Vinho que confundiu amigos custa até R$ 5.000: por que Pêra-Manca é caro?
De Nossa, em São Paulo
09/07/2024 11h28
Quatro amigos que foram jantar em um restaurante na Bahia se surpreenderam com o preço de um vinho. Eles pediram duas garrafas do português Pêra-Manca, achando que cada uma sairia por R$ 165, mas quando a conta chegou, veio o choque: R$ 1.650.
A confusão gerou risos nervosos, e a situação poderia ter mais assustadora se o vinho fosse tinto, mais caro do que o branco pedido por eles. Uma garrafa de 750 ml pode chegar a R$ 5.000, às vezes ultrapassar esse valor.
Por que tão caro?
Vinho entra na categoria de luxo. Produzido em Évora, capital de Alentejo, região sul de Portugal, o Pêra-Manca é considerado um rei entre os vinhos. É feito a partir da mistura de duas uvas, Aragonez e Trincadeira, que são fermentadas separadamente e unidas ao fim do processo.
Fabricação envolve tecnologia. As uvas são selecionadas por uma máquina com inteligência artificial que separa os cachos bons para a produção daqueles que não estão em condições favoráveis, explicou o enólogo Pedro Baptista ao Jornal da Band. Assim, é possível usar as melhores uvas que vão dar estrutura e acidez ao vinho tinto.
Armazenamento também encarece o produto. O Pêra-Manca tinto fermenta em barris de carvalho francês e depois passa mais um período em tonéis igualmente de carvalho francês, aumentando o custo. Ele também fica de cinco a seis anos na Adega Cartuxa, em Portugal, antes de ir ao mercado. É um dinheiro parado, o que encarece mais ainda. Já o branco fermenta em barris de carvalho francês e depois passa 12 meses em garrafa, por isso seu preço é menor.
A produção é limitada. Estimam-se cinco safras do vinho em uma década, por isso a garrafa é rara e pode chegar a R$ 5 mil, no caso do tinto. Além disso, ele tem um selo especial emitido pela Casa da Moeda de Portugal para garantir a autenticidade. E enquanto o tinto é produzido em anos com condições favoráveis à maturação da uva, o branco é fabricado todos os anos e em maior quantidade.
Vinho teria sido atração na chegada dos portugueses ao Brasil. Conta a história que quando Pedro Álvares Cabral partiu de Portugal para desbravar outras terras, levou consigo nas caravelas garrafas de Pêra-Manca. Ao errar a rota, atracou onde mais tarde seria o Brasil. Mas não há provas disso. A própria vinícola de onde vem as uvas do vinho trata a história como uma lenda.