Mistério continua: Altar de Stonehenge é sim escocês, mas não veio de ilha
A Pedra do Altar, uma das mais enigmáticas porções do monumento de Stonehenge, na Inglaterra, segue "no sapato" de estudiosos. No último mês, um grupo de pesquisadores da Austrália e do Reino Unido revelou — após séculos de especulações — que o monólito era escocês e não galês como outros bluestones que compõem o círculo, mas atribuiu sua origem à Bacia das Ílhas Órcades (ou Ilhas Orkney).
O problema? O altar nunca esteve no arquipélago escocês, concluiu um novo estudo publicado na edição de outubro do Journal of Archaeological Science e que é liderado pelo professor Richard Bevins da Universidade de Aberystwyth, no País de Gales, que já tinha participado da primeira pesquisa.
Ainda não se sabe de que parte da Escócia a Pedra do Altar veio, mas a premissa dos cientistas é de que havia "evidências abundantes" das conexões mesmo à distância entre Stonehenge e as Órcades entre 3000 e 2900 a.C., já que cerâmicas no estilo da ilha foram encontradas em 2021 a cerca de quatro quilômetros do monumento inglês.
Além disso, as Órcades abrigam diversas estruturas do mesmo período que Stonehenge, como os círculos de pedra de Stenness e Brodgar (Standing Stones of Stenness e Ring of Brodgar, em inglês), além da cidade neolítica de Skara Brae. No entanto, Bevins colheu amostras dos dois círculos, além de outras de depósitos rochosos espalhados pelas ilhas, e não encontrou similaridades na composição e estrutura deles com a da Pedra do Altar.
O monólito de seis toneladas de Stonehenge havia sido analisado pelo grupo do pesquisador nos últimos anos com uma série de técnicas, como microscopia de luz refletida e transmitida, espectrômetros portáteis de fluorescência de raios-x, microscopia eletrônica de varredura, espectroscopia Raman e difração de raios-x. Estes dados foram usados como parâmetors para a comparação com as rochas das Órcades.
A Pedra do Altar revelou-se mais comprida e grossa do que a média das rochas orcadianas e, petrograficamente, elas também são incompatíveis. Além disso, a pedra de Stonehenge não possui minerais como a pirita e feldspatos, que estão presentes nos outros monólitos cerimoniais do arquipélago, e conta com proporções diferentes de quartzo.
Apesar de o estudo não oferecer resposta definitiva, o professor Bevins se manteve otimista em entrevista ao jornal britânico Daily Mail. "Esta pesquisa está mudando radicalmente nossas ideias sobre as origens da Pedra do Altar. É emocionante saber que a nossa análise química e trabalho de datação está lentamente resolvendo este grande mistério".
Outras menores "bluestones" — um tipo de rocha de tom levemente azulado quando úmida, daí o nome — de Stonehenge foram transportadas da planície do País de Gales até a Inglaterra, um percurso de 240 km de distância realizado de maneira impressionante ainda no Neolítico. A Pedra do Altar, contudo, nunca se encaixou no padrão das outras rochas, seja pelo tamanho quanto composição.
No entanto, as pesquisas de Bevins publicadas tanto na Nature quanto no Journal of Archaelogical Science apontam, sim, alguma similaridade entre o monólito e as rochas arenosas avermelhadas encontradas tanto nas Órcades quanto outras partes ao Norte da Escócia. Por isso, os cientistas delimitaram com 95% de precisão até o momento a provável área de origem da Pedra do Altar.
Ela poderia ter vindo de partes da cidade de Inverness, Thurso e dos arquipélagos de Shetland e Órcades — estas últimas já eliminadas pela nova descoberta.
"Como acadêmico, sou fascinado por Stonehenge há décadas. Eu e meus outros colegas no time vamos continuar a trabalhar para determinar exatamente de onde no Nordeste da Escócia a Pedra do Altar veio. Estou otimista que a origem vai ser encontrada. No entanto, a Bacia Orcadiana cobre uma enorme área, então pode levar algum tempo para localizá-la. Temos algumas pistas em termos de mineralogia e geoquímica da Pedra do Altar, então não estamos caminhando no escuro", concluiu o cientista ao Mail.
O que é o monumento de Stonehenge?
Considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Stonehenge é um círculo de enormes rochas verticais pré-históricas, com monólitos no seu anel mais externo que chegam a quatro metros de altura e mais de dois metros de comprimento, além de 25 toneladas em peso, e sustentam entre si outras pedras horizontais que formam uma espécie de "telhado".
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Quero receberJá seu círculo interior possui bluestones menores e rochas de outras composições, como silica. Apesar de estudiosos não terem conseguido até hoje determinar exatamente qual foi o papel de Stonehenge na sociedade da época, todo o monumento teria funções funerárias e também astronômicas que sugerem que o local seria ritualístico.
Por exemplo, sua estrutura está alinhada com o nascer do Sol, durante o solstício de verão, e com o pôr do Sol no solstício de inverno. Seu interior ainda guarda túmulos, como acontece com outros círculos já localizados na Escócia. A Unesco o avalia o mais "arquiteturalmente sofisticado" círculo de pedra do mundo, no entanto, apesar de o de Avebury ser o maior. Não à toa, pesquisadores acreditam que ele levou séculos para ficar pronto, com o início da construção fixada em 3100 a.C. e sua finalização em 1600 a.C., enfim.
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