começa com uma uva de terra limpa pode deixar de ser um produto limpo ao receber aditivos

O vinho biodinâmico, por sua vez, segue uma cartilha bem mais complexa: a da agricultura biodinâmica, criada por Rudolf Steiner na década de 1920. Em síntese, o filósofo desenvolveu técnicas para restaurar e garantir a saúde do solo e de seus nutrientes, ou seja, cuida do solo para garantir a saúde da planta que será cultivada.

Já os vinhos naturais englobam todos esses conceitos que fogem aos vinhos convencionais produzidos industrialmente. Nas palavras da sommelière, não é exatamente um tipo de bebida, mas um movimento de resistência à extrema industrialização e padronização do vinho.

Por que os vinhos naturais são tão caros no Brasil?

Continua após a publicidade

Lis Cereja conta que história e geografia brasileiras são outros dois fatores que dificultam a produção da bebida "limpa" no país.

As uvas vieram para o Brasil trazidas pelos portugueses; não existem registros de videiras no Brasil antes disso. E, até hoje, o que entendemos como movimento de vinho natural é estrangeiro, importado — a cultura, o cultivo, a produção

Embora se adaptem bem ao solo basileiro, as uvas não são autóctones, ou seja, não são naturais da nossa região. Isso dificulta o cultivo no solo e no clima tropical do Brasil, especialmente em pequena escala e sem uso de tecnologia industrial, o que inclui maquinário, agrotóxicos e aditivos, por exemplo.

O Brasil não é um país produtor de vinhos, a bebida não faz parte da nossa alimentação e ainda está restrita a uma elite. O cultivo é caro e não tem incentivo, porque a bebida representa menos de 1% do PIB", explica.

É fácil cultivar uva sem veneno e vender vinho natural barato na França. Aqui não

Economia também dificulta produção de uva sem veneno

Continua após a publicidade

Há, ainda, barreiras econômicas que impedem que o vinho natural seja produzido em escala e a preços acessíveis no Brasil.

Falta de conhecimento técnico para a produção agrícola sem agrotóxicos e a falta de incentivos públicos para o cultivo limpo também se apresentam como barreiras econômicas para a produção de vinhos naturais por aqui.

"Pouquíssimas pessoas no Brasil têm conhecimento de solo, microbiota e clima para fazer uma agricultura orgânica, sustentável, e de agrofloresta. Falta tempo, experiência e profissionais qualificados até para o cultivo tradicional, imagine para o cultivo orgânico", fala a convidada do videocast.

"Muitos produtores orgânicos não conseguem empréstimos em bancos porque, diferente dos produtores que usam agrotóxicos, eles não têm tanta garantia de colheita", critica Lis Cereja. "No Brasil, o veneno é garantia de colheita, e isso é um absurdo".

Por fim, para fazer cultivo orgânico é preciso ter terra. "E quem é que tem terra hoje no Brasil?", questiona a sommelière.

Vamos de Vinho

O videocast apresentado pelos jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas combina conhecimento especializado e conversas descontraídas sobre vinho. Os episódios são disponibilizados todas as quintas-feiras no Canal UOL e no Youtube de Nossa. Assista ao episódio completo desta semana no topo da página.

Deixe seu comentário

Só para assinantes