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Espanha foi dominada por mulheres? Cemitério de 5 mil anos sugere que sim

Alguns dos restos mortais encontrados em Panoría: maioria era de mulheres Imagem: Divulgação/Universidade de Granada

Colaboração para Nossa

03/11/2024 12h00

A descoberta de um cemitério de 5.000 anos na Espanha em que há o dobro de mulheres enterradas do que o número de homens intrigou pesquisadores da Universidade de Granada, na Espanha, e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, responsáveis pelo achado, e pode indicar que a sociedade pré-histórica da região era matriarcal.

Os restos mortais foram encontrados na necrópole megalítica de Panoría, um sítio arqueológico descoberto em 2012, no extremo leste da Serra Arana, um maciço montanhoso na cidade de Darro. Ali, há pelo menos 19 túmulos, sendo que nove deles já haviam sido escavados entre 2015 e 2019.

Sepultura 10 de Panoría Imagem: Marga Sanchez Romero/Creative Commons

No entanto, como em outros casos de cemitérios da Idade da Pedra Polida, cada tumba recebeu diversos corpos. Até o momento, já foram contabilizados mais de 55 mil pessoas enterradas em Panoría. A desproporção entre gêneros fica maior quanto mais jovens os indivíduos: há 10 mulheres para cada homem entre a população juvenil que descansa nas montanhas, revelou o estudo publicado pelo time hispano-germânico na revista Scientific Reports no fim de setembro.

Os especialistas utilizaram técnicas de bioarqueologia, em primeiro lugar, para determinar quando aconteceram os enterros de 44 corpos. Com auxílio da datação por carbono 14, foi concluído que os primeiros sepultamentos ocorreram há 5.600 anos, enquanto os mais recentes são de 4.100 anos atrás.

A análise do dos ossos também permitiu estimar a idade de cada pessoa quando morreu, baseada em características distintas da pelve, fechamento das suturas cranianas, alterações da superfície auricular, desenvolvimento dos dentes.

Em seguida, foi realizada a investigação do sexo cromossômico a partir de análise de DNA dos ossos e do estudo de uma proteína chamada amelogenina, presente no esmalte dos dentes.

A conclusão de que há o dobro de mulheres no cemitério surpreendeu os cientistas, pois desequilíbrios entre sexos só são vistos em valas ou cemitérios em condições excepcionais, como naqueles onde estão enterrados apenas soldados após guerras ou quando ocorrem migrações atípicas.

A necrópole megalítica de Panoría, na Espanha Imagem: Reprodução/Scientific Reports

Como a grande divergência entre o número de homens e mulheres aconteceu de maneira consistente por 1.500 anos, em todos os períodos de enterros realizados em Panoría, e em todos os grupos de idade, os pesquisadores acreditam que o desequilíbrio não é fruto de um evento pontual como uma batalha, mas resultado de uma decisão social persistente que afetava grupos sociais diferentes.

Ao site Livescience, a autora principal do trabalho, Marta Díaz-Zorita Bonilla, biorqueóloga da Universidade de Tübingen, destacou que as pessoas da área de Panoría viviam "como produtores rurais explorando a paisagens ao redor" durante o período de uso do cemitério.

Como relação de parentesco é o principal critério para seres humanos serem enterrados juntos, é provável que a sociedade local na Idade da Pedra Polida fosse matriarcal, ou ao menos suas práticas funerárias. Ou seja, as relações familiares, de poder e de identidade eram baseadas em um indivíduo ser filho daquela mãe e não daquele pai.

Túmulo em Panoría, na Espanha Imagem: Reprodução/Scientific Reports

Os cientistas de Granada e Tübingen ainda trabalham com a hipótese de que os homens que pertenceram a estas famílias tenham sido enterrados com outros grupos de parentesco.

"É possível que as filhas da linhagem se mantivesse com este grupo de parentesco, enquanto os filhos partiram para se juntar a outros grupos (exogamia masculina)", notam os estudiosos no artigo.

As pesquisas em torno das desproporções de gêneros de Panoría devem continuar, mas o trabalho foi considerado pioneiro por analisar também os ossos de crianças e jovens, e não apenas adultos, que apresentam maiores desafios para os bioarqueólogos.

Há outros elementos também a levar em consideração, como a descoberta em 2015 de que os túmulos eram situados pelo nascer do sol durante solstícios — e a astronomia já se provou um elemento ritualístico importante para muitos sítios megalíticos, como é o caso do inglês Stonehenge.

Entender como o local era mantido pode dar pistas de uma Espanha bem diferente daquela que se conhece hoje.

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