Corrida por vacina após exigência de passaporte sanitário mostra prazer dos franceses em ser do contra
Após o anúncio do governo francês sobre a próxima etapa da luta contra a epidemia de Covid-19, a imprensa francesa detalha as medidas nos jornais que chegaram às bancas nesta quarta-feira (14). Em um momento em que muitos acreditavam que o país estava quase livre da doença, a obrigatoriedade da vacinação imposta aos profissionais de saúde, além da extensão do uso do passaporte sanitário para frequentar cinemas, bares, restaurantes, trens e aviões, pegou muita gente de surpresa.
"Passaporte sanitário: modo de uso" é a manchete do jornal Le Parisien. O diário traz uma reportagem especial e todos os detalhes sobre os anúncios feitos na segunda-feira (12) pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Muitas das medidas previstas serão impostas a partir de 21 de julho, o que deixa pouco tempo para a organização das famílias nesta época de férias de verão. Pouco menos de dois dias após a fala de Macron, mais de dois milhões de franceses —entre eles, muitos resistentes à vacinação anticovid— agendaram a primeira dose da injeção.
Para o editorialista de Le Parisien, isso mostra o "espírito da contradição" francês, em outras palavras, o prazer de ser do contra dos franceses.
Antes da chegada das primeiras doses das vacinas anticovid, 40% dos franceses não queriam se vacinar, mas o comportamento mudou quando a imunização começou, no início do ano. Naquela época, diante da falta de injeções para todos, as pessoas eram favoráveis à medida. No entanto, muitos se tornaram resistentes depois que raros efeitos colaterais dos fármacos começaram a ser relatados.
Resultado: com quatro imunizantes contra a Covid-19 disponíveis para toda a população e diante da flexibilização das medidas, os centros de vacinação começaram a se esvaziar. Atualmente, quase 54% da população elegível à imunização recebeu ao menos uma dose e a quantidade de pessoas nos centros de vacinação vinha caindo nas últimas semanas. Mas, com o anúncio do presidente francês, "as pessoas se deram conta que a vida cotidiana seria impossível sem a vacinação porque o passaporte sanitário será indispensável para muita gente trabalhar, se divertir ou viajar", lembra.
Apoio ao passaporte sanitário
Outra contradição, afirma o jornal Le Figaro, é que apesar da enxurrada de críticas e reclamações contra as medidas anunciadas por Macron, 61% dos franceses aprovam a extensão do passaporte sanitário aos locais de cultura, transporte e restaurantes, segundo uma pesquisa do instituto Odoxa.
No entanto, o reconhecimento não alivia o verdadeiro quebra-cabeças que será para os cidadãos neste verão no hemisfério norte. Diante da surpresa de muitas famílias com a exigência inicial do passaporte sanitário a adolescentes, o governo voltou atrás e afirmou que o documento só passará a ser necessário para a faixa etária dos 12 aos 17 anos a partir de 31 de agosto.
O jornal Libération não poupa críticas ao executivo. "Doutor Macron e Mr. Bagunça" é a manchete de capa que faz um trocadilho com a obra "O médico e o monstro: Ou o estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde", clássico de Robert Louis Stevenson. Em editorial, o diário classifica os anúncios como autoritários: "se o presidente decidiu e todo mundo tem que seguir", critica.
Libé afirma que Macron impõe o que quer, sozinho, sem ouvir seus ministros, ignora seus conselheiros "e assim ninguém consegue se preparar para colocar em prática suas ordens jupiterianas", ressalta o editorialista.
O diário escreve que o governo promete ser flexível para aplicar as novas normas no começo, mas "isso vale só até o próximo discurso do presidente", conclui.
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