Artista portuguesa retrata imagens do Brasil em quase uma década de viagens
Na cidade do Porto, a exposição "Transa - Baladas do último sol" convida a uma dança de imagens registradas pela artista e pesquisadora portuguesa Ângela Berlinde durante as viagens que fez ao Brasil, ao longo de quase dez anos.
A mostra da artista e pesquisadora portuguesa Ângela Berlinde reúne um conjunto de trinta e cinco fotografias. "São imagens que circulam entre a floresta amazônica e a sua paisagem inquietante, poderosa. Podemos ver imagens, também, de animais que integram o universo mais misterioso e mítico da floresta e retratos de nações indígenas", descreve.
As fotografias feitas por Berlinde retratam comunidades indígenas de várias regiões do Brasil, como o norte de Belém, a Floresta Amazônica e o nordeste, destaca a artista e pesquisadora. "São as nações Tupi-Guarani, do Jenipapo-Kanindé, dos Tapebas, comunidades dos Tupinambás, na Bahia, e, naturalmente, de algumas nações indígenas do Cariri", descreve.
A exposição "Transa - Baladas do último sol" começou a ser planejada durante a pandemia, explica Ângela, mais precisamente em março, durante o confinamento imposto pelo primeiro estado de emergência, em Portugal. "Pude então olhar para o meu arquivo e extrair formas e funções poéticas que me levaram a fazer uma autorreflexão sobre o que é este trânsito entre Portugal e Brasil", explica a artista.
"Hibridismo das linguagens"
Do acervo, a artista e pesquisadora extraiu registros antigos e mais recentes, que trazem o que descreve como "uma mescla de tempos, de linguagens e de "hibridismo das linguagens", ressalta.
A mostra revela a capacidade de Ângela Berlinde de promover a conexão entre linguagens diferentes, ao explorar o cruzamento da fotografia com outras técnicas de imagem. Além do infravermelho, que dá uma "sensação de estarmos diante de uma floresta em transe", ela destaca as imagens pintadas - "uma técnica particularmente utilizada no Brasil, mais especialmente no nordeste do Brasil", explica.
Reflexões
"Transa - Baladas do último sol" reúne reflexão poética, homenagem às comunidades indígenas e se inspira "na questão da Iracema, a virgem dos lábios de mel", romance brasileiro publicado em 1865 e escrito por José de Alencar. Iracema, diz a artista e pesquisadora, "é a representação máxima de uma terra destruída, ferida, em lágrimas".
O trabalho de Ângela também pode ser compreendido como um gesto político. "Não no sentido partidário, no sentido de comungar um partido, mas, sim, no sentido de consciência, de reflexão global, de olhar para o mundo no sentido de presença do hoje, do que é olhar a condição indígena, a condição ecológica no Brasil, a condição de olhar para as coisas com humanidade."
Berlinde se diz convencida de que o artista tem um papel fundamental "em criar brechas no pensamento, em abrir espaço para a reflexão, para a discussão, para a análise e, acima de tudo, para a crítica."
Fotolivro
Além da exposição, a artista portuguesa também lançou um fotolivro no último sábado (28), na cidade do Porto. A obra de 185 páginas, editada por Jhannia Castro, reúne 77 fotografias e mais experimentações. "Crio uma obra híbrida, também multidisciplinar, e que recorre à fotografia, à literatura e às histórias em quadrinhos. É, com certeza, um grito profundo em homenagem à natureza."
Vida acadêmica
Berlinde tem um trabalho vasto no campo da imagem. Atua como curadora em projetos e exposições em outros países europeus, latino-americanos e asiáticos, e também é professora na Escola Superior de Media, Artes e Design, do Instituto Politécnico do Porto.
Pesquisadora no Pós-doutorado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela vive entre Portugal e Brasil. Dessas idas e vindas, a sensação de pertencer a mais de uma terra.
"Carregamos no corpo também uma sensação de pertencimento também pelos lugares por onde passamos. E sempre me fortaleço em todas as viagens que teço ao Brasil, e de cada vez que procuro ali me encontrar, olho com muita admiração perante um país feito de resistência."
A exposição "Transa - Baladas do último sol" está aberta até o dia 31 de dezembro, no Espacio Jhannia Castro, na cidade do Porto.
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