Baguete francesa se torna Patrimônio Cultural da Humanidade, segundo Unesco
Ela é um símbolo do cotidiano francês. Quem nunca viu um parisiense andando nas ruas com a sua baguete debaixo do braço? Pois a partir de agora, a técnica para fazer esse pão que é a cara da França se tornou patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco. A votação aconteceu nesta quarta-feira (30), em Rabat, no Marrocos.
A receita não deixa dúvidas: crosta crocante e miolo macio. Para se chegar a esse resultado, os padeiros franceses utilizam uma técnica e um modo de fazer que foram reconhecidos pela organização e que pesa mais na escolha do que os ingredientes em si.
A baguete é composta por produtos simples: farinha, água, sal e fermento combinados de acordo com uma técnica especial garantida pela confederação francesa de padarias, que quer proteger esse know-how. A massa deve descansar entre 15 e 20 horas a uma temperatura entre 4 e 6°C.
Todos os dias, 12 milhões de consumidores franceses vão atrás dessa iguaria nas padarias do país, cujos fornos produzem seis bilhões de baguetes por ano. Para os franceses, ir comprar o pão é um verdadeiro hábito social.
"É um reconhecimento para a comunidade de padeiros e confeiteiros artesanais. A baguete é farinha, água, sal, fermento e a técnica do artesão", saudou Dominique Anract, presidente da confederação nacional de padarias e confeitarias em um comunicado de imprensa.
Imortalizada por filmes e anúncios publicitários, a baguete é um produto relativamente recente, surgido no início do século 20, em Paris. A sua escolha para representar o país no concurso da Unesco foi feita em 2021, desbancando outros candidatos como os telhados de zinco da capital francesa e a Festa do Vinho de Arbois, no leste da França, uma celebração medieval e religiosa, que com o tempo se transformou em uma comemoração republicana.
"250 gramas de magia"
O pão comprido, vendido em todas as padarias e também em supermercados, é um dos símbolos do país no exterior. O próprio presidente, Emmanuel Macron, deu seu apoio ao dossiê de candidatura da baguete, descrevendo-a como "250 gramas de magia e perfeição".
O reconhecimento acontece em um momento em que este saber tradicional francês está ameaçado pela industrialização e pela diminuição do número de padarias artesanais no país, especialmente nas comunidades rurais.
Em 1970, havia cerca de 55 mil padarias artesanais (uma para 790 habitantes) contra 35 mil atualmente (uma para cada 2 mil habitantes). Os cálculos apontam o fechamento de 400 padarias por ano, em média, durante os últimos cinquenta anos.
Fiel companheira das mesas tricolores, a baguete é vendida por cerca de 1 euro, ou R$ 5,46. A partir de agora, ela entra para o catálogo de patrimônio da Unesco, do qual já fazem parte a arte da pizza napolitana e a da cerveja belga.
Esta classificação "sublinha que uma prática alimentar pode constituir um patrimônio que nos ajuda a construir uma sociedade", disse a secretária-geral da Unesco, a francesa Audrey Azoulay.
"Esta inscrição homenageia o conhecimento de padeiros artesanais. Também celebra toda uma arte de viver à francesa: a baguete é um ritual diário, um elemento estruturante da refeição, sinônimo de partilha e simpatia", acrescentou. "É importante que esse saber artesanal e essas práticas sociais possam continuar a existir no futuro", finalizou Azoulay.
Além da expertise da baguete, o Comitê do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco examinou este ano 56 pedidos de inscrição. Entre eles figuram a música "raí" argelina, o harissa, um molho picante típico da gastronomia tunisiana, e a cultura do chai (chá) no Azerbaijão e na Turquia.
A França tem cerca de 20 elementos já inscritos na lista de patrimônio imaterial da Unesco, alguns deles divididos com outros países. É o caso do alpinismo, que os franceses compartilham com os suíços e os italianos.
(Com informações da AFP)
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