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Menos de 10 passageiros por dia: como é 'aeroporto mais solitário do mundo'

Aeroporto Internacional Mattala Rajapaksa, em Hambantota, no Sri Lanka Imagem: Paula Bronstein/Getty Images

Colaboração para Nossa

22/09/2024 12h00

Com bonitos terminais, o Mattala Rajapaksa ganhou um apelido improvável para qualquer hub de transporte aéreo internacional: este é o "aeroporto mais solitário do mundo". Uma breve pesquisa na plataforma de monitoramneto FlightRadar24 explica o porquê: não havia nenhum voo programado para pousar por lá.

Ainda na dúvida? Uma visita ao site do aeroporto mostra uma lista de zero chegadas desde 20 de agosto.

Não é como se o Mattala não veja turistas ocasionais; tecnicamente, ele continua aberto ao público. Uma matéria da Forbes em 2016 revelou que há aqueles que visitem logo após deixarem parques de vida selvagem na região só porque "o prédio é muito bonito".

A área de segurança no embarque Imagem: Paula Bronstein/Getty Images

A verdade é que o Aeroporto Internacional Mattala Rajapaksa não possui operações de linhas aéreas comerciais desde 2018. Durante a pandemia, ironicamente, seus terminais se viram mais movimentados do que nos últimos dois ou três anos anteriores: por ali, passaram voos de repatriação e troca de tripulação, com impressionantes 2.188 passageiros apenas entre junho e julho de 2020.

Mesmo assim, a operação por ali não decolou até hoje. Mesmo com mais de 12 mil metros quadrados, 12 balcões de check-in, dois portões e uma pista longa o suficiente para receber grandes jatos comerciais e um fluxo de cerca de um milhão de passageiros ao ano, o Mattala já não via mais do que 10 ou 20 passageiros em um dia em 2016, confirmou seu gerente à época a Forbes americana.

Acesso aos portões Imagem: Paula Bronstein/Getty Images

Um dos motivos está na sua localização: apesar do projeto ambicioso, o aerporto mais solitário do mundo está situado em uma área de floresta a cerca de 250 km da capital Colombo. Elefantes e pássaros, por exemplo, frequentemente "entram" na área do aeroporto. Um imbróglio geopolítico, contudo, também é peça fundamental de como terminais modernos foram parar na região.

Em 2009, a China estava interessada em ampliar sua influência no sul da Ásia e o governo do Sri Lanka queria não só encontrar uma alternativa para desafogar o tráfego em Colombo, como também tinha sonhos ambiciosos de criar não apenas um novo aeroporto, mas um novo centro econômico para o país, com hotéis, condomínios, estádio de críquete, centros de conferências, indústrias e etc. Assim, área "virgem" de Hambantota parecia ideal.

Saguões pouco veem passageiros Imagem: Paula Bronstein/Getty Images

Foi feito um enorme empréstimo — US$ 190 milhões, publicou à época o jornal local The Sunday Leader — da China para a construção, o que gerou conrovérsias. O problema é que, mesmo com tanto investimento, a área ainda é de pequenas vilas de pescadores e floresta, o que não atrai turistas e consumidores para gastar dinheiro ali. Mesmo quem chega, quer naturalmente sair logo ou prefere uma conexão direta com a capital.

Quando abriu as portas em 2013, porém, a perspectiva era outra. "No começo, tínhamos sete voos por dia. Daqui até Colombo, tínhamos dois voos. Era cheio de passageiros, mesmo os funcionários não conseguiam reservar um bilhete. Quer dizer que estava lotado mesmo", relembrou o gerente à Forbes.

A maior parte, contudo, era de voos de escala mesmo, admitiu a SriLankan Airlines posteriormente. E a empolgação duraria pouco. Em 2014, cerca de três mil voos serviam a só 21 mil passageiros do aeroporto. Mesmo com investimento do governo, pressão às áreas para criarem novas rotas... Nada criava tráfego em Hambantota.

Outros tempos: como era sua chegada em 2013 Imagem: Paula Bronstein./Getty Images

Em 2015, uma troca de poder apenas confirmou aquilo que a administração anterior, de Mahinda Rajapaksa, tentava disfarçar: o aeroporto havia falhado. O novo presidente Sirina liberou a SriLankan Airlines da obrigação de manter um hub e voos ali. "A realidade é que o [aeroporto] Internacional Mattala Rajapaksa não é necessário e é uma distração aos esforços da SriLankan de mudar de situação", admitiu a companhia em comunicado à imprensa da época em que reconhecia sua própria crise financeira.

O breve respiro da pandemia trouxe novas esperanças ao Mattala, com diversas companhias também utilizando-o para transporte de carga e a retomada de pontuais voos particulares desembarcando ali. Em 2022, a Wizz Air Abu Dhabi chegou a anunciar que levaria uma rota até lá. Parecia um recomeço, mas até hoje, ele segue sendo o "aeroporto mais solitário do mundo".

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