Entre Alpes e aliens, a cidade mais antiga da Suíça é um museu a céu aberto
Mari Campos
Colaboração para Nossa
29/08/2024 05h30
Alpes a perder de vista, vales e vinhedos nos arredores. Vielas sinuosas, edifícios históricos, boutiques, restaurantes, bares, museus e galerias no centro antigo bem preservado. A atmosfera meio mediterrânea, meio alpina dá o tom na pequena Chur, a cidade mais antiga da Suíça.
Com heranças que remontam a domínios celtas e romanos, Chur — também chamada em português de Coira — foi desde sempre uma importante porta de entrada para rotas comerciais e, posteriormente, estações de esqui alpinas. Achados históricos documentam mais de 5 mil anos de história local, com reminiscências bem preservadas que vão da Idade da Pedra ao período romano.
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A cidade onde ainda sobrevive o idioma romanche (falado por 1% da população suíça) é um pequeno museu a céu aberto.
Parte das míticas rotas do Glacier Express e do Bernina Express, os dois mais famosos trens panorâmicos da Suíça (a cidade é a sede da ferrovia Rhaetian, tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco), a paisagem central de Chur é marcada pela beleza alpina e pela imponente catedral em estilo românico, construída há 800 anos.
A catedral de Chur, dedicada à Assunção da Virgem Maria e restaurada no começo deste século, é considerada um dos monumentos culturais mais importantes da Suíça, com direito a um altar-mor gótico, três naves, colunas com bases áticas e capitéis florais — além de uma imensa janela em arco no eixo central.
O Bispado de Coira, estabelecido pela primeira vez em 451 d.C, teve posição bastante importante durante toda a idade média — e o Palácio Bispal, na vizinhança da Catedral, ainda é uma das principais atrações da cidade.
Hoje, a capital do Cantão dos Grisões tem pouco mais de 40 mil habitantes mas inúmeras atrações para viajantes. A estação de trens está convenientemente adjacente à região central, fazendo com que a maioria dos turistas possa simplesmente caminhar apenas algumas quadras dali até o seu hotel.
Da estação, partem diversos trens ao longo do dia com destino a quase 30 resorts dos arredores, a maioria a menos de uma hora de distância — como Arosa, Davos, Lenzerheide ou o desfiladeiro do Reno entre Ilanz e Reichenau. As montanhas mais próximas, Brambrüesch e Dreibündenstein, são acessíveis por um teleférico a partir do próprio centro da cidade.
Reconstruída diversas vezes
Escavações arqueológicas mostraram os primeiros achados de Chur ainda do Paleolítico. E seus primeiros registros de colonização datam de cerca de 11.000 a.C.
O Welschdörfli é um antigo distrito da cidade onde foram descobertos assentamentos pré-históricos e reminiscências de uma estação rodoviária romana. Parte das escavações podem ser visitadas graças a uma estrutura magistral projetada pelo arquiteto local Peter Zumthor (ingressos a CHF 5,00 e as visitas devem ser previamente reservadas).
Assolada por grandes incêndios ao longo de sua história, a cidade viu vários de seus bairros serem completamente destruídos e reconstruídos. Neste século, a região central de Chur foi amplamente restaurada e é considerada hoje uma das cidades antigas mais bem preservadas da Suíça, com excelente sinalização turística.
A cidade cresceu bastante no século 20, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Acabou se convertendo em um moderno centro administrativo e tem cada vez mais relevância turística.
O centro antigo, fechado para carros, tem como um de seus grandes marcos a pitoresca praça das Arcas, composta por adoráveis edifícios multicoloridos construídos na Idade Média — e tudo ali é facilmente explorado à pé. O guia eletrônico City E-Guide oferecido gratuitamente pelo órgão de turismo de Chur também ajuda bastante nesta tarefa.
Outra atração importante é a Igreja de São Martinho, do século 15, instalada na St. Martinsplatz, a mais antiga de Chur, com fundação original em 770. Originalmente uma igreja românica, foi reconstruída após um grande incêndio medieval em estilo gótico tardio e conta hoje com belos vitrais de Augusto Giacometti.
Já o Obertor é o principal acesso ao centro histórico. Juntamente com o Malteserturm e o Sennhofturm, compõe o trio principal de torres das antigas fortificações medievais que ainda hoje sobrevivem em Chur.
A cidade antiga tem até uma antiga prisão recentemente convertida em hostel e bar. O edifício da outrora "prisão mais temida da Suíça" é hoje ocupado pelo Bogentrakt, um complexo criativo que inclui também hostel (com os quartos peculiarmente instalados nas antigas celas), um animado bar e um adorável pátio com vista para os arredores.
Aliens e museus
Chur possui três museus na região central e, para surpresa dos visitantes, mais de 500 lojas diferentes. O Rätisches Museum ocupa uma mansão do século 17 repleta de artefatos que vão dos tempos pré-históricos até o século 20 e conta parte da história da cidade.
Já o Bündner Kunstmuseum, logo ao lado da principal rua do comércio central, ocupa dois edifícios muito diferentes, um antigo e um contemporâneo. O acervo inclui obras da família Giacometti, Angelika Kauffmann, H.R. Giger e peças de arte moderna tão interessantes quanto sua arquitetura. O museu possui ainda um delicioso café e seus jardins exibem estátuas do Alien criado por H.R. Giger (Hans Rudolf Giger), nascido em Chur.
A principal criação do filho ilustre da cidade, aliás, é o tema principal também do Giger Bar, outra das principais atrações turísticas de Chur — e parada praticamente obrigatória para um bom drinque. Todo inspirado nos filmes da franquia Alien, o bar com decoração ficcionalmente espetacular tem filial também em outra cidade suíça, Gruyère.
Quase ao lado do Bündner Kunstmuseum fica o majestoso edifício da sede da companhia de trens Rhätische Bahn, construído em 1910 e parcialmente aberto à visitação e com um frondoso jardim.
Dentre lojas de todos os tipos do centro da cidade, vale espiar a unidade da rede Manor na Bahnhofstrasse e subir diretamente ao seu último andar. Ali fica um café e restaurante com vista panorâmica para a cidade e os Alpes.
O restaurante mais famoso da cidade fica dentro do Hotel Stern, existente há mais de 300 anos em um edifício que é patrimônios da cidade. O restaurante tem décor alpino antigo e serve pratos tradicionais da culinária local e regional em ambientes interno e externo.
Mas imperdível mesmo é o Kaffee Klatsch, uma típica cafeteria alpina suíça que é também restaurante orgânico de conceito "zero km" para todos os produtos que serve — e, com ambiente aconchegante e porções pra lá de generosas, tornou-se um grande hot spot local.
Outrora uma pequena loja na montanhosa Davos, o negócio familiar cresceu e ganhou mais unidades. A de Chur fica em pleno centro, com direito a café, restaurante, lounges e boutique ocupando um antigo edifício bancário.
Cenário perfeito para ler um livro, bater papo ou tomar um café com doces locais vendo a vida passar calmamente em uma das principais esquinas da cidade.