Skiplagging: truque para economizar nas passagens irrita companhias aéreas

Um truque para economizar na passagem aérea tem tirado o sossego das companhias aéreas: o skiplagging.

O neologismo em inglês descreve uma estratégia simples: em vez de comprar uma passagem de voo direto para o seu destino, o viajante opta por comprar um bilhete para outro lugar, mais econômico, mas que faça escala onde quer ir de verdade — e deixa de embarcar para o trecho final da viagem.

Por exemplo: quer ir de Boston a Houston? Compre uma passagem de Boston para Las Vegas com escala em Houston, que custa menos que o voo direto. Aí é só desembarcar em Houston — claro, isso só vale para quem não despachou as malas, já que ela só poderá ser retirada no destino. Parece lógico, certo? O problema é que as aéreas proíbem e até punem a prática.

Por que voos diretos para alguns locais são mais caros?

Companhias aéreas não regulam os preços de sua passagem pela distância, mas pelo mercado. Se uma companhia tiver um concorrente de baixo custo fazendo aquela rota, ela vai equiparar preços. Se não houver, ela acaba cobrando mais. Tudo depende da concorrência — e é por isso que alguns destinos são tão mais econômicos que outros. Voltando ao primeiro exemplo:

"Por exemplo, Boston-Las Vegas é uma rota de lazer que é mais sensível ao preço. Já Boston-Houston é um mercado empresarial, o que significa tarifas mais altas", explicou Peter Belobaba, principal pesquisador do Centro Internacional de Transporte Aéreo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), à rede britânica BBC em 2019. "Do ponto de vista econômico, faz todo o sentido cobrar tarifas mais baixas na rota Boston-Las Vegas, mesmo que seja mais longe do que Houston em termos de milhas, especialmente se a concorrência estiver cobrando US$ 199 por um voo sem escalas", acredita.

Por que as aéreas odeiam o skiplagging?

Quando um passageiro utiliza o truque, as companhias não conseguem receber pelo valor de mercado daquele assento. Se ela tivesse vendido a passagem para a rota realizada pelo passageiro que "desceu antes", e não para aquela que ele comprou, teria recebido uma tarifa mais alta. Ou seja, o lucro é encolhido em um negócio que já tem margens reduzidas.

No entanto, é importante lembrar que muitas companhias praticam o overbooking, ou seja, vendem mais passagens do que assentos disponíveis em um voo, porque sabem que alguns passageiros não vão aparecer. Portanto, nem sempre o assento fica vazio para o trecho final.

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Quem são os 'skiplaggers' e por que eles são uma dor de cabeça?

Os passageiros que costumam "saltar antes" do voo são justamente aqueles viajantes mais experientes, que costumam ser os melhores clientes das companhias. E, por isso, é ainda mais complexo combater a prática. Caso uma empresa opte por colocar os praticantes do "skiplagging" em uma lista e os impedir de voar, ela estará abrindo mão de sua melhor clientela.

Aktarer Zaman, engenheiro que fundou o site Skiplagged em 2013, onde disponibiliza informações sobre as melhores ofertas para as chamadas "cidades ocultas" — as tais escalas utilizadas como destino final — revelou ao jornal The New York Times na terça (12) que cerca de 25 mil pessoas usam o truque pela sua plataforma mensalmente. E ele mesmo dá dicas para escapar do radar das empresas, como não usar uma companhia duas vezes seguidas.

Não à toa, ele já foi processado pela United Airlines, American Airlines e Southwest Airlines. Mas suas dicas têm defensores, que acreditam que as companhias estão recebendo pelos bilhetes conforme foram disponibilizados e, só porque um cliente fez uma compra, não é obrigado a usar o produto. Tanto que um financiamento coletivo arrecadou mais de US$ 80 mil para a sua defesa contra o processo da United, em 2015, que a empresa perdeu.

O que pode acontecer com quem pratica o skiplagging?

As companhias já utilizam medidas para conter os passageiros que realizam skiplagging, seja pelo monitoramento de viajantes frequentes ou itinerários incomuns. Algumas também empregam funcionários que aguardam o desembarque dos passageiros e os acompanham até o portão de embarque do próximo trecho.

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Segundo especialistas ouvidos pela BBC, quem tenta abandonar um voo em uma conexão pode ser impedido de sair do aeroporto caso seja descoberto ou ser obrigado a comprar uma passagem de volta de última hora que custa mais do que o valor que estava tentando economizar. Agências que auxiliem nestas vendas também podem pedir sua autorização de emissão de bilhetes para aquela companhia.

Caso não haja flagra, você pode receber uma carta da empresa discriminando punições, como a perda de suas milhas acumuladas em programas de fidelidade — e as aéreas podem, mesmo que seja inconveniente, compartilhar os nomes dos passageiros que realizam skiplagging com seus parceiros e bani-los. Em 2019, a aérea alemã Lufthansa ainda processou um passageiro que pulou um trecho da passagem e pediu uma indenização de mais de US$ 2 mil.

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