Sanções contra Moscou: proibir emissão de vistos para turistas russos é a solução?
Os ministros europeus das Relações Exteriores discutem a partir desta terça-feira (30), em Praga, o pedido apresentado pela Ucrânia para que a União Europeia proíba a entrada de turistas russos. A iniciativa gera fortes divisões dentro do bloco.
A Polônia e a Finlândia defendem uma posição comum do bloco europeu sobre a proposta. Este será o ponto central da agenda da reunião desta terça-feira, em Praga.
A medida seria inédita na União Europeia (UE), mas alguns países vizinhos da Rússia adotaram iniciativas unilaterais para limitar os vistos para cidadãos russos. Como parte das sanções pela guerra na Ucrânia, a UE já proibiu a entrada no continente de determinados cidadãos vinculados ao governo russos. A emissão de vistos de turista, porém, não foi suspensa.
A ideia foi apresentada pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que pediu aos países ocidentais o fechamento de suas fronteiras aos cidadãos russos, incluindo visitantes. O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, disse que os russos "apoiam em grande maioria a guerra, aplaudem os ataques com mísseis em cidades ucranianas e (o) assassinato de ucranianos. Deixemos que os turistas russos aproveitem a Rússia então".
Moscou reagiu com indignação e chamou a ideia de "irracional", além de prometer represálias. A Finlândia, país que tem a maior fronteira da Europa com a Rússia, reduzirá a partir de quinta-feira (1) o número de pedidos de vistos de turista para cidadãos russos para apenas 10% das mil solicitações diárias em média. A lei finlandesa não permite uma proibição total da concessão de vistos com base na nacionalidade do solicitante.
A medida decidida pela Finlândia, no entanto, terá um impacto: como as sanções da UE fecharam o espaço aéreo aos voos procedentes da Rússia, muitos cidadãos do país utilizam rodovias para chegar a outros países europeus. Letônia, Lituânia e Polônia interromperam a emissão de novos vistos de turista para cidadãos russos depois da invasão da Ucrânia, no fim de fevereiro.
Espaço Schengen
Os turistas russos utilizam os vistos para o espaço Schengen, normalmente válidos em 26 países da UE e em Estados associados, como Suíça e Noruega. Eles geralmente permitem estadias de até 90 dias em um período renovável de 180 dias. Os 26 países receberam quase três milhões de solicitações de visto para o espaço Schengen no ano passado. E os russos representaram o grupo mais numeroso, com 536.000 demandas.
As sanções da UE exigem a unanimidade dos 27 Estados-membros, mas a Hungria, país que mantém laços amistosos com a Rússia, poderia vetar uma proibição de vistos em todo o bloco. Além disso, alguns países da UE, como França, Alemanha e Portugal, insistem que é necessário continuar permitindo a entrada de jornalistas russos e outros civis que temem ser perseguidos.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, já declarou que proibir a entrada de todos os russos na Europa "não é uma boa ideia". A Lituânia sugeriu que, se uma proibição em toda a UE não for aprovada, seria possível buscar uma "solução regional", possivelmente incluindo Letônia, Estônia, Finlândia e Polônia, para vetar a presença de turistas russos.
"Erro de análise"
Marie Dumoulin, analista do grupo de especialistas do Conselho Europeu de Relações Exteriores, afirma que o pedido de proibição de russos na Europa constitui "um perigoso erro de análise". Segundo ela, "menos de 30% dos russos têm passaporte. E seus principais destinos de viagens são Turquia, Egito e Emirados Árabes Unidos".
De acordo com Dumoulin, uma proibição a tais vistos "terá exatamente o efeito contrário ao procurado: ao estigmatizar todos os russos, estamos alimentando a propaganda do Kremlin que há vários anos, e em particular desde o início da ofensiva na Ucrânia, denuncia a suposta russofobia dos ocidentais".
Cyrille Bret, do Instituto Jacques Delors, afirma que seria "uma contradição para a UE. Esta medida é contrária à liberdade de circulação e à política de sanções adotada até agora, que afirma que não é contra o povo russo, e sim contra o regime".
(Com informações da AFP)
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