R$ 11 mil por um jeans? Calça-desejo é do Japão e tem versão brasileira
Há quem chore para pagar R$ 500 em uma calça da Levi's, conhecida mundialmente por seu jeans. Mas você estaria disposto a pagar quase R$ 11 mil em uma única peça de denim? Sim, isso existe e, não, esta calça não é feita de ouro.
Uma peça premium da marca japonesa Momotaro, que já foi usada por celebridades como Brad Pitt, David Beckham e Ryan Gosling, pode custar US$ 2.000.
Junto com Evisu, Pure Blue Japan e The Flat Head, a etiqueta é uma das grandes fabricantes do denim japonês, conhecido entre os fãs de jeans por sua alta durabilidade, desbotamento único e pelos preços que podem ser exorbitantes.
Mas por que as pessoas pagam tanto por uma calça feita no Japão?
Qualidade espetacular
Segundo Valeska Nakad, coordenadora do curso de moda da Faculdade Belas Artes, de São Paulo (SP), os jeans de marcas japonesas ganharam fama internacional por uma combinação de fatores históricos, culturais e de qualidade.
"Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão passou a importar jeans dos EUA, especialmente para atender os soldados americanos estacionados lá. Isso despertou um interesse local pelo denim. Na década de 1960 e 1970, o Japão começou a produzir seu próprio jeans, inicialmente copiando os estilos americanos", diz a especialista.
A estilista Mieko Cabral, professora especialista em jeans na Denim City São Paulo e criadora da marca Mieko, diz que a fama dos jeans japoneses começou a se espalhar na década de 1980, quando aficionados por denim descobriram a qualidade excepcional do produto japonês.
As marcas se destacaram por ressuscitar métodos de fabricação tradicionais que haviam sido abandonados pela produção em massa, afirma Mieko.
O tradicional e o inovador
As marcas japonesas costumam fazer o jeans do tipo selvedge. O termo vem da expressão "self-edge" (autoacabado, em uma tradução ao pé da letra), já que o tecido denim sai do tear com uma borda colorida já acabada, o que evita que ele desfie.
Segundo Valeska Nakad, esse jeans é feito em teares mais antigos, que operam em uma velocidade mais baixa. Por isso, produzem uma menor quantidade de tecido. Sem falar que muitos deles são insubstituíveis e sua manutenção é complicada. Mão de obra especializada e a confecção mais ligada aos detalhes também contribuem para que os preços sigam lá em cima.
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Quero receber"Muitos desses jeans são desenvolvidos em pequenas fábricas ou ateliês que valorizam a qualidade artesanal", diz Valeska Nakad. "Isso permite que o tecido seja feito de maneira mais densa e uniforme, o que contribui significativamente para sua durabilidade".
A borda mais resistente melhora a qualidade das laterais da peça, que são áreas sujeitas a desgaste maior.
Há, ainda, o uso de fibras de algodão de alta qualidade e de uma preciosidade: o corante índigo, que penetra mais profundamente no material.
"Embora isso não afete diretamente a durabilidade física, esse método de tingimento pode melhorar a aparência do jeans com o tempo, reduzindo a necessidade de substituição."
Em sua forma natural ou sintética, o índigo tem um desbotamento único, de maneira irregular.
"Cria um efeito de pátina que é altamente valorizado pelos entusiastas de jeans. Esse desbotamento personalizado é uma característica distintiva dos jeans de alta qualidade", afirma a especialista.
A produção de jeans selvedge costuma ser mais cuidadosa e controlada, o que garante o padrão de qualidade e menor probabilidade de defeitos. Tudo isso encarece o valor do jeans que chega ao consumidor final.
Objeto de desejo
Apesar dos métodos tradicionais, as campanhas de marketing das fabricantes japonesas são muito antenadas: elas fizeram colaborações com marcas ocidentais (a própria Levi's tem uma linha chamada Made in Japan) e lançaram edições limitadas das calças, que ajudaram a criar o desejo pelas peças das marcas, gerando um senso de exclusividade em torno dos produtos.
E o fato de artistas fashionistas como Kanye West e Pharrell Williams usarem peças feitas no Japão só impulsiona ainda mais a popularidade dessas peças.
Hoje em dia, o jeans japonês se tornou um símbolo do denim tradicional, com um público específico que busca um material de qualidade e personalidade, principalmente com o selvedge e o raw (o jeans sem lavagem, que vai tomando as características do corpo que está usando a peça). É um mundo à parte, fala Mieko Cabral.
Apesar de serem mais caras do que a maior parte das calças de denim, é possível importá-las do Japão por a partir de US$ 100 (cerca de R$ 545). Caso tenha um bom dinheiro para investir em um jeans, você pode, por exemplo, fazer calças personalizadas em lojas das marcas Nama e Betty Smith.
No Brasil, a Mieko, marca de Mieko Cabral, disponibiliza uma opção de calça jeans selvedge por R$ 400.
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