À espera do Oscar: entramos na casa de 'Ainda Estou Aqui'
Daniele Dutra
Colaboração para Nossa, do Rio de Janeiro
09/01/2025 05h30
O bairro da Urca, na zona sul do Rio de Janeiro, ganhou mais um ponto turístico. Além da famosa mureta e do Pão de Açúcar, turistas e moradores da cidade agora visitam a casa que foi cenário do filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. Desde o último domingo (5), após Fernanda Torres vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação no filme, o local tem atraído visitantes que desejam tirar fotos e gravar vídeos.
O casarão, comprado em 2021 por R$ 14 milhões, passou por reformas e receberá novos moradores ainda em janeiro. Nossa teve acesso exclusivo ao imóvel, que está em fase final de decoração e montagem dos móveis.
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O casal que vai ocupar a casa já está fazendo planos para o dia 2 de março, data da cerimônia do Oscar, onde Fernanda Torres pode ser indicada.
A gente sabia que isso iria acontecer, mas não vejo problema em a casa ter se tornado ponto turístico. Vamos chamar os amigos e assistir ao Oscar daqui, diretamente do set de gravação do filme, afirmou o proprietário, que preferiu não se identificar.
Baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015, "Ainda Estou Aqui" retrata a história de Eunice Paiva, mãe do autor. Interpretada por Fernanda Torres, Eunice enfrenta as violências do regime militar após a prisão e desaparecimento do marido, o deputado cassado Rubens Paiva (Selton Mello), no início dos anos 1970.
Por dentro da casa
Localizado na esquina da Rua Roquete Pinto com a Avenida João Luiz Alves, o casarão tem vista privilegiada para o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Com cerca de 800m² de área construída, o imóvel originalmente contava com cinco suítes. Após a reforma, duas foram transformadas: uma em closet e outra em escritório, restando três suítes completas com varandas voltadas para o mar.
A fachada foi preservada devido ao seu valor histórico. O jardim, que preenche toda a entrada, de ponta a ponta, é composto por uma variedade de plantas que ornam com a rua tranquila e arborizada. Nos fundos, a piscina compõe o ambiente junto ao lounge e que, segundo o dono do imóvel, a equipe do filme desenvolveu o set de gravações.
A porta principal dá acesso a uma sala que ficou muito marcada no filme, já que era onde o casal Eunice Paiva e Rubens Paiva, personagens principais da obra, dançavam em família, com seus quatro filhos e recebiam os amigos. No momento da visita, a casa estava sendo limpa por funcionários e era possível ver caixas espalhadas, quadros e móveis em processo de montagem. A sala de jantar permanece similar à que aparece no filme, com uma mesa imponente de dez lugares, em madeira, e a vista que dá direto para uma fonte na área externa da residência, continua com o mesmo azulejo.
O piso de taco segue por todo o imóvel, mantendo as características originais, mas a sala de estar ganhou sofás de linho modernos, mesa de centro e Smart TV. O ambiente, caracterizado no filme por uma estante de livros, agora ganhou obras de arte. A decoração ficou por conta do artista plástico Walter Goldfarb, trazendo leveza e musicalidade. A cozinha foi o ambiente mais modernizado, com eletrodomésticos e armários mais atualizados.
A casa ficou alugada para o Walter Salles (diretor do filme) por um ano e meio, mas de locação para a gravação foram seis meses. Planejamos nos mudar, mas em função disso, tivemos que fazer uma reforma, porque durante as gravações o imóvel foi envelhecido para se tornar uma casa dos anos 70. Fizemos obras de recuperação, modernizamos alguns cômodos, mas mantemos a fachada e as características internas. A ideia é o filme vir para a casa, por isso decoramos com obras que vão dialogar com essa atmosfera, trazendo música e arte, disse o novo morador ao UOL.
Mesmo com a mudança prevista, o proprietário contou à reportagem que está aceitando propostas acima dos R$14 milhões, investidos em 2021: "Ainda estamos pensando em vender ou não, mas não tenho um valor definido como estão dizendo por aí. Se recebermos uma boa proposta... acho que o próximo morador não vai gostar de toda essa visibilidade que o imóvel ganhou, a não ser que seja uma pessoa do mundo das artes também".
Ponto turístico
A casa original da família também tinha dois andares, mas ficava localizada na Avenida Delfim Moreira, n.º 80, no bairro do Leblon, bairro próximo à Urca. A família acabou mudando para Santos, em São Paulo, e o local foi vendido. O imóvel virou um restaurante e tempos depois virou um prédio.
Mesmo não sendo a casa original da família Paiva, o set de gravações na Urca tem chamado a atenção de curiosos. Enquanto o proprietário conversava com a reportagem, o portão ficou aberto por poucos minutos, mas foi tempo o suficiente para duas meninas entrarem no jardim, sem permissão, para tirar fotos do local.
Mariana Carvalho de Brito, 27, e o namorado Lucas Paes, 28, são de Recife e estão de férias no Rio com a família. Antes de chegar na cidade, o casal já tinha colocado na lista a visita ao cenário de "Ainda Estou Aqui", filme assistido por eles duas vezes no cinema.
"Ela (Fernanda Torres) interpretou super bem a Eunice Paiva. O Brasil todo reconheceu a família, o que eles passaram e ela teve muita força, muita garra e mesmo após enfrentar a ditadura, se formou e ainda conseguiu provar a morte do marido. É um filme muito especial para mim", conta a turista. "Gostei muito do filme, foi bem bacana, mas não esperava que ela fosse ganhar por causa das pessoas com quem ela estava disputando. Foi muito merecido", disse Lucas. Após a vitória, o casal chegou a brindar em comemoração ao Globo de Ouro conquistado pela atriz, que disputou com Angelina Jolie, Nicole Kidman, Tilda Swinton, Kate Winslet e Pamela Anderson.
Já os cinéfilos Walter Dhein, 43, e Saulo Silos, 38, são moradores do Rio e decidiram visitar o set de gravações por curiosidade: "Além da atuação da Fernanda Torres, o que mais me marcou foi que o filme começa muito solar, muito alegre e depois vira um filme de terror. Uma atmosfera muito pesada, pelo contexto de toda a história. Essa família de fato vive um terror no período da ditadura", disse Walter, que assistiu à obra três vezes no cinema.
Apaixonados por cinema, eles acompanham a premiação do Globo de Ouro e do Oscar há anos. Felizes pelo resultado, Saulo diz que a vitória de Fernanda foi inesperada.
"Acompanhamos essas premiações há muito tempo, fizemos bolões com os amigos, vimos pesquisas anteriores e a Fernanda Torres de fato não estava sendo cogitada para ganhar. Na hora que falaram o nome dela, nós começamos a gritar. O fato da Fernanda ter levado esse prêmio foi muito surpreendente. Isso mostra que o perfil dos votantes está mudando. E olha, nós nem gostamos de futebol, mas foi uma sensação de vencer a Copa do Mundo. O Brasil ganhou esse prêmio, foi uma vitória coletiva", disse Saulo. "É como se fosse uma amiga, alguém da nossa família que tivesse ganhando", completou Walter.