Famosas lojas de departamento parisienses entram em apuros sem turistas chineses
Templos dos turistas internacionais em busca da elegância à la française, as grandes lojas de departamentos de Paris estão em apuros para compensar a explosão do e-commerce e a ausência dos estrangeiros, principalmente os chineses, causada pela pandemia de coronavírus. As mais famosas, as Galerias Lafayette e a Printemps, perderam a metade das receitas em 2020 e continuaram a enfrentar as consequências de fechamentos e restrições neste ano.
No foco do problema está o direcionamento que essas lojas deram a partir de meados dos anos 2000 para a clientela estrangeira emergente, ávida por luxo e e sem prestar atenção na conta. O modelo tradicional dos grands magasins, abertos no século 19, era atender a burguesia francesa, mas a chegada dos turistas asiáticos e do Oriente Médio elevou o patamar de vendas a uma nova dimensão.
Foram anos, literalmente, de ouro: em 2019, os turistas chineses gastaram 3,5 bilhões de euros na França, equivalente a 7% do total receitas do turismo no país. Nas Galerias Lafayette, as vendas para os clientes chineses chegaram a representar 50% do total comprado pelos turistas internacionais — o que levou o grupo a abrir uma loja especificamente para este público.
Porém, oferecer luxo também custa alto. Para manter estruturas imensas como essas, de 20 mil metros quadrados em alguns dos endereços mais caros do mundo, a queda radical das vendas impôs desafios igualmente gigantescos.
Procuradas, as duas lojas não responderam aos pedidos de entrevistas e não têm se manifestado à imprensa. Mas um documento obtido pelo canal francês TF1 indicou que a Lafayette antecipa um prejuízo recorde de 928 milhões de euros neste ano, em relação a 2019. A crise já resulta em portas fechadas no interior da França, como as lojas Printemps de Metz e Estrasburgo, no leste, e a revenda de 11 lojas das Galerias Lafayette espalhadas pelo país.
Impactos da pandemia também no público francês
"O que vemos é que o modelo da loja de departamento não vai bem em todo o mundo. Ele está se reinventando. Em Nova York, estamos vendo uma migração para formatos de mais proximidade, mais urbanos, bem menores e inseridos em bairros percebidos como centros de experiência e novas descobertas", constata Véronique Varlin, diretora associada do ObSoCo, consultoria francesa especializada em consumo.
A clientela doméstica que restou não compensa os gastos desmedidos dos chineses, mas precisa urgentemente ser reconquistada. Para completar a equação, a pandemia consolidou o comércio online e ainda levou os franceses a reflexões como uma maior sensibilidade ao consumo sustentável.
"Estamos vendo que a loja física ainda tem o seu espaço garantido junto ao público, mas ela precisa oferecer algo a mais do que os sites na internet", ressalta Varlin. "Elas são obrigadas a propor coisas novas. E as lojas de departamento sempre foram isso, lugares para o cliente viver experiências."
Grifes de segunda mão
Em resposta aos contratempos, as Galerias Lafayette e a Printemps lançaram mão de estratégias semelhantes: abriram espaços especializados em moda de "segunda mão", algo inimaginável há pouco tempo. A ideia é que bolsas, vestidos e sapatos de marcas prestigiosas a preços mais em conta poderão atrair de volta as clientes francesas e europeias de passagem, já adeptas desse tipo de compra em sites especializados.
"Assim como a moda e o consumo em geral, as lojas de departamentos e o setor do luxo também são impactados pela maior expectativa do consumidor em relação ao meio ambiente. A compra de produtos de segunda mão é cada vez mais percebida como um comportamento responsável e ecológico", frisa a especialista. "Mas possibilita também, e não vamos negar, o acesso a grandes grifes a um preço mais acessível — sem falar que dá a chance de o consumidor ter o prazer de conseguir encontrar uma pérola rara entre as peças usadas."
Outra tática, desta vez para consolidar a oferta on-line, é experimentar a moda de "live shopping", em que um vendedor apresenta os produtos em um vídeo ao vivo pelas redes sociais e os internautas podem comprá-los, em poucos cliques. O conceito virou febre entre a juventude chinesa e agora seduz os jovens europeus.
"Já começou a pegar. Várias lojas grandes, como Carrefour e Sephora, já fazem isso, e parece estar funcionando porque todos continuam a fazer", diz Véronique Varlin. "Podemos imaginar, sim, que esse método tende a se desenvolver, já que funcionou tão bem nos países asiáticos."
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