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'São Bartolomeu': Paris relembra 450 anos de um dos massacres mais sangrentos de sua história

Uma gravura de 1572 retratando o assassinato do líder dos protestantes huguenotes, Almirante Gaspard de Coligny, e o massacre de São Bartolomeu de 24 de agosto de 1572. Artista desconhecido. - Reprodução/Departamento de Gravuras da Biblioteca Nacional da França
Uma gravura de 1572 retratando o assassinato do líder dos protestantes huguenotes, Almirante Gaspard de Coligny, e o massacre de São Bartolomeu de 24 de agosto de 1572. Artista desconhecido. Imagem: Reprodução/Departamento de Gravuras da Biblioteca Nacional da França

da RFI

25/08/2022 12h13

Para os brasileiros, a cena talvez tenha ficado imortalizada através do retrato fiel mostrado pelo filme "A Rainha Margot" (1994), do grande diretor Patrice Chéreau, com ninguém menos que Isabelle Adjani no papel principal: a noite sangrenta onde cerca de 3 mil protestantes foram assassinados a sangue frio nas ruas de Paris, em 24 de agosto de 1572. A capital francesa Paris decidiu em 2022 tornar mais visível essa terrível memória, ao renomear um parque no centro da cidade.

O massacre de São Bartolomeu é um dos pontos mais obscuros da história francesa, com poucas comemorações públicas.

Mesmo se a maioria dos franceses já ouviu falar do massacre, muitos certamente não conhecem os detalhes de um evento crucial nas guerras religiosas que traumatizaram tanto protestantes quanto católicos.

Em 24 de agosto de 1572, na tradicional noite de São Bartolomeu, os católicos parisienses caçaram e mataram quase 3.000 protestantes, conhecidos como huguenotes.

O massacre espalhou-se então pela França, deixando entre 10 mil e 30 mil protestantes mortos.

Guerras religiosas

O evento marcou o fim de uma trégua desconfortável durante as guerras de religião. Um acordo de paz de Saint-Germain-en-Laye havia sido assinado entre o Rei Carlos 9º e o líder huguenote, Almirante Gaspard de Coligny, em 8 de agosto de 1570.

A trégua desagradou aos católicos mais radicais, que acreditavam que permitir uma divisão religiosa amaldiçoaria a França aos olhos de Deus.

Em agosto de 1572 a rainha-mãe, Catherine de Médici, planejava casar sua filha, Margaret de Valois, com o protestante Henrique 3º de Navarra — um casamento que desagradava tanto os católicos tradicionais quanto o papa.

O parque em frente à igreja de Saint-Germain-l'Auxerrois homenageará os mortos no massacre - Marieke Peche/Getty Images/iStockphoto - Marieke Peche/Getty Images/iStockphoto
O parque em frente à igreja de Saint-Germain-l'Auxerrois homenageará os mortos no massacre
Imagem: Marieke Peche/Getty Images/iStockphoto

Um grande número de protestantes nobres se reuniu para o casamento em Paris, uma cidade essencialmente católica, em 18 de agosto de 1572, e muitos permaneceram depois, muitos deles hospedados no Louvre.

Quatro dias depois, enquanto Coligny voltava para casa, ele foi baleado de uma janela e gravemente ferido. Seus apoiadores se reuniram fora da cidade, embora não houvesse evidências de que estivessem planejando um ataque.

Mas os católicos de Paris temiam vingança, e no dia seguinte, em 23 de agosto, Catherine de Médici e Charles 9º mudaram de idéia sobre o apoio aos huguenotes, e decidiram eliminar os líderes protestantes. Reveja trecho do filme "A Rainha Margot", sobre a carnificina:

Naquela noite, os mercenários suíços do rei mataram os líderes dos huguenotes, incluindo Coligny, nas ruas fora do Louvre, o que provocou uma onda de violência por parte dos moradores da cidade, que caçaram e mataram protestantes durante três dias seguidos.

O rei ordenou aos governadores provinciais que impedissem a violência fora de Paris, mas massacres semelhantes ocorreram em 12 outras cidades, incluindo Bordeaux, Lyon e Toulouse.

Após os massacres, os protestantes abandonaram as cidades ou se converteram ao catolicismo, e enquanto a guerra religiosa continuou até o Édito de Nantes em 1598, e o movimento político huguenote foi expulso da França.

O parque no início do massacre

A cidade de Paris decidiu relembrar o início do massacre, renomeando um parque no centro da cidade e dedicando-o às vítimas.

O pequeno jardim ornamental plantado com castanheiros fica em frente à igreja de Saint-Germain-l'Auxerrois, onde as mortes começaram, há 450 anos.

"Os sinos da igreja de Saint-Germain-l'Auxerrois tocaram um alerta aos parisienses durante a noite: após a execução dos líderes protestantes, Isabelle Sabatier, presidente da Sociedade de História Protestante Francesa, relatou o jornal La Croix.

Uma placa no parque, que será oficialmente renomeada em uma cerimônia no dia 16 de setembro, comemorará "os milhares de protestantes massacrados em Paris em 24 de agosto de 1572 e nos dias seguintes, vítimas da intolerância religiosa".

Simbolicamente, o parque fica do outro lado da praça memorial que comemora as crianças judias deportadas para Auschwitz, em Paris.

Uma placa comemorativa foi instalada em 2016 na praça Vert-Galant, sob a ponte Pont-Neuf, mas a cidade determinou que ela não era suficientemente visível para relembrar a data.

Com o jardim, os visitantes podem seguir um caminho memorial, até o Sena, onde muitos dos corpos foram despejados, e depois até o templo do Oratório do Louvre, que abriga uma estátua de Coligny.