Aquários e 90 piscinas: como é se hospedar no resort mais luxuoso do mundo
Dubai é a terra dos exageros, dos superlativos, da mania de grandeza registrada no livro dos recordes. Pode ser lugar-comum começar a reportagem assim, mas não há como resistir à obviedade quando o carro estaciona diante da recepção do Atlantis The Royal: emoldura a porta de entrada um imenso painel de vidro, que alterna quedas-d'água e labaredas. Só vendo de perto para entender.
Inaugurado em janeiro de 2023, o hotel se apresenta como o mais ultraluxuoso resort do mundo — e tem lá suas razões para tamanha falta de modéstia. O ponto alto da festa de abertura foi o show "intimista" da cantora Beyoncé, para 1.500 convidados vips que não puderam usar seus celulares.
A performance foi condizente com um projeto que durou oito anos e custou 1,4 bilhão de dólares. Vestida de anjo, com asa e tudo, Beyoncé surgiu no palco suspenso sobre as águas cantando At Last (Enfim, em português), canção eternizada por Etta James.
100% de ocupação
Desde a inauguração, as 795 suítes do Atlantis The Royal, distribuídas por 43 andares, vivem lotadas. Russos, chineses, norte-americanos e ingleses estão entre os hóspedes contumazes, mas se ouve bastante português pelas áreas comuns.
A tarifa para duas noites, estadia mínima obrigatória, custa o equivalente a quase R$ 6.000 para o casal, mas pode chegar a R$ 340 mil, no caso da penthouse panorâmica, que tem 520 m², sala de jantar para 12 pessoas e piscina privativa.
Não faltam bilionários capazes de dar conta desse orçamento — a reportagem fez um tour pelo hotel, a convite da gerência, mas os jornalistas não puderam visitar nenhuma das seis penthouses, porque todas estavam ocupadas.
Bling-bling
O escritório Kohn Pedersen Fox Associates, responsável pelo projeto arquitetônico de 406 mil m², não economizou nas extravagâncias. Já no lobby do hotel, é difícil não deixar o queixo cair diante dos aquários gigantes, dos elevadores transparentes cercados por quedas d'água e da escultura Droplets, com quase 12 metros de altura, que representa a primeira gota de chuva que cai no deserto.
No check-in, realizado sobre balcões dourados, toalhinhas molhadas e garrafas de água mineral S.Pellegrino são distribuídas aos hóspedes recém-chegados — um bem-vindo refresco para quem precisa vencer toda a galeria de lojas para chegar aos elevadores.
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Quero receberÉ como estar hospedado sobre um shopping center de luxo. Grifes como Valentino, Louis Vuitton e Dolce&Gabbana concorrem com galerias de arte e joalherias. Da recepção aos jardins, Vivienne, a mascote da grife Louis Vuitton, compõe a decoração em estátuas gigantes.
Cada mergulho, um flash
Em seu website, o Atlantis The Royal se vangloria de ter 90 piscinas. Eis uma conta difícil de confirmar. Das varandas das suítes, debruçadas sobre a ilha artificial Palm Jumeirah, em forma de palmeira, a gente conta algo perto de uma dezena de piscinas espalhadas pela propriedade.
Só que entram na soma as 44 suítes que têm piscinas privativas, mais as do clube Cloud 22, que funciona no 22º andar, e a do spa Awaken, localizado no térreo.
Em qualquer uma delas, o dress code pede capricho até para nadar. Espremido entre o edifício e o mar, o beach club Nobu by the Beach combina piscinas para ver e ser visto, com serviço de bar, um disputado restaurante de cozinha japonesa da rede Nobu, que tem até DJ, e o acesso à praia.
No Cloud 22, uma espécie de balada aquática encarapitada no 22º andar, entre as duas torres principais, as espreguiçadeiras ficam dentro da piscina de fundo infinito e têm direito a serviço de comidinhas e bebidas — os garçons caminham de tênis, dentro d'água, enquanto servem taças de espumante.
A borda da piscina, que parece desaguar sobre o mar, é o point preferido para selfies. Toalhas, boias, peças de decoração e até o mosaico no fundo da piscina têm a estampa floral azul e branco, ícone da Dolce&Gabbana, grife que também assina o menu à italiana.
Não é por acaso que as piscinas do Atlantis The Royal são mais disputadas do que a praia. O mar do Golfo Pérsico não parece tão atraente, especialmente para brasileiros: nesse trecho ao redor da Palm Jumeirah, é bem raso e não forma uma marola sequer, bom para crianças brincarem. Mas a experiência de caminhar com água pela cintura, rodeado de peixinhos, não deixa de ser divertida.
Mesas estreladas
Os 17 restaurantes, oito deles comandados por celebridades do mundo da gastronomia, são um convite para o hóspede não deixar os domínios do Atlantis The Royal — estão lá as casas do britânico Heston Blumenthal, chef estrelado pelo Michelin, e do peruano Gastón Acurio, com seu La Mar.
O cardápio de especialidades inclui cozinhas grega, persa, espanhola e asiática, além de várias docerias de sotaque francês ou italiano. Os preços, convertidos em reais, variam conforme a fama da grife. No clube Cloud 22, o cardápio italiano assinado por Dolce&Gabbana oferece salada verde a R$ 126 e meia dúzia de ostras a R$ 491.
O espaço Gastronomy, que simula um mercado, é disputado no café da manhã por oferecer menus de desjejum adaptados a diversas culturas. É possível começar o dia com um dim sum, petisco chinês frito ou cozido no vapor, ou com um dahi bhalla, bolinho de lentilha servido com iogurte, típico da cozinha indiana — também há estações de frutas, cereais, padaria e até sorveteria.
Vida de sheik
Mesmo nas suítes mais "simples" do Atlantis The Royal, é possível brincar de milionário. A banheira, separada do quarto por uma parede transparente, fica invisível ao toque de um botão, que torna o vidro opaco.
Da varanda, com vista para o mar, os hóspedes assistem de forma privilegiada aos shows de luzes que acontecem no espelho d'água — a dança dos chafarizes, no compasso das músicas, lembra os espetáculos da Disney.
O frigobar merece um capítulo à parte. Um sistema automatizado faz com que itens como mix de nuts e Kinder Ovo sejam repostos 60 segundos após removidos. Mas convém não abusar da brincadeira: um pacotinho de amêndoas custa quase R$ 70.
Quando o hotel foi inaugurado, muito se falou a respeito das luxuosas amenities das suítes. De fato, impressiona ver garrafas de água mineral da marca norueguesa Voss, que se vangloria de ser a mais pura do mundo, oferecidas até nos banheiros, para escovar os dentes.
Mas o que mais chama atenção é o kit de pente, escovas de dentes, barbeador e otras cositas más, disposto em gaveteiro. Como são dourados, correu mundo a informação de que os itens eram folheados a ouro. Pura fake news — são de plástico. E não há quem resista (eu, inclusive) a levá-los para casa, como lembrança desses dias de faz-de-conta.
* A repórter viajou a convite do Departamento de Economia e Turismo de Dubai
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