Guerras e tensões regionais forçam cias aéreas a desistirem de rotas de voo

Companhias aéreas internacionais têm optado por pausas e desistências de rotas inteiras de voos internacionais por causa da escalada dos conflitos globais e guerras.

No início de agosto, a British Airways (BA) anunciou que não realizará voos de Heathrow, o principal aeroporto internacional que serve a Londres, a Pequim a partir de 26 de outubro. A interrupção deverá durar até, pelo menos, novembro de 2025.

Segundo informações da agência Reuters, a aérea do Reino Unido tem tido dificuldade de realizar rotas até a Ásia porque não pode sobrevoar o extenso espaço aéreo russo, devido à escalada na guerra com a Ucrânia.

Desde 2022, quando a invasão do território ucraniano começou, outras companhias europeias como a finlandesa Finnair já optaram por trajetos alternativos à Ásia, mas o aumento considerável no tempo de viagem e o gasto de combustível tornam as passagens ainda mais caras — e inviáveis em longo prazo no mercado.

A BA seguirá, por enquanto, voando até Hong Kong e Xangai diariamente, mas o serviço foi drasticamente reduzido. Segundo o jornal britânico The Telegraph, os números de viagens caíram pela metade. E ela não está sozinha.

A Virgin Atlantic também abre mão de sua rota até a China a partir de outubro depois de 25 anos de serviço, também por causa do alto custo para evitar o espaço aéreo russo que foi classificado como "desafio significativo" — o destino mais oriental a que a aérea britânica vai chegar é a Índia.

A australiana Qantas Airways é mais uma que não faz a rota de Sidney a Xangai desde o fim de julho, oficialmente devido "à baixa demanda".

Dos EUA, apenas a United voa até Pequim atualmente. A Delta Air Lines informou à CNN esta semana que postergou planos de retomar a rota Los Angeles-Xangai graças à "recuperação mais lenta da demanda por viagem no mercado [asiático]".

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O argumento da baixa procura por voos tem fundamento, apontou Steve Saxon, sócio da consultora McKinsey e líder do time da empresa que pesquisa logística e infraestrutura de viagem para a China, à emissora.

Baixa procura por voos?

"Companhias aéreas estrangeiras não recuperaram o potencial [de viagem] internacional para a China tão rapidamente quanto as companhias chinesas recuperaram o potencial partindo da China", diz.

Mas o quanto viajar para a Ásia se tornou mais caro após as invasões da Ucrânia e de Gaza podem ter muito a ver com a baixa procura por bilhetes.

Outro significativo sinal de "desvio" de rota devido às zonas de conflito está na recente opção das aéreas europeias em adicionar horas de voo nos trajetos até a Índia, um importante mercado, passando pela Arábia Saudita do que realizando a rota mais tradicional — que sobrevoa o Irã, atualmente em tensões com Israel.

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No entanto, mesmo mudanças de rota podem ser uma solução temporária.

Quando a Rússia baniu as empresas americanas e europeias de sobrevoarem seu território em 2022, algumas delas escolheram trajetos árticos (como a Finnair) para chegar a cidades como Tóquio, enquanto outras optaram por tentar contornar pelo espaço aéreo turco ou outras localidads no Oriente Médio, uma região agora mais complexa de se navegar com o conflito em Gaza e as tensões crescentes no Líbano.

Mas alguns voos ganharam de duas a quatro horas extras no ar, o que não gasta só mais combustível, mas demanda mais custos para cobrir os salários de pilotos e comissários, além de equipe de suporte no solo.

A viagem torna-se inconveniente para quem não precisa realizar o trajeto por questões imprescindíveis — turistas, por exemplo, passam a optar por destinos mais "fáceis". A percepção de segurança influencia também na decisão por um local.

Todas estas questões ainda acontecem na esteira do pós-pandemia: a BA, por exemplo, só havia retomado os voos até Pequim em fevereiro de 2023, após anos de fronteiras fechadas, duros protocolos de saúde e crise econômica trazidos pela covid-19.

Com uma economia chinesa atualmente em recessão, não houve tempo para que a demanda por passagens para a capital voltasse a crescer — uma realidade para outros destinos da região também.

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Segundo reportagem do The Telegraph, voos da Qantas de Sidney a Xangai vinham operando meio vazios nos últimos meses e a companhia optou por chegar apenas a Hong Kong. O mesmo tem se repetido em outras aéreas, que agora optam por transferir suas maiores aeronaves — Boeing 777, Boeing 787 e Airbus A350 — para destinos mais lucrativos.

Com os números de passageiros em rotas da Europa para a Ásia estaria atingindo apenas 60% de níveis pré-pandemia, quem sai ganhando são as companhias que sobrevivem ao enxugamento do mercado — e que podem voar sobre os espaços aéreos em zona de conflito, como é o caso das chinesas que têm autorização para passar sobre a Rússia.

Elas teriam visto aumento em seus voos de verão europeu (entre junho e agosto) de 16% em relação a 2019, segundo a empresa de dados de viagem OAG.

Viajar para o Oriente também estaria perigoso

No entanto, encarar a viajar pode ser arriscado. A rede de tevê Al Jazeera, do Qatar, relatou casos de "spoofing" do sinal de GPS que teriam sido realizados por pelas forças militares de Irã e Israel nos últimos meses — a prática faria com que satélites enviassem a aeronaves sinais de localização incorretos para deter ataques a alvos civis em solo.

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Aviões comerciais, contudo, podem se ver em situações perigosas se houver alteração do sinal ou serem obrigados a voar "no escuro".

Em março, uma companhia turca que viajava a Beirute, no Líbano, teve que voltar ao aeroporto de partida porque não conseguia pousar com o sinal adulterado. Por isso, sem perspectiva para o fim dos conflitos na Europa e no Oriente Médio, mais mudanças ou suspensões de rotas podem vir aí nos próximos meses.

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