Cappuccino à tarde, bolonhesa nem pensar: chefs revelam 'pecados' na Itália

Sabia que, para tomar um cappuccino na Itália, tem hora certa? Que alguns pratos italianos amados pelo mundo todo na verdade são "fake"?

Para quem pretende visitar a Itália um dia, o chef-executivo do Grand Hotel Villa Serbelloni, no Lago de Como, Ettore Bocchia; o chef italiano do restaurante Archway de Londres, Lorenzo Nigro; e as "mammas" do restaurante italiano londrino La Mia Mamma revelaram ao jornal britânico Daily Mail dicas preciosas para evitar erros e ter a melhor e mais autêntica experiência de viagem na Itália. Conheça-as:

1. Tomar um cappuccino na hora errada

A combinação de café com leite espumado tem identidade polêmica. Há quem diga que ela teria nascido no início dos anos 1900 na Itália com o advento da máquina de espresso, outros atribuem a ideia aos vienenses que teriam começado a beber o Kapuziner ainda no século 18, segundo a Enciclopaedia Britannica. A receita austríaca, no entanto, era servida como café com chantili e especiarias, de acordo com pesquisas dos historiadores Robert W. Thurston, Jonathan Morries e do empresário do café Shawn Steiman.

Documentações eclesiásticas da segunda metade do século 19, hoje no acervo da Universidade Harvard, nos EUA, já citam a receita italiana como a conhecemos hoje. Lá também está a origem do apelido: o cappuccino lembra em cores os trajes dos frades capuchinhos.

Com tanto mistério por trás de um simples cafezinho, não deve surpreender a ninguém que os italianos levem a sério também os rituais para saboreá-lo: "Um dos grandes erros é pedir um cappuccino depois de uma refeição ou à tarde. Italianos tipicamente só bebem cappuccino no café da manhã", ensina Ettore. Ou seja, durante a tarde, é melhor pedir por outros cafés do menu se quiser uma experiência autenticamente italiana.

Cappuccino: só de manhã na Itália
Cappuccino: só de manhã na Itália Imagem: Getty Images

2. Pedir espaguete à bolonhesa

Apesar de ser um prato extremamente popular em outras partes do mundo, o espaguete à bolonhesa não tem espaço na mesa do italiano.

"Turistas às vezes esperam certos pratos, como espaguete à bolonhesa ou espaguete com almôndegas [no cardápio] que não são comumente encontrados na cozinha autêntica italiana. A gente simplesmente não come esta combinação de comida. Para o molho bolonhesa, usamos outros tipos de massas, principalmente aquelas à base de ovos, como tortellini, ravioli, cannelloni, lasanha e outras da família dos tagliatelle", ensina ainda Ettore.

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"Na Itália, comemos espaguete como um primeiro prato e as almôndegas como prato principal — mas não juntos — esta é mais uma coisa dos ítalo-americanos." Ou seja, foram os imigrantes que inventaram esta moda e é melhor curtir seu molho bolonhesa com a massa da casa.

3. Comer o espaguete com os talheres errados

"Se você pedir espaguete — definitivamente, nunca coma com uma colher", alerta Ettore. Para evitar uma gafe, portanto, é melhor se ater ao garfo.

Nada de bacon ou pancetta no carbonara verdadeiro
Nada de bacon ou pancetta no carbonara verdadeiro Imagem: Nata Bene/Getty Images/iStockphoto

4. Não prestar atenção no seu carbonara

Apesar de ser um favorito polêmico entre os locais, os descendentes de imigrantes italianos e, especialmente, dos turistas, é muito comum por lá que os restaurantes errem (ou adaptem para baratear) a receita original do espaguete à carbonara, avisam as "mammas" italianas. O prato autêntico conta com molho com queijo pecorino — e não parmesão — e guanciale (a bochecha do porco) em vez de pancetta (a barriga do animal). Portanto, preste atenção no cardápio antes de pedir, para garantir que provará o verdadeiro carbonara na Itália.

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"Não precisa nem dizer: não [leva] creme de leite, frango ou cogumelos", lembram as mammas.

5. Exagerar nos temperos e molhos

Turistas curiosos podem até se orgulhar de escolher pratos elaborados nos cardápios enquanto de férias, mas é bastante improvável que estas sejam as receitas mais tradicionais para ter uma experiência de como é viver e comer na Itália.

Ettore garantiu ao Mail que os chefs italianos nunca "adicionam muitos temperos ou coberturas às suas massas e pizzas". "Nós apreciamos o sabor natural dos ingredientes. Então, quanto mais simples, melhor".

As "mammas" ouvidas pelo jornal concordaram. "Amamos saladas, mas um restaurante autenticamente italiano usaria uma seleção boa de vegetais, que não precisariam de muitos molhos e cremes, porque você não quer 'esconder' a qualidade incrível de um tomate fresco. Azeite extravirgem e um pouco de sal é mais do que suficiente. Menos é mais, sempre!".

6. Pedir salada (Caesar) como entrada ou aperitivo

A salada Caesar é patenteada como criação do chef italiano Caesar Cardini, mas ela foi inventada por ele no México na década de 1920. Ou seja, não existe na Itália.

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Além de não procurar pela salada mexicana, o turista deve ajustar suas expectativas. "Para nós, saladas são apenas um acompanhamento ao prato principal", explica. Ou seja, não são servidas saladas como entradas ou aperitivos.

Caffé degli Specchi, o mais famoso café de Trieste: nada de pedir saladinha ou pãozinho com azeite para abrir os trabalhos
Caffé degli Specchi, o mais famoso café de Trieste: nada de pedir saladinha ou pãozinho com azeite para abrir os trabalhos Imagem: Emmeci74/Getty Images

7. Comer pão com azeite e vinagre

Se você é daqueles que ama comer um pãozinho encharcado com azeite e vinagre antes do prato principal, pode se decepcionar. "Não é o jeito italiano", avisam as mammas. Os restaurantes costumam receber os clientes com um cestinho de pão e grissini (aqueles palitinhos de massas crocantes), apenas.

