Com adoção do euro, Croácia espera "bombar" ainda mais turismo, mas preços já sobem
Nove anos depois de entrar na União Europeia, a Croácia trocou a kuna, a moeda nacional, pelo euro. O país passou a integrar a zona do euro, o grupo de países que adotam a moeda única europeia, e o espaço Schengen de livre circulação no bloco. O pequeno Estado dos Bálcãs ganha acesso facilitado aos mercados europeus e se prepara para receber ainda mais turistas -- mas os habitantes já constatam que, como resultado imediato, a mudança fez os preços subirem no comércio.
A ascensão foi das mais rápidas já vistas na União Europeia, uma recompensa de Bruxelas aos esforços de Zagreb para vencer as etapas para integrar os dois grupos — são 20 países na zona do euro e 23 no espaço Schengen. Independência do Banco Central, estabilidade dos preços e finanças públicas sob controle são alguns dos pontos que contaram a favor.
Outros dois candidatos, a Romênia e a Bulgária, não tiveram a mesma sorte — o Conselho Europeu julgou que ambos ainda não eram capazes de assegurar o fluxo migratório dos Bálcãs nas suas fronteiras com a UE, e bloqueou os seus processos de adesão em 2022.
O economista do Banco da França Florian Le Gallo lembra que, desde o ingresso na União Europeia, a Croácia traçou o caminho para também adotar a moeda única. A última vez que um país tinha sido aceito foi em 2015, com a entrada da Lituânia. Aos olhos de Bruxelas, a aceitação de Zagreb representa um sinal de força do euro, após a crise das dívidas iniciada em 2010 e o Brexit.
"Em 2021, mais de 60% do comércio exterior da Croácia foi com a zona do euro, dentro da qual a Alemanha é o seu principal parceiro comercial. O que muda agora é a eliminação dos custos de câmbio com o euro", afirma Le Gallo. "Isso vai facilitar as trocas comerciais e os investimentos financeiros. Uma empresa croata que já comercializava bastante com a zona do euro, por exemplo, vai poder eliminar os custos com câmbio entre a kuna e o euro."
Turismo facilitado
Para um país em que o turismo representa 20% do PIB, a mudança traz boas perspectivas econômicas pela frente, na avaliação de Yves Bertoncini, consultor em assuntos europeus e professor da ESCP Business School.
"Como é um pequeno país de menos de 4 milhões, que recebe quase 20 milhões de turistas, essa nova configuração vai tornar a Croácia ainda mais atrativa, em especial para os turistas europeus. Não haverá mais controles de fronteiras para franceses, alemães ou italianos, e eles poderão continuar usando a mesma moeda", explica.
Essa integração crescente não começou agora. Nos anos 1990, a economia croata era ligada ao marco alemão, devido à instabilidade monetária no pequeno país na época, em meio à guerra de independência da antiga Iugoslávia. A chegada do euro deu continuidade a este processo — a metade dos empréstimos bancários na Croácia já era na moeda europeia.
"Sempre usamos euros e sabíamos qual era o valor do euro. Muitas coisas de valor na Croácia, como quando comprávamos uma casa, já se pagava em euros, e não na nossa moeda", conta a professora de idiomas e tradutora Dubravka Jakic, de Zagreb. "Não terei saudades da kuna. Foi nossa moeda, mas vai ser mais fácil com o euro. Antes, para viajar para todos os países que têm euros, sempre tínhamos que passar no banco para pegar euros. Agora vai ter tudo aqui", celebra.
Proteção do euro
A Croácia é uma das economias mais frágeis da UE e espera que a troca deixará o país mais protegido das instabilidades geopolíticas globais. No cenário atual, de inflação mundial, o índice atingiu 13,5% no país — contra 10% na zona do euro. A taxa de crescimento econômico croata, por outro lado, sinaliza uma economia dinâmica, com alta de 5,7% esperada este ano.
A esperança é que, com a adoção da moeda comum, o nível de vida dos croatas se aproxime mais do restante do bloco, a começar pelo aumento dos salários, que subiram quase 70% desde 2016.
Na manhã deste domingo, nas primeiras horas após o fim da moeda nacional, o estudante Vilim Kladniciki, morador de Zagreb, fez questão de participar desta nova etapa da história do seu país. "Fui comprar um almoço e me custou 3,10 euros, o que significou apenas algumas moedas. Eu quis já comprar alguma coisa no primeiro dia, para poder guardar a nota de recordação", disse.
Mas o estudante, de 23 anos, percebe que os comerciantes estão aproveitando a troca para corrigir os preços para cima. "Não é tão simples pensarmos se estamos gastando exatamente o mesmo valor ou se estamos perdendo de algum jeito. O aumento dos preços já começou", garante. "A maioria dos produtos subiu exponencialmente, e acho que parte da explicação é a mudança para o euro. Espero que não vão subir muito mais."
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