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Não é só o mar azul-turquesa: naufrágio e máfia fazem a fama de praia grega

Praia de Navagio, também conhecida como "Praia do Naufrágio", na Grécia Imagem: moorpheus/Creative Commons

Colaboração para Nossa

02/09/2024 05h30

Linda e isolada, a Praia de Navagio ou "Praia do Naufrágio" na pequena ilha grega de Zaquintos possui um outro peculiar atrativo: a carcaça de um navio naufragado em outubro de 1980 com um passado intrigante.

Como se não bastasse suas areias claras e fininhas e as águas do Mar Jônico de um azul cristal poderoso geralmente em torno de 19ºC a 20ºC, os destroços do MV Panagiotis dão as boas vindas aos visitantes em meio a enormes paredões rochosos que já renderam a ela o título de uma das 50 praias mais lindas do mundo.

Imagem: dronepicr/Creative Commons

Segundo as autoridades de turismo da Grécia, o dono do Panagiotis era Haris Kompotheklas, conhecido contrabandista que utilizava a embarcação para levar cigarros de portos na antiga Iugoslávia (composta pelos atuais territórios da Bósnia e Herzegovina, Croácia, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte, Sérvia e Eslovênia) e na Albânia com destino à Itália.

Além da tripulação grega, o Panagiotis ainda levava dois contrabandistas italianos a bordo. Em uma de suas viagens, o capitão e os marinheiros teriam feito os criminosos de reféns para eles mesmos negociarem a mercadoria — mas as inesperadas más condições meteorológicas os levou a optar por uma parada na até então baía de Agios Georgios (o nome atual da praia é derivado do destino do navio, já que "navagio" quer dizer "naufrágio em grego).

Imagem: SHansche/Getty Images/iStockphoto

Uma vez ancorados, de maneira violenta, os tripulantes tentaram desembarcar a mercadoria, mas parte dela foi levada pelas águas. O capitão então decidiu abandonar o navio e libertar os italianos. No dia seguinte, os moradores locais teriam encontrado pacotes bem embalados de cigarros boiando nas águas e começaram a escondê-los pelos vilarejo.

A notícia então chegou às autoridades, que prendeu o capitão e os tripulantes do abandonado Panagiotis, que seriam mais tarde condenados pelo contrabando. A mercadoria recuperada foi leiloada e os italianos deportados ao seu país de origem, ainda segundo o Visit Greece. Contudo, esta não é a única prodigiosa história — ou seria lenda? — envolvendo o navio.

Imagem: dronepicr/Creative Commons

Navio de mafiosos?

Uma outra versão da saga do navio de origem escocesa fabricado em 1937, que foi utilizado pelos aliados na evacuação de Dunkirk na Segunda Guerra, envolve a máfia italiana, como já foi relatado aqui em Nossa.

Imagem: dronepicr/Creative Commons

Esta teoria diz que o Panagiotis vinha da Turquia (e não da Iugoslávia ou Albânia) para a Itália, com um carregamento de cigarros que seria entregue à Cosa Nostra. Perseguido pela Marinha da Grécia, o navio buscou esconderijo nas cavernas de Agios Georgios sob um denso nevoeiro, mas o comandante Charalambos Kompothekras-Kotsoros teria estimado errado a profundidade da costa e acabou encalhando-o perto da praia.

Imagem: Salamoúras Spíros/Creative Commons

No fim, a tripulação fugiu a pé, para escapar das autoridades.

Outra história parecida com essa conta que a embarcação teria sofrido uma pane mecânica durante a tempestade e foi arrastado até a praia de Navagio, onde encalhou. Sem ter como tirar o navio dali, a tripulação o abandonou e a população local saqueou a carga — uma versão que teria sido popularizada pelo próprio capitão e acabou com a prisão de 29 moradores pelo roubo.

Imagem: Roberto Moiola / Sysaworld/Getty Images

Muitos outros "causos" envolvem o Panagiotis, como o de que o comandante teria desistido de retirá-lo da praia porque ficou encantado pela beleza do local. Há quem diga que o navio famoso não transportasse apenas cigarros, mas bebidas e mulheres, conforme relato publicado pelo site de viagem Culture Trip.

Outro conto diz que o próprio Ministério do Turismo da Grécia teria convencido a Marinha do país a deixar a embarcação por lá, para servir como atração turística. Verdade ou mentira, a curiosidade despertada por ele certamente entusiasmou turistas por anos.

Imagem: dronepicr/Creative Commons

Mas após dois deslizamentos de terra, um em 2018 e outro em 2022, em que pelo menos sete pessoas ficaram feridas após um terremoto de 5,4 graus na escala Richter provocar o colapso de parte do penhasco sobre a praia, Navagio foi fechada por oferecer riscos ao público. Segundo o jornal ateniense Kathimerini, a Agência de Proteção Anti-sísmica optou por mantê-la fechada mais uma vez no verão de 2024.

Portanto, não é possível aproximar-se de barco ou ancorar na Praia do Naufrágio, nadar avançando pelo perímetro de segurança de ponta a ponta na baía, aproximar-se do declive rochoso ou do plateau sobre a praia, além de chegar a menos de 10 metros de distância do navio. Quem sonha conhecer Navagio vai ter que esperar mais um pouco, já que o governo grego se comprometeu com novas avaliações periódicas da praia.

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