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Mostarda desaparece das prateleiras de supermercado na França refletindo conjuntura de guerra

Medalhão ao molho mostarda - Getty Images/iStockphoto
Medalhão ao molho mostarda Imagem: Getty Images/iStockphoto

da RFI

02/06/2022 10h25

Pouca gente sabe, mas a Ucrânia e Rússia constam entre os mais importantes exportadores de sementes de mostarda do planeta. E a guerra em curso entre os dois países não garante mais um estoque mínimo para os consumidores franceses, que se veem, pela primeira vez, desprovidos de um condimento de base de sua gastronomia cotidiana. 

Mas a primeira causa da escassez deste condimento picante é encontrada no Canadá. Em abril de 2022, o canal de televisão BFM advertiu que, devido a uma onda de calor que em 2021 atingiu este país, o maior produtor mundial de sementes de mostarda, o quilo dessas sementes necessárias para fazer o famoso condimento havia explodido.

A mostarda está cada vez mais ausente das prateleiras dos supermercados franceses (e, quem sabe, futuramente dos mercados mundiais). O preço deste condimento saltou 9% em um ano, de acordo com o canal de televisão TF1. A guerra na Ucrânia e a onda de calor de 2021 no Canadá estão entre as causas desta dificuldade de abastecimento na Europa.

Em frascos ou garrafas, a mostarda está cada vez mais ausente das prateleiras de molhos nos supermercados devido a uma combinação de fatores desfavoráveis. Era esperada uma "diminuição drástica de 28% [nas exportações canadenses] até julho de 2022", segundo a imprensa francesa.

prateleiras; supermercado - TrongNguyen/Getty Images/iStockphoto - TrongNguyen/Getty Images/iStockphoto
O preço da mostarda já saltou 9% em comparação com um ano atrás
Imagem: TrongNguyen/Getty Images/iStockphoto

Especialmente porque a produção de sementes de mostarda no Canadá vem diminuindo desde 2020, quando atingiu um pico de 135 mil toneladas produzidas, antes de cair para 99 mil toneladas em 2021, sendo então estimada em 71 mil toneladas para este ano.

Produção em queda livre também na França

A produção está também em queda livre na França, onde muitos produtores de mostarda, inclusive em Dijon, uma cidade conhecida pela fabricação deste condimento, reclamam das condições de trabalho, onde tudo parece incerto.

"Temos uma falta de previsibilidade a curto prazo. Sabemos o que vai acontecer conosco na próxima semana. Não sabemos na semana seguinte", lamenta Luc Vandermaesen, gerente geral da empresa "Reine Dijon".

Mesmo em Dijon, a "terra das mostardas", o produto corre o risco de desaparecer - makasana/Getty Images - makasana/Getty Images
Mesmo em Dijon (foto), a "terra das mostardas", o produto corre o risco de desaparecer
Imagem: makasana/Getty Images

Na França, o setor tenta apelar para os produtores locais. Na Alsácia (nordeste), a empresa Alélor conta com uma produção local que cobre 60% de suas necessidades, mas se trata de uma ocorrência rara e faz com que os preços subam, segundo o canal regional de televisão France 3.

Mas, para o jornal Libération, outros fatores também ajudam a criar a falta de mostarda nas prateleiras, como a mudança climática causada pelo aquecimento global, as dificuldades de abastecimento e o baixo desenvolvimento do setor agrícola. "Os fabricantes de mostarda têm que reduzir sua oferta, mesmo que a demanda esteja aumentando", acusa o jornal francês.

Os estoques estão ameaçados na França também devido ao impacto do aquecimento global na produção - margouillatphotos/Getty Images/iStockphoto - margouillatphotos/Getty Images/iStockphoto
Os estoques estão ameaçados na França também devido ao impacto do aquecimento global na produção
Imagem: margouillatphotos/Getty Images/iStockphoto

Os agricultores franceses reunidos sob a Associação dos Produtores de Sementes de Mostarda da Borgonha (APGMB), no entanto, representam quase "50% da produção europeia", de acordo com seu website.

Contatado pela CheckNews, Fabrice Genin, presidente da organização, insiste sobre as dificuldades do setor agrícola francês. "Nos últimos cinco anos, temos visto uma queda na produtividade de quase 50%. Hoje fornecemos aos fabricantes franceses tudo o que podemos em quantidade, sem ter nenhum estoque", diz ele.