8. Pedir pão de alho

Pão de alho também não é parte do couvert comum do italiano. "Muitos turistas acreditam que receitas como pão de alho são criações autenticamente italianas, mas estas são na maioria criações dos ítalo-americanos", lembra Ettore. As mammas confirmam: você não vai achar o pão de alho em um restaurante tradicional italiano.

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Ou seja, se você sentar para comer em uma casa e houver pão de alho entre as entradas, é provável que seja um estabelecimento apenas para turista.

9. Pedir pizza de pepperoni

As mammas aconselham a "fugir" de pizzarias que têm "pizza de pepperoni" no menu — isto é, se você quer comer em uma autêntica pizzaria italiana.

É que a tradicional pizza com salame levemente picante é chamada de "diavola" por lá e aqueles que a chamam por outro nome geralmente estão adaptando sabores, receitas, costumes e até nomenclaturas ao gosto do turista.

Não peça "pizza de pepperoni", mas a autêntica "Diavola"
Não peça "pizza de pepperoni", mas a autêntica "Diavola" Imagem: Getty Images/iStockphoto

10. Comer fettuccine Alfredo

O pior erro pode ser este, segundo os chefs: pedir fettuccine Alfredo, o que já garante uns olhares "tortos" de garçons, chefs e moradores.

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"Antes de me mudar para Londres, eu nunca nem havia ouvido falar deste prato na Itália", relatou Lorenzo. Ou seja, a receita de molho branco com creme de leite, manteiga e queijo tipo parmesão não é local.

"[Alfredo] não seria algo comido por italianos, que evitam "pratos de massas exageradas com molhos pesados no creme de leite", disse Ettore à publicação.

11. Escolher um restaurante que fica aberto o dia todo

Um restaurante que "serve aos locais deve ter uma pausa [no serviço] entre o almoço e o jantar", explicam as mammas. Se você esbarra em um restaurante que fica aberto o dia todo, é provavelmente focado em turistas, o que pode significar preços mais salgados e pratos pouco autênticos.

12. Ou optar por um que tenha cardápios em várias línguas

Outro sinal de que a casa não é assim tão apreciada pelo público local está no menu. Se você vir pratos traduzidos para o inglês no cardápio, ou com explicações em múltiplas línguas, é provável que seja "uma armadilha para turistas", segundo o jornal Daily Mail. As mammas recomendaram pular especialmente aqueles que têm diversas traduções.

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Também há outros segredos escondidos no menu. "Escolha um lugar com um cardápio pequeno em vez daquele com um grande número de receitas diferentes — qualidade é melhor que quantidade", ensinam.

O molho Alfredo só pode ser provado nos EUA mesmo, a sua terra natal
O molho Alfredo só pode ser provado nos EUA mesmo, a sua terra natal Imagem: Getty Images/iStockphoto

13. Pedir pratos com muitos ingredientes

Aqui vale a mesma regra das saladas: a comida deve ser simples. "Muitos ingredientes em uma receita — quanto mais, menos autêntico o prato é. Novamente, na Itália, amamos enfatizar a alta qualidade dos ingredientes", garantem as mammas.

14. Escolher uma casa com muitos garçons do lado de fora

Se você notar muita gente na porta tentando fazer os clientes entrarem, é provavelmente uma dessas armadilhas para turistas. "Restaurantes autênticos não têm 'buttadentro' [vendedores na porta] para convencer os turistas", criticaram as mammas ao Mail.

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"Turistas nem sempre escolhem o lugar certo para comer, mas seguem tendências ou o lugar com a maior fila. Os lugares com a melhor comida serão os intimistas, que são pouco notados", instruiu Lorenzo. Duvida? A Itália tem um restaurante que serve apenas duas pessoas por vez.

15. Não pedir por um prato regional durante sua estadia

Como é fácil de entender pelos itens anteriores, deixar de pedir um prato que os moradores gostam muito ou que celebra a história e as tradições da região que se visita é um desperdício. "Nós, como italianos, iríamos às casas que mencionam a comida regional", ensina Lorenzo.

"Sempre prefira aqueles [com ingredientes] produzidos na própria região e prove tantos pratos quanto puder", recomenda.

Cafés na Piazza San Marco em Veneza: Locais movimentados, filas na porta ou sucesso nas redes nem sempre se traduz em bom serviço
Cafés na Piazza San Marco em Veneza: Locais movimentados, filas na porta ou sucesso nas redes nem sempre se traduz em bom serviço Imagem: Cisko66/Creative Commons

16. Escolher restaurantes pelas redes sociais

Sabe aquele lugar que está fazendo o maior sucesso no TikTok e no Instagram? Nem sempre é a melhor sugestão. Lembra o que o chef Lorenzo falou sobre tendências?

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Mas isso não quer dizer que as redes não possam funcionar como uma boa fonte de informações. Ettore recomenda pesquisar grupos no Facebook por sugestões de locais, ou pedir dicas ao concierge do seu hotel, além de visitar o aplicativo "Conosco un posto" por indicações de um blogueiro gastronômico italiano.

17. Não pesquisar nada sobre a história do lugar

E saber o que se busca também é essencial. "Como italiano, se quisesse encontrar bons restaurantes, eu procuraria no Instagram por 'ristorante' junto com o nome da cidade 'Milano'", ensina o chef Ettore. Ou seja, pesquise em italiano, em vez de pesquisar em inglês ou em português, para evitar cair exclusivamente nas indicações dos turistas.

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