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'Ser humano mais próximo está a 400 m': eles contam como é viver em veleiro

Vinícius e Luciana vivem a bordo de um veleiro em Santa Catarina Imagem: Arquivo pessoal

De Nossa, em São Paulo

08/12/2024 05h30

Morar na praia é o sonho de muita gente. Acordar, abrir a janela, dar de cara com a brisa que vem do mar. Mas morar no meio da água já é outra história —que fica reservada aos mais corajosos.

Desde muito novo, o mecatrônico Vinícius Freitas, 37, já sonhava em viver em um veleiro. Na época, ele treinava e competia em um pequeno clube de Porto Alegre.

"Um ano depois que eu tinha começado a velejar, aos 14 anos, eu já imaginava que um dia eu ia comprar um barco grande e morar a bordo", conta ele a Nossa.

Luciana e Vinícius no veleiro onde moram Imagem: DIvulgação/Marina Itajaí

Mas, ao atingir a maioridade e entrar na área de tecnologia educacional, sua meta da adolescência foi deixada de lado. Ele prosperou e se mudou para São Paulo. Pouco tempo depois, viu os negócios declinarem e foi para Florianópolis.

Foi lá que ele lembrou do sonho antigo. "Tive a ideia de vender tudo. Não precisava morar em um super veleiro: podia morar em um barco bem mais simples. E foi o que eu fiz", lembra ele.

Veleiro do casal por dentro Imagem: Arquivo pessoal

Eu não tinha ninguém, uma namorada ou uma esposa. Vendi minha casa, vendi meu carro. Comprei um veleiro e deu para eu me organizar. Fiquei quatro anos morando nele.
Vinicius Freitas

Alguns anos depois, a arquiteta Luciana Tenório, 40, entrou na vida dele. Ele estava vendendo o veleiro para se mudar para o Nordeste, onde sua empresa voltava a crescer.

O objetivo era organizar as finanças para, depois, comprar um barco maior. Mas aí veio a pandemia e, com o avanço da crise sanitária, o plano de viver embarcado falou mais alto.

Eles elogiam a possibilidade de estar perto de pontos turísticos e viver em meio ao silêncio Imagem: Arquivo pessoal

Para mim, a vida já não tinha sentido se eu não estivesse morando em um barco. É uma paz, não tem como descrever. É um silêncio. O ser humano mais próximo muitas vezes está a uns 400 metros daqui. Eu posso mudar minha casa para qualquer lugar.
Vinicius Freitas

Já para Luciana, morar a bordo nunca foi um sonho. Pelo contrário: até conhecer Vinícius, ela nem sequer tinha entrado em um veleiro. E, como ele estava vendendo o barco, não achou que os planos de voltar a morar no mar eram sérios.

Sala do barco do casal Imagem: Arquivo pessoal

"Imaginei que ia ser um hobby para ele", completa a arquiteta. Mas ela percebeu que o marido não se adaptou à vida em terra firme.

Eu digo que ele não se adaptou porque hoje eu, se voltasse a morar na cidade, talvez não me adaptasse também. A comunidade náutica é muito unida, isso contamina a gente de uma maneira boa.
Luciana Tenório

O veleiro em que o casal mora hoje é chamado por eles de Nomad Wind e tem 32 pés (cerca de 10 metros). Ele pode ser comparado a um apartamento pequeno: tem um quarto, uma sala, um banheiro com chuveiro e água aquecida, além de uma cozinha equipada com fogão, geladeira, pia e espaços de armazenamento internos e externos.

Um apartamento com as mesmas condições e vista para a Beira Rio (área de lazer costeira de Itajaí), onde eles estão alocados, tem aluguel médio de R$ 5.000 —fora custos de condomínio.

Cômodos são pequenos, mas planejados e bem aproveitados Imagem: Arquivo pessoal

O casal gasta R$ 2.300 por mês pela vaga molhada na marina Itajaí —o que inclui internet, segurança e assistência 24 horas, além de comodidades como lavanderia, vestiário e estacionamento. Outros dez vizinhos, também em barcos, vivem no mesmo local.

Eles moram ancorados no pier da marina. Mas, em poucas horas, eles conseguem se deslocar para diferentes praias badaladas: Tinguá, Porto Belo, Jurerê Internacional.

"Atrapalhar a vista dos turistas, fazer parte da vista deles, no lugar mais nobre que existe", brinca Vinicius. "A gente fica lá e está dentro de casa, não falta nada."

Apesar de hoje estar totalmente adaptada, Luciana lembra que o começo foi complicado. Acostumada com o clima tropical de Maceió, ela se assustou ao experimentar o vento gelado catarinense.

A gente entrou em um barco em reforma, com recursos limitados, estava ainda dando os primeiros passos na minha profissão, era início do casamento, meio da pandemia. Foi muita coisa junto. Imagina, ficar num ambiente desse tamanho?
Luciana Tenório

No que diz respeito à comunidade náutica, a falta de união pode custar vidas. O casal lembra uma vez em que estavam descansando e chegou um pedido de ajuda em um grupo de WhatsApp: o mastro de uma embarcação próxima tinha caído.

Cozinha tem fogão e pia Imagem: Arquivo pessoal

Na hora, Vinícius saiu correndo com mais duas pessoas. Eles pegaram um barco, conseguiram chegar antes do resgate e acalmaram os ocupantes do veleiro —entre eles, uma senhora e dois cachorros.

"Se a gente demorasse um pouco mais, o barco teria acabado, se arrebentando nas ondas da praia, e teria parado aqui em Navegantes (SC)", lembra ele. Em uma outra ocasião, o mecatrônico precisou frear a corrente de uma âncora com as mãos.

A náutica é isso. Está todo mundo vivendo um sonho.
Vinicius Freitas

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