Sem luz no fim do túnel: apagões e escassez de alimentos detonam turismo em Cuba
Com apagões e escassez de alimentos, combustível e mão de obra em Cuba se agravando a cada dia, uma viagem à ilha caribenha se tornou difícil de vender.
As estatísticas do governo cubano contam a história: no início desta semana, o ministro do Turismo, Juan Carlos Garcia, disse que Cuba recebeu 2,2 milhões de visitantes internacionais este ano, bem abaixo de sua meta original de 3,2 milhões e menos da metade dos níveis anteriores à pandemia.
O declínio deste ano paralisou uma recuperação incipiente após a pandemia da covid-19, disse o governo, uma tendência negativa que, segundo o especialista em turismo cubano Paolo Spadoni, pode ser difícil de reverter.
"Infelizmente, Cuba está se tornando a cada dia mais singular por todos os motivos errados e, portanto, mais desinteressante como destino turístico", disse Spadoni, economista da Universidade Augusta, na Geórgia. "As perspectivas para 2025 não são animadoras."
Há muito tempo, Cuba atrai turistas pela mística de uma ilha governada pelos comunistas que, pelo menos para os visitantes, parece congelada no tempo graças a uma infinidade de automóveis da década de 1950 e cidades em sua maioria livres do tipo de desenvolvimento comercial visto em outros lugares do Caribe.
O motorista de táxi David Sarzo, que dirige um sedã americano antigo em Havana, disse que ele e seus colegas não conseguiam ver "nenhuma luz no fim do túnel por causa da crise... que está levando os agentes de turismo a desviar os clientes de Cuba".
A capital Havana, à beira-mar, é emoldurada pelo imponente castelo El Morro e, na zona rural, os bois ainda aram os campos onde o tabaco é cultivado e depois enrolado à mão.
Mas três apagões em todo o país nos últimos meses de 2024 afetaram praticamente todas as facetas da vida na ilha, inclusive o turismo. Embora alguns grandes hotéis tenham geradores, as acomodações de baixo custo e as casas de aluguel geralmente não têm, forçando os hóspedes a ficarem sem ar-condicionado.
Após o mais recente colapso da rede elétrica da ilha, o Ministério do Turismo procurou tranquilizar os possíveis visitantes.
"Estamos preparados para enfrentar os desafios atuais e garantir que as atividades turísticas sejam desenvolvidas normalmente", disse o ministério em uma declaração nas mídias sociais.
Mas as más notícias já foram divulgadas.
O Canadá — que envia mais turistas a Cuba do que qualquer outro país — agora está dizendo a seus cidadãos para "exercer um alto grau de cautela em Cuba devido à escassez de necessidades básicas, incluindo alimentos, medicamentos e combustível".
A Alemanha também emitiu recentemente um aviso semelhante, pedindo aos viajantes que "considerem cuidadosamente a necessidade" de uma viagem à ilha.
Várias empresas seguiram o exemplo.
A agência de viagens canadense Sunwing disse à revista especializada PAXNews que retirou 26 hotéis de sua lista de destinos em Cuba, citando a "volatilidade ... que pode abalar a confiança do consumidor".
A Condor Airline, da Alemanha, que voa para Cuba há décadas, afirmou em um comunicado neste mês que suspenderia seus voos para a ilha a partir de maio, preferindo "destinos com mais demanda".
"Viajei para cá em dezembro do ano passado, e havia mais turistas, mas este ano muito menos", disse o turista canadense Kyle Cong, que atribuiu o declínio às notícias sobre os recentes apagões em todo o país.
"As pessoas ficam preocupadas", declarou ele.