Cruzeiros sem limite: próximas temporadas prometem navios gigantescos

Em janeiro, cruzou os mares pela primeira vez e com muita fanfarra o Icon of the Seas, maior navio de cruzeiros do mundo, com capacidade para 5.610 passageiros (em ocupação dupla ou 7.600 em lotação máxima) e 2.350 tripulantes.

Apadrinhado pelo jogador Lionel Messi, o empreendimento foi um sucesso apesar das críticas e tinha todas as cabines esgotadas mesmo antes de sua viagem inaugural.

Cinco vezes maior do que o navio mais famoso de todos os tempos, o Icon tem um volume interno de 250.800 em arqueação bruta (valor que indica o volume interno total de um navio), enquanto o Titanic possuía apenas 46.328. Além disso, ele acomoda muito mais viajantes do que os meros 2.453 passageiros que a embarcação do início do século 20 tinha capacidade de transportar.

Icon of the Seas, atualmente o maior cruzeiro do mundo
Icon of the Seas, atualmente o maior cruzeiro do mundo Imagem: Divulgação/Royal Caribbean

Com oito "bairros" internos repletos de comodidades, entre eles uma cachoeira de 17 metros de altura, ele mais de 40 restaurantes, bares e outras opções de entretenimento bem distantes da realidade do navio de 1912.

De acordo com um recente relatório da Transport & Environment, um grupo de defesa de transportes com energia limpa de Bruxelas, os navios são atualmente duas vezes maiores do que eram em 2000.

O RMS Titanic: apenas um barquinho de pesca?
O RMS Titanic: apenas um barquinho de pesca? Imagem: Reprodução / Wikipedia

Se continuarem crescendo no mesmo ritmo, a organização projeta que, em 2025, eles sejam até oito vezes maiores que o Titanic, com capacidade para quase 11 mil passageiros.

Os gigantescos navios de cruzeiro de hoje fazem o Titanic parecer um pequeno barco de pesca. Qual será o limite?

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— Questionou Inesa Ulichina, especialista em descarbonização da indústria naval da Transport & Environment, ao jornal argentino La Nacion.

Royal, Carnival, Norwegian e MSC: quatro gigantes com navios ainda maiores

Mas a Royal Caribbean não se dá por satisfeita: em agosto, foi anunciado um novo contrato com o estaleiro finlandês Meyer Turku para um novo meganavio para 2027 — e com cláusulas para as opções de construção de outros dois navios da classe Icon, a sua maior linha, em seguida.

E não é como se a empresa já não estivesse construindo o sucessor do Icon: em agosto de 2025, parte do Cabo Canaveral na Flórida o Star of the Seas, que deve ter as mesmas proporções do Icon, mas algumas amenidades diferentes.

O seu restaurante Empire Supper Club será inspirado na cidade de Chicago, enquanto o antecessor se baseia em Nova York. Também deve haver uma hidromassagem extra no novo navio, que havia sido removida do design do anterior por receio de que ele acabasse pesado demais.

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2026 deve trazer ainda um terceiro navio da classe Icon, já programado antes do novo contrato, e que ainda não foi batizado. Seu restaurante temático terá tema hollywoodiano, mas não a empresa ainda não divulgou quais os recordes que ele deve superar em relação ao Icon e ao Star. Mas ele provavelmente irá.

A Royal Caribbean não está sozinha, apesar de atualmente contar com os sete maiores navios do mundo. Com o setor em crescimento, a CLIA (Associação Internacional das Linhas de Cruzeiro, na sigla em inglês) projeta que 2024 se encerre com 34,7 milhões de passageiros contra os 31,7 milhões de 2023 e 29,7 milhões de 2019. Não à toa, a MSC Cruises, a Carnival Cruise Line e a Norwegian Cruise Line também estão expandindo a frota com novos e imensos transatlânticos até 2036.

Em julho, a Carnival anunciou que havia encomendado três novos navios para a sua nova linha que não batem todos os recordes da Royal Caribbean, mas chegam perto: todas as embarcações serão construídas pelo estaleiro italiano Fincantieri com volume interno total de 230.000 tonelagem de arqueação bruta, menos que os cerca de 250.000 GT do Icon e do Star of the Seas.

