Clooney e 'bom dia': o luxo nada sisudo do hotel mais antigo de Londres
Viajar com luxo hoje, mais do que nunca, é uma questão de se sentir em casa em qualquer lugar do mundo. E não é levar na mala sua rotina e conhecimentos, longe disso. É ser surpreendido por dias perfeitos e ter atendidos desejos e necessidades que você nem havia cogitado — mas alguém deu um jeito de "adivinhar".
Numa cidade como Londres, que muitos acham que conhecem mesmo sem nunca terem pisado lá, não é tão corriqueiro ver a combinação da tradição com o que existe de mais inovador e estimulante quando se fala em hospitalidade.
E é o que acontece no Brown's, o hotel mais antigo da capital inglesa aberto em 1832, e hoje pertencente à rede de luxo Rocco Forte.
Ao atravessar as portas — não sem antes aproveitar a calmaria da rua e admirar a elegante fachada no coração do elegante bairro de Mayfair — você pode ter a sorte de ser recebido pelo atentíssimo português Ivan.
Ao perceber hóspede brasileira, lança gentis "bom dia" - numa leveza que, sinto muito amigos britânicos, está mesmo nos idiomas latinos. E ainda garante que há um companheiro de idioma pronto para ajudar, caso o inglês estivesse meio enferrujado ("Só chamar, senhorita Simon").
Conforto dos detalhes
Com diárias a partir de R$ 5,6 mil até R$ 33,8 mil, o hotel oferece 115 quartos, desde acomodações clássicas até suítes especiais de máximo luxo, como a The Kipling Suite — com vista para a Albemarle Street — e a The Sir Paul Smith Suite, com decoração e design pensados pelo famoso estilista britânico.
Cada um dos cômodos recebe decoração única, em uma combinação de móveis vintage e toques mais modernos e sempre ligados à rica cultura inglesa — onde mais um verdadeiro catatau da biografia da Rainha Mãe decoraria a cômoda, por exemplo?
A cama perfeita, um closet equipado, banheiro amplo e até as janelas ajudam a dar o clima perfeito — o céu londrino, tão característico por suas fogs, de alguma forma "se dobra" e gera uma iluminação natural na medida.
Mais uma vez, há destaques humanos nesta ala mais privada do hotel: um dos maleiros é o George Clooney, acredite. Sim, esse é o nome dele.
Sentindo que esta viajante solo adora uma boa história (e vive delas, inclusive), conta que já encontrou o homônimo famoso em passagens por outros hotéis luxuosos. "Ele já me reconhece como xará", conta.
Não usou a palavra xará, obviamente, mas vocês entenderam. Mais um ponto para a hospitalidade (que, graças, se confunde com a simples gentileza de uma conversa fugaz).
Aura de quem fez história
Há muitos hotéis históricos espalhados pelo mundo, sabemos. E o Brown's pode se considerar um potente representante nesse quesito.
Foi lá, em 1876, que Alexander Graham Bell se hospedou para dar à boa nova ao governo britânico: havia inventado o telefone. E do hotel realizou a primeira ligação, para o então dono James Ford.
Também foi no Brown's que Napoleão 3° e a imperatriz Eugenie se abrigaram depois da derrota na Guerra Franco-Prussiana. Em 1886, foil á que o então presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt se hospedou antes de trocar alianças com Edith Kermit Carow. Em 1905, foi a vez de Franklin e Eleanor Roosevelt passarem sua lua de mel no Brown's.
O hotel também foi "casa" para gigantes da literatura, como Mark Twain, Agatha Christie e Stephen King.
Comer, beber e contemplar
Seja no café, almoço, jantar ou happy hour, o hotel abriga restaurante, bar e até uma sala de chá distantes da característica impessoalidade destes estabelecimentos, em que o hóspede vai somente pela comodidade de estar a um elevador de distância.
O restaurante Charlie's, por exemplo, é comandado pelo chef Adam Byatt — já estrelado Michelin por seu Trinity. No menu, tradições culinárias inglesas recebem influência francesa, italiana e espanhola sem perder a identidade.
Salada de caranguejo com remoulade, ao linguado grenobloise, finalizando com o baba au rum — evidente inspiração francesa — harmonizados com espanhol Taron Reserva Rioja Alta 2016 (recomendadíssimo pelo sommelier italiano que admite que "os espanhois também sabem o que fazem").
Poderia falar um vinho inesquecível, mas que, sim, esqueci o nome e enviei um email desesperado pela referência logo no retorno à "vida real". A resposta veio ágil e certeira, com a vontade de quem quer que você volte.
"Um cafezinho?", me pergunta o gerente assistente Gigi Cannas, da Sardenha, apaixonado pelo Rio de Janeiro. Aceito o café com a condição de que não seja "inglês". "Não se preocupe. É o melhor espresso italiano".
Para fechar a noite com chave de ouro, basta atravessar para o outro lado do corredor, para o Donovan Bar. Inspirado pelo histórico fotógrafo Sir Terence Donovan (cuja arte está espalhada pelo Charlie's e pelo bar), o bar é comandado por um dos principais nomes da coquetelaria mundial, o italiano Salvatore Calabrese.
Na noite em que a reportagem visitou a casa, o maestro não estava, mas sua carta sempre renovada estava em ótimas mãos. Em abril de 2024, era Evoke, que celebrava a trajetória de Calabrese. E hoje já é Happily Ever After, que rememora os contos de fadas em forma de drinques.
Em Londres, marca o Big Ben, sempre é hora de voltar.
*A jornalista se hospedou a convite da Rocco Forte Hotels