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Por que Natal dinamarquês tem duendes e elfos e poucas referências a Jesus

Renas e Papai Noel aguardam pedestres no Mercado de Natal do centro de Copenhague - Elena_Sistaliuk/Getty Images/iStockphoto
Renas e Papai Noel aguardam pedestres no Mercado de Natal do centro de Copenhague
Imagem: Elena_Sistaliuk/Getty Images/iStockphoto

Fernanda Melo Larsen

Correspondente da RFI em Copenhague

21/12/2022 04h00

Nas ruas, nas instituições de ensino, nas empresas, em todos os lugares durante todo o mês de dezembro o Natal é celebrado neste pequeno país Nórdico de quase 6 milhões de habitantes.

O Jul, Natal em dinamarquês, é anterior à celebração de Natal do mundo cristão. Antes do cristianismo, Jul era festejado pelos dinamarqueses e escandinavos na lua cheia mais fria do ano. O cristianismo foi introduzido na Dinamarca por volta do ano de 965, e a partir disso, o Natal cristão e as tradições pagãs dinamarqueses se fundiram.

O primeiro dia do advento, que acontece quatro domingos antes do Natal, marca o início da temporada natalina. É quando muitas famílias vão para a floresta escolher o próprio pinheiro que será cortado e ficará no quintal esperando a semana do Natal para ser decorado e colocado na sala de estar.

Dentro de casa a vela do advento é acesa todos os dias, e outras velas iluminam o ambiente. A decoração natalina é feita com corações de papel, com muitos duendes e elfos. Já os anjos e os presépios com a figura do menino Jesus são raros por aqui.

De acordo com Marie Nielsen, professora associada e vice-diretora da Escola de Cultura e Sociedade do Departamento de Estudos de Religião da Universidade de Aarhus, a maioria dos dinamarqueses vê suas próprias práticas como algo relacionado às tradições familiares e nacionais.

Nyhavn, em Copenhague, enfeitado com luzes - Artur Dancs/Getty Images/iStockphoto - Artur Dancs/Getty Images/iStockphoto
Nyhavn, em Copenhague, enfeitado com luzes
Imagem: Artur Dancs/Getty Images/iStockphoto

"Umas das coisas que nós vemos na atualidade no país é que muitos muçulmanos que vivem na Dinamarca celebram o Natal, porque o Natal é algo grandioso na Dinamarca. Você não tem como evitar, é celebrado nas escolas, as crianças nos jardins de infância visitam as igrejas. É impossível não viver o Natal na Dinamarca, ele está nas lojas, no trabalho, na mídia, em todos os lugares", explica Marie Nilsen.

Nas banquinhas dos Jardins de Tivoli, em Copenhague, são vendidos duendes e elfos natalinos - Fotolia/Getty Images/iStockphoto - Fotolia/Getty Images/iStockphoto
Nas banquinhas dos Jardins de Tivoli, em Copenhague, são vendidos duendes e elfos natalinos
Imagem: Fotolia/Getty Images/iStockphoto

Celebração em sociedade

Nas ruas, os mercados de Natal são um convite para quem passa tomar um Gløgg, uma bebida feita com vinho misturado a amêndoas e passas, que é servido quente. Nos cafés de todo o país é possível consumir o æbleskiver, um bolinho de maçã que se come com geleia e açúcar de confeiteiro.

Aeblskiver, o bolinho de maçã dinamarquês típico das festas - bhofack2/Getty Images/iStockphoto - bhofack2/Getty Images/iStockphoto
Aeblskiver, o bolinho de maçã dinamarquês típico das festas
Imagem: bhofack2/Getty Images/iStockphoto

Já no ambiente de trabalho dinamarquês, o Julefrokost — almoço de Natal — pode durar o dia todo começando na hora do almoço com muita comida e bebida. Discretos e silenciosos no cotidiano, nestes eventos regados a muito álcool os dinamarqueses desfrutam o momento numa atmosfera — hyggeligt — que significa aconchegante em tradução livre.

As instituições de ensino celebram o mês natalino com canções tradicionais deste período do ano.

Guirlandas sobre as ruas de Copenhague - stigalenas/Getty Images - stigalenas/Getty Images
Guirlandas sobre as ruas de Copenhague
Imagem: stigalenas/Getty Images

As crianças recebem também um calendário do Advento, que contém 24 presentes simbólicos. A brasileira Miriam Jakobsen, casada com um dinamarquês e mãe de duas filhas, diz gostar do estilo de celebração de Natal do país que ela escolheu para viver há 12 anos.

"Hoje com as meninas eu acho maravilhoso porque a gente vive aqui, porque mais que elas tenham muita coisa do Brasil aqui em casa, a gente faz muita coisa brasileira, mas o que pega mesmo é a cultura dinamarquesa, porque é aqui que elas vivem. É o que elas compartilham na escola, é o que elas conversam com as amiguinhas, e elas adoram dançar ao redor da árvore, é um momento divertido, eu gosto também" conclui Miriam Jakobsen.

Mercado de Natal de Copenhague - klug-photo/Getty Images - klug-photo/Getty Images
Mercado de Natal de Copenhague
Imagem: klug-photo/Getty Images

Feriado de Natal

Lojas, estabelecimentos comerciais, empresas encerram as atividades nos dias 24, 25 e 26 de dezembro. Até mesmo o transporte público funciona com capacidade reduzida no dia 24, parando às 22h para que todas as pessoas tenham a chance de participar do jantar em família.

Jardins de Tivoli, em Copenhague, enfeitados para as festas - klug-photo/Getty Images - klug-photo/Getty Images
Jardins de Tivoli, em Copenhague, enfeitados para as festas
Imagem: klug-photo/Getty Images

A Ceia de Natal neste país escandinavo é o ponto mais tradicional da festa, a comida é servida depois das cinco da tarde. No cardápio o pato assado, o Flæskesteg — o lombo de porco assado com torresmo crocante e ameixas, batatas cozidas, com um molho escuro, batatas caramelizadas, e repolho vermelho em conserva.

O jantar é seguido pela sobremesa. Ris a l'Amande — um tipo de arroz doce feito com creme de leite, molho de cereja e amêndoas.

Flaeskesteg, o prato clássico dinamarquês de lombo de porco assado com batatas, beterrabas e chips de batatas - Lars Fortuin/Getty Images/iStockphoto - Lars Fortuin/Getty Images/iStockphoto
Flaeskesteg, o prato clássico dinamarquês de lombo de porco assado
Imagem: Lars Fortuin/Getty Images/iStockphoto

Depois do jantar e antes da troca de presentes, é o momento de adultos e crianças dançarem de mãos dadas ao redor da árvore de Natal e cantarem canções natalinas como Noite Feliz. O dia de Natal é um momento muito tranquilo para a maioria das famílias, pois as visitas mais formais e outras atividades só são agendadas a partir do dia 26 de dezembro.