"Paris não é mais uma festa": estrangeiros denunciam sujeira e falta de civilidade na capital
A revista francesa L'Obs desta semana pediu a alguns estrangeiros que contassem como é viver em Paris. A capital tem sido alvo de publicações nas redes sociais que mostram a degradação da cidade nos últimos anos, bem diferente dos clichês que povoam o imaginário dos turistas.
Em suas memórias, o escritor americano Ernest Hemingway, que morou em Paris na década de 1920, escreveu: "Se você tiver tido a sorte de ter vivido em Paris na sua juventude, carregará isso com você o resto da vida, porque Paris é uma festa". É dessa experiência e desse relato que nasceu o livro póstumo "Paris é uma festa", lançado em 1964, três anos depois da morte do autor.
A reportagem publicada na L'Obs utiliza o mesmo título entre aspas, em um trocadilho com a obra do célebre escritor americano. A capital, diz o texto, está longe de ser a metrópole festiva, frequentada pela nata intelectual da época, que Hemingway descreve em seu diário - uma ode à belle vie parisiense.
O desencanto dos locais, na realidade, é palpável. É o que revelam várias fotos publicadas pelos internautas parisienses no Twitter. As imagens mostram cocôs de cachorro espalhados pelas ruas, bancos de praça pichados ou quebrados e poças de xixi. Como os parisienses têm fama de resmungões, escreve o L'Obs, a revista decidiu perguntar aos moradores estrangeiros, radicados na cidade de longa data, o que eles pensavam da vida na capital. A opinião deles não é diferente da dos franceses.
Terreno baldio
Para Matthew Fraser, professor da Universidade Americana de Paris, a sujeira e a falta de civilidade estão por toda a parte. Morador do 7º distrito da capital, ele relata que a área onde ele vive, perto da praça da Concórdia, com vista para a Torre Eiffel, parece um "terreno baldio". Ele descreve lixeiras que transbordam, jardins pouco cuidados e bancos quebrados.
O romancista e músico americano Theo Hakola já morou em diferentes bairros de Paris. O que o incomoda é o barulho. Quando ele se mudou para a capital francesa, "por amor", acabou ficando, mas nunca se sentiu "maravilhado pela cidade". O célebre autor turco Nedim Gürsel não economiza críticas, citando a arrogância dos garçons nos bares ou o metrô, onde as pessoas viajam grudadas umas nas outras, como se estivessem "dentro de uma lata de sardinha".
"Quando eu ando da praça da Concórdia até o Jardim de Tuilleries, tenho a impressão de passar no meio de uma civilização em ruínas", descreve. Já o escritor americano Dov Lynch pondera. Para ele, que não esconde seu amor pela cidade luz, há um certo exagero e "Paris sempre será Paris". Antes de acrescentar, que, de fato, não é fácil para um estrangeiro viver na capital.
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