Ragnarök real? Cientistas acham evidências de catástrofe 'sem precedentes'
Colaboração para Nossa
20/10/2024 05h30
Pesquisadores desenterraram artefatos em Jutlândia, na Dinamarca, que revelam um evento climático catastrófico no século 6. A tragédia pode ter inspirado os mitos do Ragnarök na cultura nórdica.
O que aconteceu
A pesquisa revelou evidências científicas de que a "maior catástrofe climática da humanidade" também atingiu a Dinamarca. Os cientistas analisaram anéis de árvores e artefatos arqueológicos para entender como esse evento devastador impactou a vida na região, há 1.500 anos. O estudo, do Museu Nacional da Dinamarca, foi liderado pelo biólogo e especialista em arqueologia ambiental Morten Fischer Mortensen e publicado no Journal of Archaeological Science Reports.
O autor da pesquisa destacou o impacto dramático sobre a agricultura. "Quando as árvores não podiam crescer, nada mais conseguia crescer nos campos", explicou Mortensen. A falta de colheitas e a consequente crise de alimentos forçaram o abandono de áreas agrícolas, levando ao colapso de comunidades inteiras. "Ver essas pequenas e finas marcas nas árvores [que indicam períodos de crescimento limitado] me dá calafrios, pois sei o quanto de sofrimento, morte e tristeza elas representam."
Erupções vulcânicas globais de 536 e 539 d.C. bloquearam a luz solar. Esse fenômeno causou um inverno prolongado e um declínio drástico nas temperaturas, o que se refletiu na falta de crescimento das árvores e das colheitas. Mortensen também apontou que a escassez de alimentos pode ter dizimado até metade da população em algumas partes da Escandinávia.
Tesouros de ouro foram enterrados em sacrifício aos deuses. Arqueólogos encontraram grande quantidade de ouro datada dessa época. Esses itens podem ter sido oferecidos em um esforço desesperado para trazer o sol de volta. "Esses sacrifícios sugerem o quão desesperadas as pessoas estavam para tentar encerrar essa catástrofe sem precedentes."
A crise levou à adaptação agrícola, incluindo a maior produção de centeio. Com a queda na produção de grãos tradicionais como cevada e trigo, os agricultores começaram a cultivar centeio, uma cultura que necessita de menos luz e recursos. "Talvez nossa paixão pelo pão de centeio tenha nascido de uma crise climática", sugeriu Mortensen, refletindo sobre o impacto cultural de tais mudanças na dieta.
Há uma ligação potencial entre esse evento e os mitos do Fimbulwinter. "Embora tais mitos possam ser pura imaginação, eles também podem conter ecos de uma verdade distante", disse Mortensen, mencionando que os mitos nórdicos, como o Fimbulwinter, podem ter sido inspirados por essa catástrofe histórica.
O que é o Fimbulwinter
Descrito na mitologia nórdica como um período de três invernos seguidos, sem verões entre eles, o Fimbulwinter antecede o Ragnarök —o fim do mundo e a batalha final entre os deuses. Durante o Fimbulwinter, as terras se tornariam estéreis, e a fome e o desespero se espalhariam, levando à destruição da civilização. Esse mito pode ter sido inspirado por eventos climáticos reais, como o "inverno vulcânico" do século 6, que devastou a Escandinávia e outras regiões.
O que é o Ragnarök
Na mitologia nórdica, o Ragnarök é o evento apocalíptico que marca o fim do mundo e a destruição dos deuses, humanos e da própria Terra. É descrito como uma batalha final entre as forças do caos, lideradas por Loki e seus filhos, contra os deuses liderados por Odin.
Segundo as lendas, esse evento é precedido por desastres naturais. Entre eles, o Fimbulwinter, e culmina na morte de vários deuses importantes, como Odin e Thor, e na submersão do mundo em água. Após o Ragnarök, a Terra renasceria, e uma nova era de paz e prosperidade começaria.