Por clima 'sexy', alguns bares nos EUA começam a banir menores de 30
Bares e restaurantes nos EUA têm causado polêmica por uma decisão surpreendente: abrir mão do público de vinte-e-poucos anos em nome de atingir uma clientela menos "bagunceira".
No início de junho, uma nova casa de alto padrão com atmosfera caribenha no subúrbio de St. Louis, no Missouri, foi parar nos principais jornais do país ao anunciar que abriria suas portas apenas a mulheres de mais de 30 anos e homens de mais de 35 anos. O objetivo? Um "clima adulto e sexy", segundo o jornal The Washington Post.
Jovens trazem "drama"
"[O restaurante] é para pessoas mais velhas que vêm e querem um happy hour, provar boa comida e não ter que se preocupar com gente jovem trazendo drama", justificou a assistente da gerência Erica Rhodes ao jornal local KSDK News, da filiada da rede NBC.
À CNN americana, o dono Marvin Pate contou que a decisão foi inspirada em suas experiências positivas em resorts apenas para adultos. Ele diz que tanto ele quanto sua esposa, Tina Pate, ambos com 42 anos, acham que há uma demanda no mercado de opções de alto padrão para pessoas de suas idades relaxarem com músicas que cresceram ouvindo.
"Por que não dar um clima de lounge de resort a um restaurante? Na maioria dos lugares pelo país, se você vai a um estabelecimento para maiores de 35 anos, é geralmente um bar com petisco frito. Pensamos no conceito de um restaurante onde, diariamente, as pessoas pudessem ter acesso a um ambiente de luxo e aproveitar uma refeição preparada de verdade", explicou.
O limite de idade dividiu opiniões na mídia e nas redes do restaurante, onde alguns clientes elogiam a atmosfera "adulta" proporcionada pela casa, enquanto outros questionam se idade é um parâmetro fiel de maturidade e até se negar a entrada do público de 20 anos realmente é necessária para atingir a sofisticação a que o Bliss se propõe.
"Restrição de idade para um restaurante é ir um pouco longe demais a não ser que seja para um bar ou espaço de evento também, na minha opinião. Se eles querem deter um público bagunceiro é melhor aumentar o preço do que a idade", sugeriu um seguidor.
Restaurante não está sozinho
Não é apenas o Bliss que restringe a idade dos clientes. Diversos restaurantes como o Victoria & Albert's no Walt Disney World já baniram crianças, uma política que também é polêmica, mas é mais comum. E o Donerick's Pub, na periferia de Columbus, no estado de Ohio, também foi parar nas manchetes no último mês por implementar um limite mínimo de 30 anos para a entrada dos clientes às sextas e aos sábados.
A justificativa neste caso, segundo a equipe da casa, seriam "razões de segurança" graças a um aumento da clientela aos fins de semana. E decisões como esta se baseiam em raros, mas muito mais antigos, casos de sucesso. Desde 1993, funciona no Upper East Side de Nova York o The Action House, um bar apenas para quem tem mais de 25 anos.
O objetivo, na época, era espantar a clientela "de camisa xadrez amarrada na cintura, boné na cabeça e cerveja na mão", explicou o dono Johnny B. Barounis à rede CNN. "Não preciso de alguém de 21 anos aparecendo com dois amigos, fazendo confusão e vomitando no banheiro", reclamou. A decisão foi refletida na atmosfera que cultivou, com cortinas de veludo e lustres de cristal.
A estratégia deu tão certo que o bar se tornou um dos mais tradicionais da cidade e ele acabou implementando a mesma política em outra de suas casas: The Back Room, um estabelecimento com ares de taverna, apresentações de jazz e shows burlescos.
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Quero receberDois pesos e duas medidas para mulheres
Há outro aspecto deste tipo de decisão que incomoda possíveis clientes: nem sempre a idade mínima é a mesma para homens e mulheres, como é o caso do Bliss.
Marvin Pate alegou à rede americana que planejava, inicialmente, impor o limite de 35 anos tanto para homens quanto para mulheres, mas que teria diminuído o limite para elas para 30 anos com o objetivo de atender a grupos que saem para curtir "a noite das mulheres" — reunião das jovens profissionais que se reunem com amigas para o happy hour.
O advogado Trey Lindley, da firma de direito empresarial Lord & Lindley da Carolina do Norte, disse à CNN que impor limites de idade não é considerado discriminação segundo as leis americanas. Além disso, estabelecimentos têm o direito de definir os parâmetros de seu serviço, como em casos em que se exige o uso de calças compridas ou se proíba chinelos.
"Acredito que a maior preocupação para restaurantes que querem adotar [essas políticas] é a potencial repercussão", nota. É ilegal, contudo, discriminar por raça, nacionalidade ou deficiência. A discrepância dos limites de idade por gênero no serviço não é bem definida por lei, mas também pode render ação judicial, segundo Lindley.
Limites de idade serão tendência?
Excluir a clientela de vinte-e-poucos é uma aposta arriscada, já que bares e restaurantes podem perder uma fatia do mercado que costuma gastar mais em drinques e comida. "Você está falando daquela janela apertada com jovens profissionais que você basicamente irá eliminar, que estão dispostos a pagar por experiências", argumentou o presidente da consultoria de restaurantes JK Consulting, Jason Kaplan, à CNN.
Há quem argumente que há um efeito positivo na imposição de uma idade mínima de 30 anos: atrair do sofá de casa uma clientela que nem sempre se sente contemplada pelos bares lotados por um público mais jovem. Jordan Johnson, ou o DJ Durrty Burrd, toca no restaurante Bliss às quartas e relatou ao The Washington Post que o local têm atraído quem goste de artistas como Usher, Tevin Campbell e Bobby Brown, mais "old school".
"Não há um problema com os mais jovens. Mas [o limite] proporciona um ambiente para nós em que podemos estar rodeados de pessoas de mentalidade semelhante e que têm a mesma energia", opina. Eddie Fahmy, presidente da consultoria A2Z Restaurant Consulting, oferece como solução um meio-termo: impor limites em dias determinados, mas não proibir a entrada dos mais jovens totalmente.
"Se você tem um restaurante e quer fazer dinheiro vendendo comida e servindo aos clientes, esta política não faz sentido", acredita. Toya Taylor, dona do restaurante Horizons & More, que serve apenas aos maiores de 30 em San Antonio, no Texas, confessou à CNN que sabe que perde alguns clientes por limitar o acesso à casa, mas ela acredita que a opção por um público mais velho diminui seus riscos e responsabilidades legais.
"Os lugares que estão começando a implementá-las vão ver bons resultados, especialmente se se comprometerem com os limites", prometeu. É pagar — ou não — para ver.
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