Brasileira retorna a Paris e aponta discriminação contra viajantes vindos do Brasil
A empresária paulista Fernanda Ogliano retornou de São Paulo para Paris no último domingo (25) e diz estar "chocada" com as charges pejorativas e preconceituosas que tem visto nas redes sociais agora que o Brasil é apontado como uma fábrica de variantes do coronavírus. Dois dias depois de desembarcar na capital francesa, onde mora há seis anos, ela foi controlada em seu apartamento por três policiais à paisana, que foram verificar se ela estava cumprindo a quarentena obrigatória de dez dias exigida pelas autoridades francesas.
Em entrevista à RFI*, Fernanda relatou que foi informada por funcionários da companhia Air France, no embarque em São Paulo, sobre as condições da quarentena que teria de respeitar quando chegasse em Paris. Assim, não foi uma surpresa quando três policiais tocaram a campainha de seu apartamento na terça-feira (27). Por outro lado, ela estranhou que os agentes estavam à paisana.
Segundo Fernanda, eles se identificaram, ficaram na porta do apartamento e pediram que ela apresentasse seu passaporte, mantendo uma boa distância física da empresária. "Eles explicaram que eu só poderia sair do apartamento duas horas por dia, das 10h às 12h, para ir à farmácia e ao supermercado. Me senti intimidada porque falaram que eu poderia receber visitas de outros policiais, civis ou uniformizados, até terminar minha quarentena", conta a paulista.
Ela perguntou se não poderia sair para levar e buscar o filho de 6 anos na escola, mas ouviu uma recusa dos agentes. "Fiquei aborrecida por não poder acompanhar meu filho e achei estranho poder entrar num supermercado ou numa farmácia, onde circulo por mais tempo, e não poder deixar uma criança na porta da escola", ponderou a brasileira. Mesmo assim, ela disse que respeita as normas do país onde vive.
Fernanda relata que o que mais a incomodou no controle policial foi o fato de os agentes terem pedido para ela mostrar seus documentos em pleno corredor do prédio onde mora. "Eu me senti envergonhada, porque imaginei o que os meus vizinhos poderiam estar pensando sobre esses policiais parados na minha porta, pedindo o meu passaporte."
A mineira Rubiana Fortes, que também retornou do Brasil no domingo, contou à RFI que passou por quatro checagens no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle antes de poder deixar o terminal.
Charges grosseiras com mulheres brasileiras nas redes sociais
Fernanda viaja com frequência para o Brasil por motivos profissionais. Neste último ano, com a pandemia, ela acabou adiando a ida para São Paulo. Ela diz ter viajado em abril porque realmente precisava assinar documentos indispensáveis à sua atividade empresarial, que garante seu sustento e dos filhos na França. "Fui barrada pela polícia de fronteira no embarque para dar explicações; já não estavam deixando ninguém viajar, se não fosse por um motivo imperativo", relata.
Em São Paulo, com tudo fechado, ela diz ter respeitado as medidas preventivas para não se contaminar. Fez reuniões online e até antecipou em vários dias seu retorno a Paris, quando percebeu que a situação entre os dois países estava ficando tensa por causa da variante brasileira.
A decepção, no entanto, foi chegar em Paris e constatar o aumento das discriminações contra brasileiros. "Eu gostaria de pedir ao governo francês que tivesse um pouco de cuidado para que a gente não sofra preconceito ou xenofobia com essas charges que estão rolando nas redes sociais", afirmou.
"Uma delas me deixou chocada: uma mulher brasileira de biquíni com uma bunda gigante, com várias variantes saindo da bunda dela", contou Fernanda, indignada. "É extremamente grosseiro, preconceituoso e acho que o brasileiro está se cuidando tanto quanto o francês nesta pandemia. A cidade de Paris tem muito mais gente na rua do que em São Paulo", apontou a brasileira.
Ela lembra que o Brasil tem um histórico de país "campeão" em vacinas. "Eu acredito que essa propaganda que fazem de uma nação só leva ao preconceito, como acontece com a China, o Brasil e agora a Índia", destaca.
Fernanda diz aprovar as normas sanitárias francesas e acredita que o governo Macron "tem muito mais cuidado com a pandemia do que o governo brasileiro". "Isso é uma certeza, eles proporcionam testes gratuitos, eu tenho todas as informações sobre a Covid. (...) Minha mãe foi contaminada por meu filho de 14 anos, que trouxe a covid da escola, e sempre fomos bem atendidas pelo sistema francês de saúde", ressalta.
Com a experiência de quem já mora na França há anos, a brasileira sabe que os franceses dão grande importância à origem das pessoas. "O que eu peço é um cuidado quando se faz referência a uma nação, porque daqui a pouco o brasileiro vai virar outro povo discriminado da história francesa", desabafa Fernanda. "O meu recado é que todo mundo está junto nesta pandemia", conclui.
* Entrevista concedida a Natalia Olivares, da redação em espanhol da RFI
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