Palácio que já desbancou o Louvre hoje encanta turistas (e Emily) em Paris
Hoje ele se chama Palais Royal e seus jardins são um refúgio da correria metropolitana — que, na região, adquire a forma de turba de turistas. Afinal ele fica logo atrás do Louvre.
Mas, no princípio, o lugar se chamava Palais Cardinal. Isso porque o palácio, concluído em 1639, era a residência oficial do cardeal Richelieu, o homem que ajudou a consolidar a França como uma monarquia absolutista e centralizadora. Nesse país em que a nobreza e o catolicismo mandavam e desmandavam, Richelieu só não era mais poderoso que o próprio rei, Luís 13.
O pequeno Luís subiu ao trono pouco antes de completar 9 anos, após seu pai, Henrique 4, ter sido assassinado, em 1610. Sua mãe, Maria de Médici, foi rainha regente, e boa parte dessa infância turbulenta foi passada no Palácio do Louvre, então residência real (mas um já reconhecido repositório de arte).
Quando o Palais Cardinal ficou pronto, Luís 13 já era um senhor de 38 anos e passava mais tempo em outros palácios. Não por muito tempo, porque ele morreu em 1643, aos 41 anos, pouco depois do próprio cardeal.
Ana da Áustria, a nova regente, viúva de Luís 13 e mãe de Luís 14, decidiu ocupar o esvaziado palácio de Richelieu. Ela queria novos ares, deixar o Louvre para trás. "Para dizer a verdade, ela jamais suportou essa austera cidadela, suas salas frias, seus corredores escuros nos quais havia tantas correntes de ar. Para ela, o Louvre era a tristeza, o marasmo, a morte", conta Lorànt Deutsch no livro "Próxima Estação, Paris" (Editora Paz & Terra).
A partir de então, o edifício passou a ser conhecido como Palais Royal. Mesmo que nenhum outro monarca, além de Luís 14, e somente na infância, tenha vivido lá.
Os jardins
O próprio Richelieu tratou de tirar do papel a primeira versão dos jardins do palácio. Em 1633, ele conseguiu uma autorização para ultrapassar os limites da obsoleta muralha medieval de Paris, contam Guy Lambert, Dominique Massounie e Jean-Christophe Ballot em "Le Palais-Royal". Assim, ele se tornou o terceiro maior jardim da capital, atrás das Tulherias e do Jardim de Luxemburgo.
O palácio seguiu se adaptando conforme os ventos sopravam em Paris, como é de se esperar. Bastante remodelado, foi palco de bailes da corte, mas hoje é um símbolo republicano, pois é onde ficam o Conselho de Estado e o Ministério da Cultura. Os jardins, desde o século 18, são um termômetro social da cidade. As galerias alinhadas em volta fizeram do jardim o lugar mais agradável de Paris naquela época, conta Deutsch.
É também do século 18 o teatro do Palais-Royal, que fecha os jardins e é considerado um dos mais belos de Paris. "É um dos poucos lugares onde visitantes e moradores se misturam de maneira orgânica e curtem o jardim e sua atmosfera relaxante", diz a guia de turismo Charlotte de Charentenay, do site "Secret Journeys Paris".
Por isso que, uma vez em Paris, Emily não deixou de conhecer os jardins do Palais Royal. Mas, antigamente, o público já foi muito mais diversificado do que aquela cidade praticamente cenográfica que a série da Netflix mostra. Outra produção recente com cenas no local é "Missão Impossível: Efeito Fallout".
Era uma cidade muito mais "vida real" do que a de "Emily em Paris". No começo do século 19, revolucionários se reuniam às sombras das árvores, enquanto um florescente comércio se desenvolvia de dia, deixando a noite para os bares e restaurantes que ficaram conhecidos como antros de jogatina e prostituição.
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BARES E RESTAURANTES
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Quero receberAlgumas lojas, inclusive, estão em funcionamento até hoje. Caso da butique de roupas vintage de luxo Didier Ludot e da Bacqueville, aberta em 1790 e especializada em medalhas, distintivos, presilhas, fitas e todo tipo de condecorações, militares e civis.
"Você está no centro de Paris, mas de alguma forma ele ainda é um segredo bem guardado", explica Charentenay. Vai ver é por isso que Napoleão ia lá se encontrar com a amante. Nada mal.
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