Este paraíso tem vista a 'porta do inferno' onde apóstolo de Jesus morreu

Pamukkale, na Turquia, é um lugar paradoxal, suspenso da realidade graças a uma atmosfera de magia proporcionada por condições que mais parecem milagre da natureza. Seu nome, na língua natal, significa "castelo de algodão" — graças às rochas brancas de travertino que recobrem toda a região.

Na prática, as sensações de quem visita são bem diferentes, já que o local possui 17 piscinas termais de temperaturas médias que variam entre 19ºC e 57ºC, embora algumas possam chegar a 100ºC, segundo observação geotérmica da NASA. Cada uma delas expele uma série de minerais, como a calcita, de camadas mais profundas do solo. Em contato com o gás carbônico no ar, eles acabam se transformando em um gel, que solidifica-se com o passar do tempo para virar "nuvem".

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Izzet Keribar/Getty Images

A coleção das piscinas cristalinas forma uma espécie de cascata na encosta do morro, onde jovens da região costumam não só se reunir para o banho que, dizem os locais, teria propriedades terapêuticas como para praticar remo. Segundo a rede americana CNN, visitantes dos "terraços" de piscinas precisam remover o sapato antes de chegar e, apesar de ser escorregadio e desconfortável em algumas porções, o solo logo se torna arenoso nos arredores da água.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Richard I'Anson/Getty Images

Quanto mais alta a piscina, geralmente mais cheia, mas quem estiver disposto a descer rumo ao vale pode ter a chance de curtir a água sozinho. Quem visita descreve a experiência como um mergulho em champanhe, já que pequenas bolhas costumam se formar nas suas bordas.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Nick Brundle Photography/Getty Images

Há quem diga que vale tomar um golinho — já que a água não proporcionaria alívio apenas para problemas de pele, reumáticos ou cardiovasculares, mas também para mal-estares digestivos. No entanto, não há como garantir que a água seria própria para consumo humano.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: petekarici/Getty Images
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Pamukkale possui uma vista de tirar o fôlego para um vale rico em história e vegetação — atributos que, entre outros, garantiram a ela o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1988.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Nick Brundle Photography/Getty Images

As luzes do sol oferecem um espetáculo à parte, colorindo o branco e azul da paisagem com tons de rosa e alaranjado, que tornam as lembranças — e fotos de turistas — uma experiência etérea.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: prmustafa/Getty Images/iStockphoto

Mas se Pamukkale tem nuvens, luzes e todo um arsenal de belezas que se relacionam com a experiência do paraíso, por que perto dali fica a chamada "Porta do Inferno"?

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Robert Landau/Getty Images
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Cultos da Antiguidade e lugar de martírio

Quem anda pelos arredores de Pamukkale em busca de uma experiência de spa acaba esbarrando com a Piscina Antiga, situada a uma caminhada de cinco minutos do topo dos terraços. Por ali, dá para pagar uma pequena taxa, usar vestiários e tomar banho termal próximo às ruínas do Templo de Apolo.

Isto porque no vale está localizada a antiga Hierápolis, cidade helenística e posteriormente romana, onde teria sido martirizado Filipe, apóstolo de Jesus Cristo. Mas, muito antes dos horrores bíblicos, ela já foi venerada por servir como a "Porta do Inferno".

Anfiteatro romano da Hierápolis, na Turquia
Anfiteatro romano da Hierápolis, na Turquia Imagem: Oleg Breslavtsev/Getty Images

Hierápolis teria recebido seu primeiro templo dedicado à deusa da fertilidade Cibele, cultuada pelos frígios, ainda no século 7 a.C., segundo o livro "Myth and Geology", coleção de pesquisas de múltiplos autores publicadas pela Geological Society. Eles acreditavam que o local era um bom ponto de comunicação com entidades do submundo por causa dos gases tóxicos que eram emanados pelo solo — e pelas piscinas termais.

Cinco séculos depois, o território frígio foi assimilado pelos gregos, que reinterpretaram o culto e ligaram as condições únicas das cavernas e paisagens da região a Hades, o deus do submundo ou "inferno" deles. Em 133 a.C., a cidade se tornou romana e Hades foi "substituído" pelo seu equivalente, o deus Plutão.

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A entrada da caverna por onde vazavam os gases tóxicos subterrâneos então ficou conhecida como Plutonium — o lugar de Plutão, em tradução literal do latim ou, mais informalmente, o portão de Plutão ou a porta do inferno.

"Porta para o Inferno", em Hierápolis, na Turquia
"Porta para o Inferno", em Hierápolis, na Turquia Imagem: Carole Raddato/Creative Commons

Era comum que gregos e romanos realizassem sacrifícios de animais na porta do inferno, amarrando-os em cordas e atirando-os dentro da caverna para respirarem os gases tóxicos. Depois, eles eram puxados novamente, segundo reportagem do canal Discovery. A área era decorada com imagens de Cérbero, o cão de três cabeças que na mitologia greco-romana guardava a entrada do mundo inferior.

Apesar de haver outras tumbas e uma necrópole nas proximidades do Plutonium, Hierápolis era uma cidade vibrante, com outros espaços religiosos como o já citado Templo de Apolo, e culturais, como o Anfiteatro Romano, cujas ruínas são algumas das mais preservadas do sítio arqueológico. Os romanos também aprovavam e criaram estrutura para o proveito das águas termais da região.

Túmulo do apóstolo Filipe, em Hierápolis, na Turquia
Túmulo do apóstolo Filipe, em Hierápolis, na Turquia Imagem: AlizadaStudios/Getty Images

Mesmo assim, a história macabra de Hierápolis estava longe do fim. No ano 80 d.C., Filipe, apóstolo de Jesus Cristo, foi martirizado ali, de acordo com escritos deixados por seu discípulo, Pápias, que ficou conhecido como "bispo de Hierápolis". Foram os bizantinos que teriam construído, no século 4 d.C., a tumba que honrava e marcava o local da morte do apóstolo — e só foi encontrado pelo arqueólogo italiano Francesco D'Andria em 2011.

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Até então, o único registro bíblico que se tinha da importância da Hierápolis para os cristãos estava na Primeira Epístola de Paulo aos Colossenses.

Saúda-vos Epafras, vosso concidadão, servo de Jesus Cristo. Ele não cessa de lutar por vós em suas orações, para que, numa perfeita e plena convicção, permaneçais plenamente submissos à vontade divina. Posso assegurar-vos que muito trabalha por vós e pelos que estão em Laodicéia e em Hierápolis.

— Colossenses 4:12-13

Como conhecer Pamukkale e a Hierápolis?

Com sítios históricos e belezas naturais, Pamukkale se estruturou para receber o turismo desde que foi reconhecida pela Unesco. Segundo a CNN, a entrada para a área histórica e geológica custa 30 euros (R$ 185) no portão Sul, mas o passeio pelo amplo terreno e muitas ruínas pode não animar de cara.

Pamukkale, na Turquia
Pamukkale, na Turquia Imagem: Getty Images/iStockphoto
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Para conseguir realizar o percurso com mais facilidade e parar realmente onde apenas interessar, é possível alugar pequenos carrinhos de golfe para realizar parte do trajeto. Caso queira realizar o percurso a pé, será necessário caminhar cerca de 10 minutos da entrada ao início do platô da cidade histórica.

Mais informações para a visita a Pamukkale estão disponíveis no pamukkale.goturkiye.com.

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