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Vamos de Vinho

Videocast do UOL sobre o universo dos vinhos


Vinhos orgânicos: por que é tão difícil produzir uvas sem veneno no Brasil?

De Nossa

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29/06/2024 04h00

Os vinhos orgânicos — produzidos com uvas sem agrotóxicos e que não recebem aditivos químicos — geralmente são mais caros que os vinhos convencionais, produzidos em escala industrial. Mas o que justifica os preços mais altos?

No podcast Vamos de Vinho desta semana, os jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas recebem a sommelière Lis Cereja, dona do restaurante Enoteca Saint VinSaint, em São Paulo, para discutir a produção e o consumo dos vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos no Brasil.

Para os apresentadores e a convidada, a economia do país é uma das grandes barreiras que afasta a produção de vinhos naturais e orgânicos da larga escala no Brasil. Primeiro porque falta conhecimento técnico para cultivar a fruta sem uso de agrotóxicos; segundo, porque quem produz de forma "limpa" não recebe os mesmos incentivos de quem usa veneno.

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Rodrigo Barradas afirma que "o movimento de vinhos naturais começou nas adegas muito antes de chegar às videiras", ou seja, a discussão sobre uvas sem veneno e vinhos sem aditivos nasceu há mais ou menos uma década, na etapa de produção, e não no cultivo.

Naquele momento, os produtores interessados em produzir de forma orgânica perceberam a dificuldade de comprar uvas cultivadas de forma limpa, sem agrotóxicos, para fabricar suas bebidas — especialmente em regiões que não são tradicionais de cultivo de uva, como a maior parte do Brasil.

A convidada Lis Cereja, que desde 2008 comanda a Feira Naturebas, dedicada a vinhos naturais, diz que "muitas vezes, quem gosta de vinho orgânico, especialmente as pessoas mais jovens, surfa nessa onda sem lembrar que a base do movimento é agrícola" — e é na terra que as dificuldades começam.

Produzir vinho natural não é difícil. Tem que conhecer as etapas de produção, ter algum talento para isso, claro, mas é basicamente pegar a uva, esmagar e esperar fermentar. Cultivar a uva, por outro lado, não é para amadores. Demanda muito estudo e trabalho de um ano inteiro para uma única safra ao ano

Além da falta de conhecimento técnico para a produção agrícola sem agrotóxicos, o país também sofre com a falta de incentivos públicos para o cultivo limpo. Por fim, para fazer cultivo orgânico é preciso ter terra. "E quem é que tem terra hoje no Brasil?", questiona Lis Cereja.

"Pouquíssimas pessoas no Brasil têm conhecimento de solo, microbiota e clima para fazer uma agricultura orgânica, sustentável, e de agrofloresta. Falta tempo, experiência e profissionais qualificados até para o cultivo tradicional, imagine para o cultivo orgânico", fala a convidada do videocast.

"Muitos produtores orgânicos não conseguem empréstimos em bancos porque, diferente dos produtores que usam agrotóxicos, eles não têm tanta garantia de colheita", critica Lis Cereja.

No Brasil, o veneno é garantia de colheita, e isso é um absurdo

História e geografia também não ajudam

Lis Cereja conta que história e geografia brasileiras são outros dois fatores que dificultam a produção da bebida "limpa" no país.

"As uvas vieram para o Brasil trazidas pelos portugueses; não existem registros de videiras no Brasil antes disso. E, até hoje, o que entendemos como movimento de vinho natural é estrangeiro, importado — a cultura, o cultivo, a produção".

Embora se adaptem bem ao solo basileiro, as uvas não são autóctones, ou seja, não são naturais da nossa região. Isso dificulta o cultivo no solo e no clima tropical do Brasil, especialmente em pequena escala e sem uso de tecnologia industrial, o que inclui maquinário, agrotóxicos e aditivos, por exemplo.

O Brasil não é um país produtor de vinhos, a bebida não faz parte da nossa alimentação e ainda está restrita a uma elite. O cultivo é caro e não tem incentivo, porque a bebida representa menos de 1% do PIB", explica.

É fácil cultivar uva sem veneno e vender vinho natural barato na França. Aqui não

A solução para a produção de vinho natural no Brasil, acredita Lis Cereja, é apostar na produção da bebida à base de frutas naturais brasileiras, e não de uva.

"Talvez o grande movimento de vinho natural no Brasil não esteja ligado à uva, mas às várias frutas nativas que viram álcool", sugere. "Há registros na história de fermentados de caju, jabuticaba, mandioca, milho. Aí sim dá para produzir uma bebida barata e que pode ser cultivada sem veneno no Brasil".

Vamos de Vinho

O videocast apresentado pelos jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas combina conhecimento especializado e conversas descontraídas sobre vinho. Os episódios são disponibilizados todas as quintas-feiras no Canal UOL e no Youtube de Nossa. Assista ao episódio completo desta semana no topo da página.

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