Com gás, salgada e portuguesa, água das pedras já foi a melhor do mundo

Apesar de Portugal e Brasil, teoricamente, falarem a mesma língua, há algumas diferenças idiomáticas, incluindo palavras e expressões, que mostram bem que há um oceano separando os dois países.

Ao visitar uma cidade portuguesa, é comum ouvir algum local pedindo "água das pedras". O termo é usado pelos portugueses parece se referir à água com gás. Porém, se um turista desavisado fizer o pedido pode ter uma surpresa: em vez da água com gás comum, sem nenhum sabor, pode receber uma bebida gaseificada levemente salgada.

A água das pedras é pouco conhecida em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. Nos últimos meses, ela tem se tornado mais comum no país em lojas especializadas em produtos internacionais e em restaurantes portugueses como A Tasca da Esquina, de Vítor Sobral. Porém, em Portugal, a bebida faz parte do cotidiano dos locais há pelo menos 150 anos.

A das Pedras é uma água naturalmente gaseificada. Ou seja, brota do solo já com dióxido de carbono dissolvido. São conhecidas pelo menos oito nascentes de águas das pedras salgadas, localizadas principalmente na região norte de Portugal.

Melhor água do mundo

E a história de seu consumo se confunde com a trajetória do próprio país: há relatos de que o descobrimento das nascentes das águas das pedras foi na época em que a região era ocupada pelo Império Romano. Na Idade Média, moradores locais bebiam a água diretamente das fontes enquanto trabalhavam nos bosques e nas colheitas de uvas para a confecção de vinho.

Campanha antiga da Água das Pedras
Campanha antiga da Água das Pedras Imagem: Reprodução/Instagram

A exemplo da Coca-cola, o consumo amplo da água das pedras, no século 19, foi como um medicamento. A exploração oficial das nascentes começou quando, em 1871, o médico José Júlio Rodrigues divulgou as propriedades medicinais das águas das pedras. Ainda assim, na época, ela era consumida mais para fins terapêuticos do que para a degustação.

Dois anos depois, a bebida foi apresentada na Exposição Internacional de Viena de Áustria, onde ganhou o prêmio de melhor água do mundo.

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Em 1879, foi criada as Termas de Pedras Salgadas, localizada na região de Bornes Aguiar, cuja altitude cria um microclima que faz brotar "água com vida". Dona Maria Pia, o rei Dom Fernando e Dom Carlos foram alguns visitantes ilustres do destino de férias, bastante popular na monarquia portuguesa.

"Só em 1893 são criadas as infraestruturas para o engarrafamento e distribuição da água por todo o país", diz a Super Bock Group, desde 2002 detentora da marca Água das Pedras, o principal rótulo de água naturalmente gaseificada e levemente salgada.

Jogada de marketing

Água das Pedras
Água das Pedras Imagem: Reprodução/Instagram

Por fim, "água das pedras" tornou-se a designação utilizada pelos portugueses para se referir a qualquer água com gás. "O que demonstra a tradição e a notoriedade que a marca conserva no mercado nacional de bebidas", afirma o grupo.

A associação foi criada por um trabalho de marketing que começou nos anos 1960, que apelava à degustação da água naturalmente gaseificada.

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A mudança no hábito de consumo da bebida é algo mais recente: a partir dos anos 2010, a marca investiu em uma comunicação que incentivava a degustação da iguaria, que normalmente era aproveitada por quem estivesse com algum problema estomacal. A estratégia deu certo e, atualmente, a água das pedras é mais uma opção de bebida gaseificada para acompanhar as refeições e o café da tarde.

A bebida ficou popular há 150 anos e é amplamente consumida pelos portugueses há pelo menos 130 anos. Então como ela não é mais conhecida fora de Portugal?

Talvez por seu gosto peculiar, com o qual é preciso acostumar o paladar, mas também por ser uma água natural e, consequentemente, um recurso esgotável. Assim, a exploração é feita com parcimônia. Porém, de acordo com a fonte oficial da Super Bock Group, a água das pedras do conglomerado é exportada para pelo menos 20 países da Europa e da América do Sul, incluindo o Brasil.

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