Giovanna Nader lança livro de moda sustentável em Paris: "é acessível"
A comunicadora, consultora de moda e ativista ambiental Giovanna Nader acaba de lançar no Brasil seu primeiro livro "Com que roupa? Guia prático de moda sustentável".
Nessa entrevista à RFI, ela alerta para a necessidade de mudança imediatas de comportamento para salvar o planeta e diz que moda e sustentabilidade, apesar de parecerem palavras contraditórias, podem e devem conviver.
Giovanna Nader, apresentadora do programa de televisão "Se essa roupa fosse minha", entrou no setor da moda sustentável em 2013 quando criou o projeto Gaveta, onde as pessoas trocam roupas que não usam mais.
De passagem por Paris, ela aproveita para promover seu primeiro livro "Com que roupa?", editado pela Companhia das Letras. A obra foi inicialmente pensada como um guia prático de moda e consumo sustentável. A ideia era dar "dicas de como comprar de maneira sustentável, como fazer com que as roupas durem mais, como conservar, como descartar", conta.
Mas durante o processo de escrita, iniciado em 2018, vários problemas ambientais — como as queimadas na Amazônia, o vazamento ambiental nas praias do Nordeste, e a pandemia de Covid-19 fizeram com que Giovanna Nader dedicasse mais da metade do livro para fazer um alerta sobre a urgência de mudanças para salvar o planeta.
"Eu me perguntei por que falar de roupa, de moda, num momento tão crítico? Então, decidi usar a moda como um fio condutor para uma expansão de consciência".
A moda é um assunto que está no nosso dia a dia, no cotidiano. Todo mundo usa roupa. Decidi usar a leveza da moda para tocar assuntos mais sérios e, assim, expandir a consciência de quem está lendo."
Números alarmantes
A ativista ambiental lembra que o setor da moda "está entre os cinco mais poluentes", sendo responsável por 8% a 10% das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, é o que produz 20% de águas residuais do mundo, sem esquecer o altíssimo número de descarte de roupas.
Calcula-se que 80 bilhões de roupas novas são produzidas por ano e 40% delas são pouco ou quase nunca usadas e vão parar em aterros sanitários ou lixões.
"A moda tem números muito alarmantes e a mudança precisa acontecer rápido. A gente pode aprender a questionar a roupa que compra na loja, de onde ela vem, quem faz, qual é o impacto daquela roupa no mundo."
Você pode questionar tudo que consome, seu estilo de vida. A moda é um tema muito potente nesse sentido."
Giovanna Nader escreve com se estivesse conversando com os leitores e leitoras o tempo todo. O livro tem uma pegada autobiográfica e conta seu percurso e transformação de consumista a consumidora sustentável. Ela espera que o livro ajude os leitores a consumir com mais consciência.
"Eu me uso muito como cobaia porque foi através da moda que tomei consciência de como precisava mudar. Depois do nascimento da minha família, uma outra chavinha de consciência me alertou que a geração dela iria ser impactada."
Economia capitalista
A comunicadora lembra que vivemos em um "mundo capitalista consumista, onde nunca nos ensinaram a questionar. Só nos empurraram coisas" e produtos descartáveis. Moda, que remete a novidades e tendências, e sustentabilidade, que remete a coisas duradouras, podem parecer palavras contraditórias, mas não são e devem conviver.
Já existem grandes avanços no setor visando uma produção com menos impacto ambiental e social e tecidos mais naturais. Mas ainda há muito o que fazer e o consumidor pode influir nesse processo, comprando menos, preferindo produtos locais ou artesanais e adotando a economia circular, insiste.
Giovanna Nader diz que é "mito" a ideia de a moda sustentável ser cara. "Se é caro, vamos entender por que é caro. Existe todo um processo de produção mais consciente com tecidos que vão durar mais, com processo de tingimento natural, que leva mais tempo manual pagando bem seus funcionários, com direitos humanos fortíssimos. Mas a moda sustentável pode ser não só barata, como também gratuita se a gente olhar pela questão da troca de roupa".
Além disso, tem as roupas de segunda mão que podem ser compradas em brechós, bazares, sites e aplicativos, lembra a consultora de moda que garante que a grande maioria de seu guarda-roupa é composta por roupas vintage. "A moda sustentável é acessível. É muito importante a gente falar sobre isso porque a moda também é sobre luta de classes".
"Quando a gente fala que é o segundo mercado mais escravagista do mundo e que esse mercado é 80% representado por mulheres, a gente está falando sim de feminismo e de desigualdade social. Se você pegar o fio da roupa que você compra, ela está impactando uma mulher que está sendo mal paga, que está sendo escravizada. Qual a nossa responsabilidade sobre isso?", questiona.
Da ecoansiedade à ação
Giovanna Nader ensina como transformar a "ecoansiedade" em ação:
"Mais do que nos sentirmos culpados de todo esse mundo caótico que a gente vive hoje, devemos ter responsabilidade com o que a gente vai fazer daqui para frente. Eu acho que seremos cobrados principalmente pelos nossos filhos, pela geração que está vindo aí: 'onde é que você estava quando o apocalipse estava acontecendo'. Mais do que ficar desesperado, com o aquecimento global que está acontecendo, com a mudança climática que está aí, vamos sair dessa inércia e vamos ser agentes ativos dessa mudança."
A escritora, que também dá dicas de autoconhecimento no livro "Com que roupa?", aconselha às pessoas a se desconectar um pouco das redes, a se contectar mais com a natureza, para se fortalecer e agir.
"Uma vez bem fortalecido, a gente precisa encontrar qual é o nosso espaço nessa mudança, seja online, offline, se unindo a grupos ou fazendo uma diferença de comportamento dentro da sua família. Se a sua família é uma família que come carne cinco vezes por semana, duas vezes ao dia, por que não propor novos sabores, propor diminuir? Uma vez que a gente se vê agente, uma vez que a gente se vê ativo, eu acho que essa ecoansiedade diminui porque você encontra seus pares, você encontra seus iguais."
Ativista ambiental e cidadã engajada ao lado do marido Gregório Duvivier, Giovanna Nader acompanha da França as últimas notícias do Brasil e se diz otimista com o futuro do país. "Quando você vê aquela passeata, aquele protesto gigante, a gente vê que a gente está vivo e está lutando por um Brasil melhor. Esses atos começaram a me dar muita esperança de que as coisas podem mudar".
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