Restaurante mais antigo da Flórida faz 120 anos e comporta 1.700 pessoas
Cento e vinte anos é uma comemoração de respeito. Esta é a idade que completa este ano o restaurante mais antigo em funcionamento na Flórida, nos Estados Unidos. E ele não é uma portinha escondida em uma esquina qualquer. Nada modesto em tamanho, aparece fácil. Ocupa um quarteirão inteiro da região histórica de Tampa, a Ybor City, e tem a impressionante capacidade para 1700 pessoas. Ainda assim vive lotado.
Com 15 salões, um mais opulento que o outro, o Columbia Restaurant foi de um pequeno café de esquina ao maior restaurante espanhol do mundo. O lugar cheio de superlativos e que serve comida cubana e espanhola foi fundado, na verdade, ainda antes, em 1903, quando o imigrante espanhol Casimiro Hernandes deixou Cuba para emigrar para os Estados Unidos em busca de oportunidades na indústria de charutos.
Casimiro abriu um pequeno café, o humilde Columbia Saloon, onde servia bebidas alcóolicas fortes a imigrantes e trabalhadores locais da indústria de charutos, além do potente café cubano e de sanduíches como acompanhamento. Mudou o nome do estabelecimento em 1905 para Columbia Restaurant, mas foi com a proibição do álcool na Flórida, em 1918, que o Columbia foi crescendo até alcançar os 4831 m2 atuais e os 300 funcionários na unidade.
Salões opulentos e acolhedores
Os salões, decorados com azulejos espanhóis pintados à mão, móveis de madeira e lustres elegantes, vão contando essa história. O La Fonda Dining Room, por exemplo, é de 1920 e simboliza o início dessa expansão do Columbia. Com as leis severas contra o álcool, Casimiro Hernandez ou perdia seu bar ou mudaria o conceito. Adquiriu então o restaurante ao lado, o La Fonda e, literalmente de uma hora para a outra, dobrou o tamanho de seu negócio, tornando-se um dono de restaurante respeitado.
O La Fonda é um ambiente acolhedor, com inspiração nas pequenas tavernas tradicionais da Espanha, que contrasta com os salões gigantescos do Columbia. A história e a decoração convidam o cliente a percorrer todos os salões quase como uma visita a um palácio.
O Salão Vermelho, aberto em 1935, é outro que vale espiar. Intimista e com papel de parede vermelho, era um bar e lounge anexo ao Don Quixote Dining Room, o salão famoso pelos azulejos que contavam a história do personagem de Cervantes.
Nas décadas de 1940 e 1950, era esse o lounge onde coquetéis eram apreciados enquanto o pessoal esperava as mesas do salão Don Quixote. O papel de parede vermelho virou icônico em 1958, quando o Salão Vermelho serviu de cenário intimista perfeito para uma das cenas de O Corpo que Cai, filme de Alfred Hitchcock.
As boas pedidas
Sempre gerido pela mesma família, o Columbia hoje está na quinta geração de administradores e tem outras seis unidades na Flórida. Ao contrário do que sugerem os muitos quadros nas paredes, os azulejos e as madeiras que compõem balcões, cadeiras e tetos, ali reina um clima descontraído.
A clientela é formada por famílias e grupos de amigos, e sobra simpatia dos garçons, alguns com décadas de experiência na mesma unidade. É o caso de George, que há 62 anos serve os gazpachos, paellas espanholas, croquetes de frango, empanadas e pratos com salmão, pargos e garoupas grelhados.
Ainda que o menu seja extenso, a maioria vai lá mesmo para provar os ícones do cardápio: o autêntico sanduíche cubano (US$ 15), a Columbia's Original 1905 Salad (US$ 16) e a sangria preparada à mesa (US$ 30 a jarra).
O sanduíche foi nomeado pela revista Food &Wine como o melhor sanduíche da Flórida, o que, em se tratando de Estados Unidos, não é pouca coisa. A receita é a original de Casimiro Hernandes mantida desde 1915: usando as mesmas proporções de carne, e com cada ingrediente sobreposto em camadas dentro do pão cubano, pincelado com manteiga e prensado para ficar crocante.
Menu tem história
Há um debate sobre onde foi realmente criado o sanduíche cubano: Tampa, Key West, Miami ou Havana. Fato é que em Tampa ganhou popularidade na década de 1890, quando era servido aos trabalhadores das fábricas de charutos.
Os ingredientes têm tudo a ver com a mistura de culturas que habitava Tampa na época. Os espanhóis levaram o presunto fino, os sicilianos o salame, os cubanos o porco assado marinado com o molho tradicional mojo (feito com alho, azeite e suco de laranja ou limão) e os alemães e judeus contribuíram com o queijo suíço, o picles e a mostarda.
A salada também tem uma história interessante. Fazia parte do almoço que um dos funcionários levava de casa. Outros funcionários passaram a pedi-la e ela acabou entrando no cardápio. Alface americana com presunto cozido, queijo suíço, tomate, azeitonas, queijo ralado, molho inglês e molho de alho formam os ingredientes.
As receitas não são segredo e estão em um livro elaborado por Adela Hernandez Gonzmart, da terceira geração de proprietários. Faz sentido. O tamanho do restaurante faz com que ele não seja um segredo de Tampa, mas um lugar à vista e à disposição de todos.
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