'Torre da Amargura' e mais arranha-céus abandonados e macabros pelo mundo
Colaboração para Nossa
20/07/2024 04h15
Guerras e crises financeiras mundo afora já tornaram sonhos de torres nababescas em estruturas fantasmagóricas que contam histórias de conflitos dolorosos, decadência, revolta e até mistérios em metrópoles como Bagdá, Los Angeles, Beirute e Bangcoc.
Hoje, algumas destas paisagens equilibram-se entre o silêncio dos arranha-céus inocupados com o ruído do grafite, ervas daninhas e fachadas destruídas pela rejeição de suas populações locais.
Conheça sete casos destes prédios curiosos selecionados pela revista americana Architectural Digest:
1. Sterick Building, em Memphis, nos EUA
Com 111 metros de altura, o Sterick Building é uma torre de 1930 em estilo revival gótico que já foi considerada a mais alta do Sul dos Estados Unidos. De acordo com o jornal alternativo Memphis Flyer, a antiga "Rainha de Memphis", como o prédio era chamado, já possuiu um pináculo em pedra branca, telhado com azulejos verdes e oferecia o próprio banco, farmácia, barbearia e salão de cabeleireiro aos inquilinos, a sua maioria, escritórios de corretores da bolsa de valores.
O lobby teria tido no passado "a beleza de um castelo mouro", além de oito elevadores de alta velocidade que levavam também a um restaurante na cobertura.
No entanto, nos anos 60 e 70 o prédio passou a perder ocupantes para outros mais modernos, que não passavam pelos mesmos perrengues — de cabos de elevadores problemáticos a bombas de água defeituosas — que o Sterick, cujos proprietários enfrentavam dificuldades financeiras para realizar manutenções. O prédio foi vendido algumas vezes e, nos anos 80, já estava vazio.
Em 2023, ele foi comprado por uma empreiteira local, a Constellation Properties, que anunciou à imprensa local planos de reformá-lo. Resta aguardar para ver se o projeto sai do papel.
2. Burj el Murr, em Beirute, no Líbano
Em Beirute, o Burj el Murr é conhecido como a "Torre da Amargura", segundo a AD. Inacabado, ele é um lembrete constante da Guerra Civil Libanesa, que começou em 1975 e impediu a finalização da construção.
Durante o conflito, atiradores de elite usavam o prédio como ponto de reconhecimento e tiro aos seus alvos, o que o tornou um símbolo visual da divisão entre Beirute Ocidental e Oriental. Até hoje, segue vazio e incompleto.
3. Goldin Finance 117, em Tianjin, na China
Em 2015, o Golding Finance 117 alcançou o seu ponto máximo, 597 metros de altura, o que o teria tornado na época o quinto prédio mais alto do mundo se tivesse sido finalizado. Mas a obra, que começou em 2008, até hoje não acabou. Com previsão inicial de inauguração em 2014, o edifício de 128 andares já foi paralisado e retomado, mas as dificuldades financeiras reajustaram este prazo inicialmente para 2018/2019 e, agora, indefinidamente.
Em 2021, as autoridades chinesas — que enfrentam uma epidemia de projetos ambiciosos que nunca chegam ao fim — decidiram limitar a possibilidade de outro Goldin Finance na paisagem: prédios de mais de 500 metros não podem mais ser construídos no futuro próximo, de acordo com reportagem da BBC.
4. Sathorn Unique Tower, em Bangcoc, na Tailândia
Popular hoje entre os chamados exploradores urbanos, a Sathorn Unique Tower é o mais famoso arranha-céu abandonado de Bangcoc. Iniciada em 1990, a obra foi interrompida pela Crise dos "Tigres Asiáticos" de 1997. Mas outros escândalos envolvem o endereço como, por exemplo, a prisão do arquiteto do prédio, Rangsan Torsuwan, em 1993 por suposto envolvimento em um plano para assassinar o presidente da Suprema Corte do país, Pramsan Chansue, segundo informações da AD e do tabloide britânico The Sun.
Como Torsuwan seria absolvido apenas em 2010, coube ao seu filho Pansit tocar o projeto. No entanto, sem seu arquiteto estelar e com a crise financeira, ficou difícil encontrar investidores. Desde então, ela é conhecida como "Torre Fantasma" e possui um histórico macabro: um homem sueco foi encontrado enforcado no seu 43º andar em dezembro de 2014. Em 2017, o filme de horror tailandês "The Promise" chegou a ser filmado lá. Reza ainda a lenda urbana que o prédio é mal-assombrado porque foi construído sobre um antigo cemitério.
5. Ryugyong Hotel, em Pyongyang, na Coreia do Norte
Conhecido como o "Hotel Condenado", o Ryugyong é uma pirâmide de 105 andares e quase 330 metros de altura que se destaca no horizonte do Pyongyang e, inicialmente, seria um símbolo de modernidade — criado não só para ser o mais alto hotel do mundo, à época, mas também para comemorar o 80º aniversário do presidente Kim II Sung em 1992, segundo a CNN americana.
No entanto, apesar de ter chegado à sua altura desejada, ele nunca foi finalizado por dentro. A obra foi paralisada em 1992 devido à crise financeira que atingiu o país após a dissolução da União Soviética. Segundo a BBC, a Câmara de Comércio Europeia no país inspecionou a obra no fim dos anos 90 e constatou que havia danos irreparáveis à estrutura de concreto e que o alinhamento dos poços dos elevadores seria torto.
Em 2008, a construção foi retomada e, em 2012, sua fachada foi finalizada. Em 2013, no entanto, os planos foram suspensos novamente. Desde 2016, há relatos na mídia coreana e internacional de obras pontuais no local, sendo o último de 2023. Resta aguardar para ver se ele algum dia finalmente abrirá as portas.
6. Turkish Restaurant Hotel, em Bagdá, no Iraque
Conhecido apenas como "Turkish Restaurant" (ou 'restaurante turco', por causa de um estabelecimento que costumava funcionar no local), o hotel ainda em obras foi bombardeado durante a invasão americana ao Iraque em 2003.
Desocupado por anos, ele foi tomado por protestos em 2019, quando se tornou o "QG" de opositores do governo iraquiano, que fazem manifestações contra a corrupção, o desemprego e o que consideram ser a má administração do país e seus serviços públicos, segundo a rede Al Jazeera.
7. Oceanwide Plaza, em Los Angeles, nos EUA
O centro de Los Angeles possui não um, mas três arranha-céus que formam um complexo abandonado na Oceanwide Plaza — e se tornaram atrações turísticas, segundo reportagem da NBC News.
Iniciado em 2015, o condomínio de luxo de US$ 1 bilhão deveria oferecer 500 apartamentos de alto padrão, um hotel cinco estrelas, lojas, restaurantes e um parque particular de 0,8 hectare, mas a empreiteira Oceanwide (que contava com investimentos chineses) acabou sem fundos em 2019, segundo a CNN americana, e o projeto ficou abandonado.
Hoje, ele é uma instalação de arte a céu aberto, graças aos grafites realizados no prédio por artistas ousados que invadem o local — uma dor de cabeça constante para a polícia de Los Angeles.