Não é só o mar azul-turquesa: naufrágio e máfia fazem a fama de praia grega

Linda e isolada, a Praia de Navagio ou "Praia do Naufrágio" na pequena ilha grega de Zaquintos possui um outro peculiar atrativo: a carcaça de um navio naufragado em outubro de 1980 com um passado intrigante.

Como se não bastasse suas areias claras e fininhas e as águas do Mar Jônico de um azul cristal poderoso geralmente em torno de 19ºC a 20ºC, os destroços do MV Panagiotis dão as boas vindas aos visitantes em meio a enormes paredões rochosos que já renderam a ela o título de uma das 50 praias mais lindas do mundo.

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Imagem: dronepicr/Creative Commons

Segundo as autoridades de turismo da Grécia, o dono do Panagiotis era Haris Kompotheklas, conhecido contrabandista que utilizava a embarcação para levar cigarros de portos na antiga Iugoslávia (composta pelos atuais territórios da Bósnia e Herzegovina, Croácia, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte, Sérvia e Eslovênia) e na Albânia com destino à Itália.

Além da tripulação grega, o Panagiotis ainda levava dois contrabandistas italianos a bordo. Em uma de suas viagens, o capitão e os marinheiros teriam feito os criminosos de reféns para eles mesmos negociarem a mercadoria — mas as inesperadas más condições meteorológicas os levou a optar por uma parada na até então baía de Agios Georgios (o nome atual da praia é derivado do destino do navio, já que "navagio" quer dizer "naufrágio em grego).

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Imagem: SHansche/Getty Images/iStockphoto

Uma vez ancorados, de maneira violenta, os tripulantes tentaram desembarcar a mercadoria, mas parte dela foi levada pelas águas. O capitão então decidiu abandonar o navio e libertar os italianos. No dia seguinte, os moradores locais teriam encontrado pacotes bem embalados de cigarros boiando nas águas e começaram a escondê-los pelos vilarejo.

A notícia então chegou às autoridades, que prendeu o capitão e os tripulantes do abandonado Panagiotis, que seriam mais tarde condenados pelo contrabando. A mercadoria recuperada foi leiloada e os italianos deportados ao seu país de origem, ainda segundo o Visit Greece. Contudo, esta não é a única prodigiosa história — ou seria lenda? — envolvendo o navio.

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Imagem: dronepicr/Creative Commons
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Navio de mafiosos?

Uma outra versão da saga do navio de origem escocesa fabricado em 1937, que foi utilizado pelos aliados na evacuação de Dunkirk na Segunda Guerra, envolve a máfia italiana, como já foi relatado aqui em Nossa.

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Imagem: dronepicr/Creative Commons

Esta teoria diz que o Panagiotis vinha da Turquia (e não da Iugoslávia ou Albânia) para a Itália, com um carregamento de cigarros que seria entregue à Cosa Nostra. Perseguido pela Marinha da Grécia, o navio buscou esconderijo nas cavernas de Agios Georgios sob um denso nevoeiro, mas o comandante Charalambos Kompothekras-Kotsoros teria estimado errado a profundidade da costa e acabou encalhando-o perto da praia.

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Imagem: Salamoúras Spíros/Creative Commons

No fim, a tripulação fugiu a pé, para escapar das autoridades.

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Outra história parecida com essa conta que a embarcação teria sofrido uma pane mecânica durante a tempestade e foi arrastado até a praia de Navagio, onde encalhou. Sem ter como tirar o navio dali, a tripulação o abandonou e a população local saqueou a carga — uma versão que teria sido popularizada pelo próprio capitão e acabou com a prisão de 29 moradores pelo roubo.

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Imagem: Roberto Moiola / Sysaworld/Getty Images

Muitos outros "causos" envolvem o Panagiotis, como o de que o comandante teria desistido de retirá-lo da praia porque ficou encantado pela beleza do local. Há quem diga que o navio famoso não transportasse apenas cigarros, mas bebidas e mulheres, conforme relato publicado pelo site de viagem Culture Trip.

Outro conto diz que o próprio Ministério do Turismo da Grécia teria convencido a Marinha do país a deixar a embarcação por lá, para servir como atração turística. Verdade ou mentira, a curiosidade despertada por ele certamente entusiasmou turistas por anos.

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Imagem: dronepicr/Creative Commons

Mas após dois deslizamentos de terra, um em 2018 e outro em 2022, em que pelo menos sete pessoas ficaram feridas após um terremoto de 5,4 graus na escala Richter provocar o colapso de parte do penhasco sobre a praia, Navagio foi fechada por oferecer riscos ao público. Segundo o jornal ateniense Kathimerini, a Agência de Proteção Anti-sísmica optou por mantê-la fechada mais uma vez no verão de 2024.

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Portanto, não é possível aproximar-se de barco ou ancorar na Praia do Naufrágio, nadar avançando pelo perímetro de segurança de ponta a ponta na baía, aproximar-se do declive rochoso ou do plateau sobre a praia, além de chegar a menos de 10 metros de distância do navio. Quem sonha conhecer Navagio vai ter que esperar mais um pouco, já que o governo grego se comprometeu com novas avaliações periódicas da praia.

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