Aperto: Ilha mais lotada do mundo, na África, tem um morador a cada 2 m²
A ilha Migingo atualmente é o "pomo da discórdia" da África: a pequena ilha de pouco menos de dois mil metros quadrados localizada no lado nordeste do Lago Vitória se tornou motivo de disputa territorial entre Uganda e Quênia.
Mas outro motivo a torna ainda mais interessante. Em 2009, Migingo tinha apenas 131 habitantes segundo o censo local. Em 2024, estima-se que haja mais de mil moradores ali, segundo os jornais britânicos The Independent e Daily Mail. Para desvendar por que ela virou um imã no continente, o documentarista Joe Hattab, de Dubai, visitou o local e compartilhou recentemente os registros de suas descobertas no YouTube.
"Migingo é uma das ilhas mais densamente povoadas do mundo. Sua área não é maior que a metade de um campo de futebol", descreve o cineasta em seu canal. Ela ainda é comparada a uma tartaruga gigante com casco de armadura porque os tetos metálicos das casas improvisadas são tão apertadas que formam uma "carapaça" única.
Para chegar lá e passar uma noite com os residentes, Joe encarou uma longa jornada, que começou com um voo até Nairóbi, no Quênia. De lá, ele partiu de carro por um trajeto de seis horas até Kisumu, uma cidadezinha às margens do Lago Vitória.
Ao se aproximar de Migingo, ele relatou que a ilha "mais parecia uma miragem", mas demonstrou insegurança ao subir a bordo do barco que o levaria até lá — já que não sabia se aguentaria as enormes ondas. Ao anoitecer, o documentarista finalmente chegou em Migingo, mas teve primeiro que fazer uma parada em uma das ilhas vizinhas e pagar uma taxa de US$ 250 (R$ 1.312,70) para ter o direito a entrar lá.
De acordo com o Mail, a medida foi implementada para combater a prática da pirataria na costa. No entanto, a atmosfera taciturna de seus primeiros momentos se dissipou ao desembarcar, quando Joe encontrou um clima de festa na ilha com música tocando, moradores jogando sinuca e o cheiro de comida frita no ar.
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Quero receberApesar da "batalha" territorial que já dura décadas, ugandenses e quenianos se divertem juntos em Migingo. Em um pequeno mercado que vende bebidas alcoólicas e não alcoólicas, ele encontra o vendedor fazendo as vezes de DJ. Nas ruas, os residentes cozinham juntos peixes e batatas, o prato mais popular do local.
Durante a experiência, o documentarista seguiu com seu guia para a casa de um pescador que estaria "pendurada" sobre as águas — depois de passar a noite, ele reclamou que o barulho das ondas era muito forte. Na manhã seguinte, ele foi à costa se banhar e descobriu uma ordem curiosa: um lado de Migingo é usado para a higiene pessoal dos homens, enquanto o outro é das mulheres.
Antes de partir, Joe recebeu uma surpresa desagradável: o barco com que vieram para a ilhota desapareceu durante a noite e teve que prestar queixa às autoridades. Depois de observar os pescadores em ação, ele acaba partindo de Migingo de carona em outra embarcação.
Por que a disputa pela 'ilha do aperto'?
Um dos motivos que tornam Migingo tão atraente tanto para Uganda quanto Quênia são suas águas abundantes em perca-do-Nilo, um pescado que pode atingir até dois metros de comprimento e é economicamente muito importante para a economia do leste da África — rendendo milhões de dólares em exportações.
A área também é um "buraco negro" em termos de burocracia e legislação, o que facilita a entrada e saída de pessoas — não há visto exigido — e o comércio. A situação ainda é agravada pelo fato de que o Lago Vitória, o maior de todo o continente, já não possui a abundância de peixes de seu passado, o que já levou o governo queniano a ameaçar ocupar militarmente a ilhota para defendê-la dos ugandenses.
Segundo dados do grupo de preservação WWF divulgados ao Daily Mail, 80% das espécies nativas do lago desapareceram dali nas últimas quatro décadas. Assim, a popularidade de Migingo só cresce; como o local é remoto, seu estoque de peixes foi conservado. Por isso, nos últimos 15 anos, residentes dos dois países vizinhos e até da Tanzânia migraram em busca de subsistência.
Cada vez mais raro, o quilo de perca-do-Nilo também fica cada vez mais caro: "houve um aumento de cerca de 50% dos últimos anos e está estimado em US$ 300/kg (R$ 1.575/kg) em mercados internacionais", de acordo com Joe Hattab. Por isso, o aperto em Migingo pode piorar em um futuro não tão distante.
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