Símbolo de Paris, loja de 1870 reabre e deve atrair turistas; veja fotos
Um símbolo de Paris reabre suas portas para o público nesta quarta-feira (23), depois de ficar fechado por 16 anos. À beira do Sena, a Samaritaine, fundada em 1870, pretende retomar suas marcas entre os templos do consumo da capital francesa.
Dançarinos em patins rodopiavam com elegância diante das portas principais da Samaritaine, enquanto anfitriões exibindo largos sorrisos davam as boas-vindas para os visitantes. Para entrar, a máscara continua obrigatória, assim como o álcool em gel para as mãos.
"É um presente depois de tantos meses de lockdown", exclama Marie, professora aposentada, maravilhada diante da escadaria gigante em aço que se desenha por cinco andares.
Mas ela nota, também, que o luxo é onipresente, com marcas como Chanel, Saint-Laurent, Dior, Tiffany's e tantas outras por todos os cantos. "Na minha época a Samaritaine ainda era 'onde tudo se encontra'", observa, lembrando um antigo slogan.
A nova busca pela sofisticação é diretamente relacionada aos propósitos do grupo LVMH, holding francesa especializada em artigos de luxo, que comprou 55% da Samaritaine em 2001. Em 2005, por causa de riscos de desabamento, a prefeitura impôs o fechamento da loja.
O encerramento brusco e inesperado virou uma cicatriz em pleno centro de Paris. Muito se discutiu sobre o que fazer do prédio: um misto de comércio, escritórios e residências. Até que em 2010 a LVMH comprou a totalidade da Samaritaine e decidiu dar um novo rumo ao prédio, fundado em 1870 por Ernest Cognacq.
Gentrificação no centro de Paris
A mesma gentrificação se nota em um projeto anterior do grupo, propriedade de Bernard Arnault, que transformou outro endereço popular, o Bon Marché, do outro lado do Sena, em templo de consumo do luxo.
Mas o charme da arquitetura Art nouveau e estrutura Art déco foi preservado, mas com toques modernos. A renovação dos quatro blocos que compõem o complexo ficou a cargo do escritório japonês de arquitetura Sanaa. O design de interior foi assinado pelo estúdio internacional Yabu Pushelberg. Os custos de renovação foram estimados em 750 milhões de euros.
O bilionário Bernard Arnaud, capitão da LVMH, declarou durante a abertura VIP na segunda-feira (21):
Este evento marca o fim de um período trágico desta crise que atingiu o mundo todo e nosso país. Apenas um grupo familiar poderia se lançar em tal investimento sem retorno durante 15 anos".
Entre os convidados exclusivos, estava o presidente Emmanuel Macron.
Os visitantes da abertura ao público passeiam pelos 270 degraus de madeira original ou pelas escadas rolantes, muitos com câmeras e celulares em punho para registrar o momento. A estrutura óssea em metal pintado de verde data de 1907. Os painéis de vidro mudam de coloração de acordo com a luminosidade.
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A "nova" Samaritaine foi também pensada como um passeio por Paris, com sua estrutura arejada. Vidraças gigantes mostram cenas da cidade. Os consumidores cansados podem repousar em uma área menos iluminada onde um telão projeta o Sena visto do alto da Samaritaine, num lindo dia de sol. Como se fosse uma janela. O conceito lembra o de um shopping center, onde as pessoas podem passar um dia inteiro, fazendo compras ao mesmo tempo em que passeiam.
Duelo de fortunas
Em entrevista ao jornal Libération, a arquiteta, professora e crítica Françoise Fromont lembra que "a margem direita do rio Sena foi, da Idade Média até os anos 1960, o endereço do comércio popular parisiense". Aos poucos, essa identidade foi sendo perdida, com o fechamento de símbolos como o mercado Les Halles — onde hoje fica o Centro Beaubourg - e o êxodo da população modesta.
Fromont observa ainda que o centro de Paris se transformou também numa área de "batalha entre dois barões do luxo", em referência ao centro de arte contemporânea Bourse de Commerce, inaugurada recentemente para abrigar a coleção de outro poderoso bilionário francês, Francois Pinault. A antiga Bolsa do Comércio fica a poucos metros da Samaritaine.
Um outro visitante do dia de abertura, o bibliotecário Jean-François, 52 anos, lembra que sempre frequentou a Samaritaine, desde pequeno. "Eu sempre comprei minhas roupas aqui, mas agora acho que já não faço parte do público-alvo", diz.
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