'Dão até lanchinho': ela conta como conseguiu viajar de graça em voo da FAB
A tatuadora Isadora Lemos, 34, costuma viajar muito a trabalho. Ela é do Rio, mas também atende em São Paulo, Curitiba e Brasília.
Trajetos de avião são comuns para ela, mas foi a primeira vez que, em setembro, embarcou gratuitamente em uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir à capital federal.
Ela usou uma facilidade da instituição que transporta civis sem custo em território brasileiro, o CAN (Correio Aéreo Nacional), e compartilhou a experiência no Instagram.
Em resumo, é como pegar carona com os militares, aproveitando espaços vazios nos aviões e a rota que já vão fazer para alguma missão em outro estado.
Ao se inscrever e solicitar um lugar no avião, a pessoa deve informar o período que deseja partir, mas não tem como escolher a data exata. O embarque depende da disponibilidade de vagas e de aeronave com destino ao lugar desejado.
Isadora se inscreveu com a mãe e o filho numa terça-feira e viajaram na quinta-feira. "Precisa ter disponibilidade e flexibilidade", disse a Nossa.
Ela teve de ir ao CAN do Aeroporto do Galeão para se candidatar, mas, em alguns locais, é possível se inscrever por telefone. Para se informar, é só ligar em uma das unidades listadas no site da FAB.
'Eles pesam você e sua bagagem'
O voo é confirmado por email e, no dia, basta comparecer ao local indicado. A tatuadora foi orientada a chegar três horas antes, por volta de 8h, na Base Aérea de Santa Cruz, de onde partiriam.
"Aguardei 30 minutos e parecia que não ia sair, e eles avisam antes que isso pode acontecer", comentou.
Com previsão de sair às 11h, o voo atrasou porque a aeronave chegou à base pouco antes das 13h. Enquanto isso, a família teve algumas experiências diferentes.
"Eles pedem para ir com poucas coisas, no meu caso que foi avião pequeno, para não correr o risco de não viajar. Eles te pesam e pesam sua bagagem", disse. Outra curiosidade foi almoçar com os militares e ouvir suas histórias como agentes da FAB.
Quando o avião em que viajaram chegou, ela entendeu que era um pouso apenas para abastecer e desembarcar alguns militares. Então, foi nessa brecha que a família conseguiu as vagas.
Experiência a bordo
Isadora conta que, apesar de inédito, tudo foi bem organizado. A equipe da FAB já tinha informado o porte do avião, que não havia banheiro nele, o tempo de voo —maior do que seria em voo comercial— e que faria calor nos primeiros minutos da decolagem.
"É tudo bem avisado, nada é surpresa, inclusive que pode ser cancelado de última hora."
Em certo momento, a família recebeu um lanche dentro de saquinhos com fechamento hermético. "São tão fofos que dão até lanchinho", disse ela, em um vídeo publicado nas redes sociais.
"Pelo que li, nem todo voo é assim. Parece que o lanche sobrou para a equipe de transição e distribuíram para os civis."
Um momento de leve tensão foi quando Isadora viu o vidro da frente do avião ser coberto, impedindo a visão de fora.
"Eles decolam com vidro descoberto. Teve uma hora que fecharam e vi dois dormindo e outro acordado lendo um livro. Fiquei meio apavorada, mas confiei muito. Parece que é normal deixar no piloto automático até que tenha de configurar para aterrissar."
Uma semana depois da viagem, o marido e a filha de Isadora também conseguiram vaga em avião militar, mas de porte maior e saindo do Galeão. A aeronave tinha banheiro, e os passageiros fizeram procedimento (quase) padrão: passaram pelo raio-x e tiveram bagagem farejada por cachorro.
Como a inscrição no CAN é por trecho, Isadora não conseguiu vagas para voltar de Brasília com a FAB, mas já sabe que fará novas tentativas quando for possível. "Fiquei bem surpresa de estar no ambiente deles, passei muitas horas na base aérea, tudo muito regradinho, eles são bem gentis."
'Moral e bons costumes'
Ao receber a confirmação do voo, o passageiro recebe algumas observações da Aeronáutica, que Isadora compartilhou com a reportagem:
- A rota pode ser alterada ou cancelada devido a necessidades operacionais;
- Se não puder comparecer, avise antes da viagem, pois, do contrário, você fica impedido de se inscrever novamente por 30 dias;
- A bagagem tem de pesar, no máximo, 15 kg. Acima disso, deve ser despachada com antecedência pelo terminal de carga;
- Os passageiros civis não podem embarcar usando: calções, bermudas, chinelos, camisetas sem mangas ou "peças de vestuário com inscrições que atentem contra a moral e os bons costumes".
Para embarcar com a FAB, confira se saem voos da sua cidade para outros destinos. Lembre-se de que não são todos os lugares que estarão disponíveis, e a pessoa precisa informar em quantos e quais estados tem interesse para ser chamada. A instituição também orienta que a solicitação seja feita com antecedência.