'Policiais-mordomos' e nada pra fazer: como é a vila de Bundchen e Trump

Existem ricos que gostam de viver em condomínios fechados. Existem multimilionários que vivem em uma cidade fechada, só deles.

Indian Creek tem cara e jeito de condomínio de ultrarrico, mas, tecnicamente, é uma das 34 aglomerações urbanas que compõem o condado de Miami-Dade, na Flórida. Isso quer dizer que ela tem prefeito e vereadores, recolhe impostos e tem seus próprios policiais, muitas vezes chamados de "mordomos de distintivos".

Com um orçamento milionário para segurança, eles guardam uma área de 1,2 quilômetro quadrado (menor que a do Parque do Ibirapuera, em São Paulo), onde residem cerca de 80 pessoas em 30 e poucas propriedades - os números não são exatos por causa do entra-e-sai de moradores e das múltiplas obras e reformas recentemente.

É justamente isso que colocou Indian Creek na pauta do jornalismo de celebridades nos últimos anos. Até 2020, a vila tinha entre os moradores banqueiro, fundador de empresa pontocom, CEO de companhia aérea e de rede de lojas de departamento, investidores? O único nome realmente famoso era Julio Iglesias.

Então, o cantor espanhol decidiu vender um de seus terrenos no local por US$ 31,8 milhões (cerca de R$ 196 milhões*) para Ivanka Trump pouco após o pai dela, Donald, perder a eleição presidencial de 2020. Semanas depois, Gisele Bundchen e Tom Brady também compraram uma propriedade na vila.

A coincidência reforçou o apelido de Indian Creek: "bunker dos bilionários". O que esse lugar tem de especial?

Ilha da privacidade

Pinetree Drive em Indian Creek
Pinetree Drive em Indian Creek Imagem: Getty Images

Basicamente, segundo jornais da Flórida e sites especializados no mercado imobiliário, Indian Creek oferece segurança e privacidade em um nível difícil de ser igualado. Instalada em uma ilha artificial, essa vila tem mentalidade de bairro fechado.

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Cercada e vigiada o tempo todo por terra e mar, com policiais que pedem documentos a qualquer um que se aproxima, a ilhota faz jus ao apelido de bunker. Teoricamente, nenhum paparazzo ou turista consegue chegar perto das casas (todas têm saída para a Baía de Biscayne) sem ser notado.

É diferente, por exemplo, de Mar-a-Lago, o resort de luxo de Donald Trump em Palm Beach, 90 quilômetros ao norte. Sempre que Trump vai a sua mansão, a polícia fecha ruas e desvia o tráfego, pois o acesso ao resort fica em uma grande avenida, explica o jornal "Miami Herald".

Indian Creek também é muito mais discreta do que bairros luxuosos de Miami que também ficam em ilhas. É o caso de Star Island, lar do casal Gloria e Emilio Estefan e, supostamente, do artista mais tóxico dos últimos tempos, Sean Combs.

Apesar de as mansões de Star Island serem muradas e cheias de segurança, é possível andar por suas ruas, que são públicas. Em Indian Creek, não é tão fácil. "Lá é realmente privado, os policiais pedem sua CNH", disse um corretor de imóveis à revista "Town and Country".

"É discreto e superchique, tradicional", contou um frequentador. "A ilha inteira é linda e bem cuidada, não é como se houvesse novas construções malucas e casas feias. Parece mais Palm Beach do que Miami."

Os novos moradores

Indian Creek
Indian Creek Imagem: Jeff Greenberg/Universal Images Group via Getty Images
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Ivanka Trump e seu marido, Jared Kushner, ex-assessor-sênior do governo Trump e membro de um império imobiliário maior que o do próprio sogro, começaram a erguer sua mansão em estilo mediterrâneo em 2021. Logo em seguida, Gisele Bundchen e Tom Brady teriam pago US$ 17 milhões (cerca de R$ 104 milhões*) pela casa de um magnata da hotelaria, que puseram abaixo para construir uma "propriedade ecologicamente correta".

No fim do ano passado, Indian Creek ganhou outro nome famoso, cuja fortuna é tão ofensivamente gigante que coloca todos esses outros megarricos no bolso. Jeff Bezos, fundador da Amazon, segunda pessoa mais rica do planeta e criado em Miami, anunciou que estava voltando para a Flórida.

Ele comprou duas propriedades em Indian Creek por um total de US$ 147 milhões (cerca de R$ 907 milhões*). Demoliu as casas originais e está construindo uma nova. Enquanto isso, comprou uma outra, de US$ 90 milhões (cerca de R$ 555 milhões*), onde supostamente ele e a noiva, a apresentadora Lauren Sánchez, estão vivendo.

Quanto a Gisele e Tom, Indian Creek não deu muita sorte ao casal, que até então vivia em Tampa. Eles se separaram em 2022, antes da mansão sustentável ficar pronta. O projeto na ilha ficou para o astro do futebol americano, enquanto a modelo comprou duas casas na praia vizinha de Surfside.

O que fazer em Indian Creek

Indian Creek nos anos 1930
Indian Creek nos anos 1930 Imagem: Boston Public Library
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Fiel a seus princípios, Indian Creek é um cadáver urbanístico. Cada habitante vive em seu próprio reino particular, não existe um restaurante sequer, nenhum café, mercadinho nem nada que dê vida à rua.

O único estabelecimento é o clube de campo que deu origem à vila. O Indian Creek Country Club, construído em estilo espanhol há quase 100 anos, tem um campo de golfe de 18 buracos e uma adesão restritíssima. Para se tornar sócio, além da indicação de outros dos cerca de 300 associados, é preciso desembolsar pelo menos US$ 500 mil (cerca de R$ 3 milhões*), segundo o "Financial Times".

O clube é tão exclusivo que morar em Indian Creek não é garantia para entrar nele. É um luxo concebido desde o início, mas que demorou para vingar.

No fim dos anos 1920, uma empresa do Meio-Oeste limpou um até então intocado manguezal para lançar um empreendimento imobiliário inspirado no que fora feito, pouco antes, em Miami Beach. Com casas de alto padrão de frente para o mar, a ideia era atrair endinheirados de outras regiões a esse cantinho da Flórida.

O clube abriu as portas em 1929 para cerca de 50 convidados. Mas o Crash da Bolsa de Nova York, naquele ano, afastou o público. "Só duas ou três pessoas apareciam para jantar, enquanto 20 ou 30 garçons e ajudantes circulavam", segundo uma reportagem da revista especializada em golfe "The Florida Green".

Preços em alta

Por muitas décadas, Indian Creek era um reduto de casas de veraneio de milionários. Depois vieram os residentes e, nos anos 2020, as celebridades. Ainda é cedo para afirmar o quanto isso pode afetar a privacidade dos outros moradores, mas, por ora, tudo parece seguir o curso de antes.

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O que mudou, segundo um levantamento do "Miami Herald", foram os preços. Se eram estratosféricos, agora são "exosféricos".

Em 2021, uma propriedade de 7,4 mil metros quadrados na ilha foi vendida por US$ 40 milhões (cerca de R$ 246 milhões). Em 2023, uma outra, do mesmo tamanho, saiu por US$ 79 milhões (R$ 487 milhões*). Em maio deste ano, uma mansão, também de 7,4 mil metros quadrados, foi amealhada por US$ 87 milhões (cerca de R$ 537 milhões*). É um aumento de mais de 100% em três anos.

* cotação de 06/11/2024

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