Topo

Baguete francesa se torna Patrimônio Cultural da Humanidade, segundo Unesco

É comum ver parisienses nas ruas com a baguete embaixo do braço - encrier/Getty Images/iStockphoto
É comum ver parisienses nas ruas com a baguete embaixo do braço
Imagem: encrier/Getty Images/iStockphoto

da RFI

30/11/2022 10h26

Ela é um símbolo do cotidiano francês. Quem nunca viu um parisiense andando nas ruas com a sua baguete debaixo do braço? Pois a partir de agora, a técnica para fazer esse pão que é a cara da França se tornou patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco. A votação aconteceu nesta quarta-feira (30), em Rabat, no Marrocos.

A receita não deixa dúvidas: crosta crocante e miolo macio. Para se chegar a esse resultado, os padeiros franceses utilizam uma técnica e um modo de fazer que foram reconhecidos pela organização e que pesa mais na escolha do que os ingredientes em si.

A baguete é composta por produtos simples: farinha, água, sal e fermento combinados de acordo com uma técnica especial garantida pela confederação francesa de padarias, que quer proteger esse know-how. A massa deve descansar entre 15 e 20 horas a uma temperatura entre 4 e 6°C.

Todos os dias, 12 milhões de consumidores franceses vão atrás dessa iguaria nas padarias do país, cujos fornos produzem seis bilhões de baguetes por ano. Para os franceses, ir comprar o pão é um verdadeiro hábito social.

As baguetes são produzidas sem parar nas boulangeries francesas - sergeyryzhov/Getty Images/iStockphoto - sergeyryzhov/Getty Images/iStockphoto
As baguetes são produzidas sem parar nas boulangeries francesas
Imagem: sergeyryzhov/Getty Images/iStockphoto

"É um reconhecimento para a comunidade de padeiros e confeiteiros artesanais. A baguete é farinha, água, sal, fermento e a técnica do artesão", saudou Dominique Anract, presidente da confederação nacional de padarias e confeitarias em um comunicado de imprensa.

Imortalizada por filmes e anúncios publicitários, a baguete é um produto relativamente recente, surgido no início do século 20, em Paris. A sua escolha para representar o país no concurso da Unesco foi feita em 2021, desbancando outros candidatos como os telhados de zinco da capital francesa e a Festa do Vinho de Arbois, no leste da França, uma celebração medieval e religiosa, que com o tempo se transformou em uma comemoração republicana.

"250 gramas de magia"

O pão comprido, vendido em todas as padarias e também em supermercados, é um dos símbolos do país no exterior. O próprio presidente, Emmanuel Macron, deu seu apoio ao dossiê de candidatura da baguete, descrevendo-a como "250 gramas de magia e perfeição".

O reconhecimento acontece em um momento em que este saber tradicional francês está ameaçado pela industrialização e pela diminuição do número de padarias artesanais no país, especialmente nas comunidades rurais.

Boulangerie em Aix-en-Provence: receita tradicional da baguete ganhou as ruas no início do século 20 - Wirestock/Getty Images - Wirestock/Getty Images
Boulangerie em Aix-en-Provence: receita tradicional da baguete ganhou as ruas no início do século 20
Imagem: Wirestock/Getty Images

Em 1970, havia cerca de 55 mil padarias artesanais (uma para 790 habitantes) contra 35 mil atualmente (uma para cada 2 mil habitantes). Os cálculos apontam o fechamento de 400 padarias por ano, em média, durante os últimos cinquenta anos.

Fiel companheira das mesas tricolores, a baguete é vendida por cerca de 1 euro, ou R$ 5,46. A partir de agora, ela entra para o catálogo de patrimônio da Unesco, do qual já fazem parte a arte da pizza napolitana e a da cerveja belga.

Esta classificação "sublinha que uma prática alimentar pode constituir um patrimônio que nos ajuda a construir uma sociedade", disse a secretária-geral da Unesco, a francesa Audrey Azoulay.

As baguetes francesas são geralmente consumidas com queijos e vinhos - Rostislav_Sedlacek/Getty Images/iStockphoto - Rostislav_Sedlacek/Getty Images/iStockphoto
As baguetes francesas são geralmente consumidas com queijos e vinhos
Imagem: Rostislav_Sedlacek/Getty Images/iStockphoto

"Esta inscrição homenageia o conhecimento de padeiros artesanais. Também celebra toda uma arte de viver à francesa: a baguete é um ritual diário, um elemento estruturante da refeição, sinônimo de partilha e simpatia", acrescentou. "É importante que esse saber artesanal e essas práticas sociais possam continuar a existir no futuro", finalizou Azoulay.

Além da expertise da baguete, o Comitê do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco examinou este ano 56 pedidos de inscrição. Entre eles figuram a música "raí" argelina, o harissa, um molho picante típico da gastronomia tunisiana, e a cultura do chai (chá) no Azerbaijão e na Turquia.

A França tem cerca de 20 elementos já inscritos na lista de patrimônio imaterial da Unesco, alguns deles divididos com outros países. É o caso do alpinismo, que os franceses compartilham com os suíços e os italianos.

(Com informações da AFP)