Já no quesito cabines, eles deverão superar os gigantes dos mares: serão mais de 3.000 cabines, promete a Carnival, contra as 2.805 dos navios da Royal. Por isso, a companhia projeta que possa superar a ocupação máxima do Icon e do Star, com 8.000 passageiros. Os lançamentos alcançarão os mares nos verões de 2029, 2031 e 2033.

Em abril, a Norwegian anunciou quatro novos "meganavios", de volume interno de 200.000 GT e capacidade para 5.000 passageiros que devem cruzar os mares pela primeira vez em 2030, 2032, 2034 e 2036. Todos também serão construídos pelo Fiancantieri.

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A MSC também quer algum recorde para si mesma e deve inaugurar em 2025 e em 2026 outras duas embarcações de grande porte: o MSC World America e o MSC World Asia, ambos com 2.632 cabines e capacidade para 6.774 passageiros, além de volume interno de 205.700 GT, segundo o estaleiro francês Chantiers de'Atlantique. Um dos principais atrativos do World America (o primeiro a navegar), além de seus sete "bairros", é trazer o primeiro restaurante "Eataly at Sea", inaugurando a presença da rede de gastronomia italiana nos mares.

Impacto ambiental e críticas

Ativistas e parte do público já levantam questionamentos e preocupações sobre o que estas verdadeiras cidades flutuantes podem estar gerando em termos de poluição para o meio ambiente.

A maioria das companhias hoje afirma adotar o gás natural liquefeito (GNL) como combustível, que seria mais limpo que outros — mas ainda é um combustível fóssil. A MSC, em particular, faz propaganda de seu MSC World America como um dos navios energeticamente mais eficientes do mundo.

A companhia promete que seus motores serão capazes de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa esperada para um navio de sua proporção em até 20% e tem redução de 85% na emissão de óxido de nitrogênio, além de zerar a emissão de óxido sulfúrico. O World America poderá circular com bio-GNL ou uma versão sintética e renovável que cortaria a emissão dos gases de efeito estufa em até 100%.

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Viajantes descem de cruzeiro que passa pelas ilhas gregas: o turismo marítimo só cresce e atinge números sem precedentes na História, mas ainda não se conhece totalmente o seu impacto Imagem: Mehmet Emin Menguarslan/Anadolu via Getty Images
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Já o Icon of the Seas teve um de seus pilares de lançamento justamente na sua maior sustentabilidade em relação a outros grandes transatlânticos, pois possui recursos para minimizar sua pegada de carbono, como um sistema de gestão de resíduos que os converte em energia e um sistema de purificação para tratar toda a água suja da embarcação.

Apesar de estas medidas apontarem para um caminho de eficiência em questões mais pontuais, como o uso de combustíveis e a emissão de gases, é mais complexo quantificar, contudo, o quanto as tecnologias de fato reduzem o impacto de milhares de pessoas circulando pelo oceano e produzindo lixo ou como o calor gerado (ou até mesmo a perturbação de sua passagem pelas águas) pode causar à vida marinha. Por isso, ainda há preocupações em relação ao impacto das viagens dos meganavios.

Pouco antes de o Icon of the Seas realizar sua viagem inaugural, o navio também foi amplamente criticado nas redes sociais por quem via um contrassenso no lançamento logo após a implosão do submersível Titan, que perseguia justamente o malfadado Titanic. Toda a "ostentação" — luxo, conforto e amenidades para toda a família em larga escala — oferecidas pelo Icon foram recebidas como um exagero, uma espécie de reedição da ganância que teria levado o icônico navio ao fundo do mar.

"O Icon of the Seas será lançado em 2024 enquanto migrantes desesperados navegam pelo Norte da África diariamente, arriscando suas vidas em busca de simples segurança. Se este inchado bolo de aniversário flutuante não é uma metáfora perfeita para o que está errado com o nosso mundo, o que mais seria?"

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"As pessoas com dinheiro nunca estão felizes com as opções disponíveis, e o mar seria entediante para eles. Eles estão em uma busca infinita por mais que nunca será correspondida."

Apesar de não estarem sozinhas, estas vozes não falaram mais alto que o entusiasmo dos turistas. A que tudo indica, esta é uma viagem sem volta. Prepare-se para o embarque.

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