Grife carioca que assina garrafinha do G20 tem história de racismo e plágio
Colaboração para Nossa
18/11/2024 13h45
A Farm Rio, marca carioca que assina as garrafinhas de água com estampas tropicais vistas com líderes do G20 na cúpula desta segunda (18), tem um passado de êxito fashion, mas também de polêmicas com acusações de racismo, gordofobia e plágio.
Em suas redes sociais, a empresa já havia comemorado a sua escolha de representante do Brasil no evento, como "marca nacional", na última semana.
Que honra: a FARM Rio foi convidada para representar o Brasil como Marca Nacional na Cúpula do G20. além de apoiar a Cúpula de Líderes, o Cria G20 e o Festival da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, preparamos presentes especiais para as Chefes de Estado e Primeiras-Damas que participarão do evento no Rio. O kit "do Brasil para o mundo" reúne uma seleção de produtos originais FARM Rio que valorizam a identidade cultural do país e o nosso compromisso com a sustentabilidade.
— Anunciou a marca no Instagram
Confira o que há no kit dos presidentes:
Passado controverso
- Assassinato e racismo
Em 2022, a Farm foi acusada de racismo após o assassinato da jovem Kathlen Romeu, então com 24 anos e grávida de 14 semanas. A ex-funcionária de uma das lojas físicas da Farm em Ipanema, no Rio de Janeiro, levou um tiro no tórax na comunidade Lins Vasconcelos, Zona Norte do Rio de Janeiro. A família acusava a Polícia Militar pelo crime e a corporação negava o envolvimento.
Com o assunto gerando repercussão na mídia e nas redes sociais, a marca carioca decidiu compartilhar o código que a funcionária utilizava para marcar suas vendas, a fim de criar uma "campanha social", que destinaria apenas parte dos lucros obtidos à família de Kathlen.
A iniciativa recebeu uma onda de acusações de racismo — que apontavam a "insensibilidade pelo caso brutal" e o uso inadequado de sua imagem para o marketing das roupas. Como resposta, a Farm se desculpou em um comunicado oficial, informando que reverteriam 100% das vendas do código à família da jovem assassinada e assumindo a responsabilidade pela gravidade do ato. Como consequência, a Farm também substituiu seu Head (diretor) de Marketing. Mas este não foi o primeiro caso polêmico.
- Retratos da escravidão e apropriação cultural
Em 2017, foi lançada uma estampa que retratava pessoas negras como escravas no Brasil. A "Ruas do Mar", como foi nomeada, sofreu repercussão negativa, o que fez com que a Farm retirasse os produtos disponíveis nas lojas físicas e virtuais.
"Ficamos tristes com a repercussão negativa despertada por ela. Não era esta a nossa intenção (...) Pedimos desculpas a todos pelos sentimentos negativos gerados", lamentaram em comunicado.
Em 2014, a figura de Iemanjá levou a Farm a ser acusada de apropriação cultural. A marca, há sete anos, utilizou uma mulher branca para representar o orixá de origem africana.
A imagem levou o rapper Emicida a se pronunciar sobre a iniciativa: "Usar a cultura afro como base de criação de elemento de autenticidade sempre. Empregar modelos negros nunca. Racismo brasileiro onde ninguém é e assim todos são livres para continuar sendo sem culpa. Triste, mas sem novidade", escreveu o artista.
André Carvalhal, que assumia o cargo de gerente de marketing da Farm na época, respondeu: "Não era de exaltação de nada, nem ninguém. É uma fantasia. Fantasia não tem raça, pode ser usada por qualquer um. Não representa bandeira alguma da marca seja de sexo, religião ou raça".
- Gordofobia
Já em 2016, como apurado por Universa, mãe e filha sofreram gordofobia em uma das lojas físicas. Segundo elas, mesmo com o estabelecimento vazio, as funcionárias, em vez de atendê-las, faziam comentários e trocavam risadas entre si.
Em ambos os casos, cada um a sua época, a Farm reforçou que "este tipo de atitude não faz parte do que acreditam ou celebram", ofereceu um pedido de desculpas e conversou com suas funcionárias, como um "exemplo do que não deve ser feito" e de que "todos são bem-vindos".
Em 2020, a marca passou a oferecer tamanhos GG finalmente após 23 anos de existência, como resultado de uma parceria (e a posterior contratação) da redatora plus size Mariana Rodrigues.
- Homofobia
A Farm foi acusada de homofobia, também em 2014, após um cliente compartilhar no Facebook ter sido hostilizado por uma funcionária por querer comprar uma roupa feminina.
- Plágios
Houve pelo menos duas acusações notórias de plágio no passado recente da Farm. Em 2018, a designer britânica Katie Jacobs apontou que um modelo de seus tricôs ultracoloridos havia sido copiado pela marca carioca em um post no Instagram que gerou revolta no público internacional e brasileiro.
À Universa, a marca assumiu a responsabilidade pelo plágio e afirmou que ressarciria a designer:
"Em 20 anos de marca, tivemos pouquíssimos casos de cópia. Este é um assunto que temos tratado com muita seriedade, reforçando que a cultura da marca é de criatividade e originalidade. A peça, de fato, fez parte da coleção de verão lançada em julho de 2015 e não consta mais como disponível em nossos estoques. Foram produzidos 224 itens e garantimos que a designer será integralmente ressarcida pela venda de 100% destes itens."
Já em 2020, a estilista carioca Ligia Parreira apontou que a marca havia copiado um de seus designs, mas a grife negou e afirmou à reportagem de Universa que o tema "pipoca" registrado nas estampas das duas era comum à cultura local.
"A pipoca surgiu como um elemento natural da coleção e as peças tiveram como ponto de partida a memória afetiva dos clássicos e tradicionais saquinhos de pipoca, tão presentes no Rio, no carnaval e nos espaços públicos. As estampas são parecidas pois elas se inspiram no mesmo grafismo: o do saquinho da pipoca."