Apertem os cintos, a pista sumiu: aeroporto só funciona quando a maré deixa
O turboélice DHC-6 Twin Otter operado pela LoganAir decola de Glasgow, levando não mais que 20 passageiros, e em cerca de uma hora está no destino. Mas o piloto não consegue pousar, e o motivo assustaria em qualquer lugar do mundo: a pista de pouso sumiu.
Mas não aqui. Nesta ilha, o problema é comum. O avião retorna a Glasgow e tentará mais tarde. Paciência.
Esse é o preço a se pagar à natureza por usar um dos aeroportos mais cenográficos do planeta. É o único com voos regulares saindo e chegando de uma pista que fica na praia.
É diferente de outros belos aeroportos cujas pistas foram construídas sobre ou próximas da faixa de areia. Em Barra, a própria praia é a pista.
Aeroporto único
São três pistas, formando um triângulo, com extensões que variam de 680 a 846 metros. Postes de madeira as delimitam e não há nenhuma outra marcação nem iluminação. Então, caso um voo de emergência precise ser realizado à noite, carros iluminam a pista.
Existe apenas um destino, Glasgow. São dois voos diários saindo e dois voltando da maior cidade escocesa.
Ao se aproximar do aeroporto, o piloto precisa contatar a torre para saber das condições da praia. É a maré que determina se ele poderá pousar ou não.
Mesmo que ela esteja baixa, para além das boias de marcação, o pessoal em terra precisa verificar a praia para se certificar de que não há poças, uma ameaça para pousar em segurança. Por isso, não raro, os aviões precisam retornar a Glasgow, a cerca de 200 quilômetros de distância.
Os funcionários do aeroporto também precisam checar se não há ninguém na pista quando um avião se aproxima. Afinal, ela é uma praia - e mantém sua função social de praia quando as aeronaves estão longe.
Seja para passear com o cachorro, surfar ou apenas relaxar na areia, moradores e turistas usufruem dela sempre que podem. Isso que é equipamento público multiúso.
Para saber se podem andar na areia em segurança, as pessoas precisam observar a biruta, aquele cone vermelho e branco, comum em pistas de pouso, que indica a direção e a velocidade do vento. Se ela estiver instalada, o aeroporto está em funcionamento. Caso contrário, praia liberada.
Em operação desde os anos 1970, o aeroporto recebe atualmente cerca de 14 mil passageiros por ano. É o equivalente ao que o Aeroporto de Guarulhos tem de movimento em apenas três horas, segundo os dados de 2023.
Veja como é o pouso:
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Quero receberEscócia (muito) além do óbvio
Esqueça por um momento kilts e gaitas de fole, as Terras Altas e o monstro do Lago Ness. A Ilha de Barra talvez seja o mais próximo que daria para chamar de "Escócia tropical".
Claro, é um exagero e um erro geográfico, pois ela fica muito acima do Trópico de Câncer. A máxima média no verão é de 15ºC.
Mas tem areia branquinha e mar de águas cristalinas. Isso sem falar desse nome, que pode nos causar uma confusão metalinguística. "Barra" seria uma evolução de "Barrey". "Ey" é o sufixo nórdico para "ilha", por isso muitas ilhas onde havia assentamentos vikings na Escócia têm nomes terminados com "ey" ou "ay".
Logo, Barra seria a "ilha de Barr". Barr, por sua vez, seria o santo padroeiro do local. Ou seja, não tem nada a ver com a nossa "barra", um termo geológico para uma entrada estreita em um porto.
A Ilha de Barra, que fica localizada no arquipélago das Hébridas Interiores, tem mais a oferecer do que seu aeroporto peculiar. Há passeios de caiaque e também atrações mais "escocesas", digamos assim, como destilaria, castelo e torre medieval.
O Castelo Kisimul foi construído no século 15 por um clã de temidos marinheiros. Um deles, Ruari, o Turbulento, chegou a ser preso por pirataria ao atacar um navio do rei Jaime 6º, sucessor de Elizabeth 1ª.
O castelo fica em um rochedo na orla de Castlebay, a principal vila de Barra. Atualmente, ele está fechado para restauro.
Outras atrações locais incluem a vila abandonada de Eoradail, na ilhota vizinha de Vatersay, avistamento de focas e trilhas e rotas de ciclismo, que conectam dez ilhas do arquipélago.
Já a ilha de Mingulay também foi abandonada por humanos há mais de um século e hoje é um refúgio de vida selvagem. Fãs de observação de aves a procuram para ver de perto os belos e curiosos papagaios-do-mar, conhecidos em inglês como "puffins".
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