Londres desmente intenção de devolver frisos do Partenon e frustra gregos
Uma questão espinhosa se agrava no centro das tensões entre Londres e Atenas: a Grécia tenta obter do Reino Unido a devolução de frisos do Partenon, expostos no British Museum. As discussões, que já duram anos, tiveram mais uma tentativa fracassada depois da mais recente decisão da ministra da Cultura britânica, que negou o retorno das peças ao seu país de origem.
O presidente do British Museum "não vai os retornar. Esta não é sua intenção. Ele não tem nenhuma vontade de fazer isso", declarou enfática a ministra Michelle Donelan durante uma entrevista nesta quarta-feira (11) à BBC News. "Fui muito clara sobre isso: não acho que [as peças] deveriam voltar para a Grécia", continuou.
A declaração pôs fim às expectativas suscitadas junto aos gregos na semana passada, depois que o jornal The Telegraph revelou, em 4 de janeiro, que o atual diretor do museu londrino, George Osborne, estaria em processo de conclusão de um acordo para um empréstimo de longo prazo dos frisos como parte de um "intercâmbio cultural".
A procedência da informação se tornou contestável uma vez que o British Museum é proibido, por lei, de disponibilizar sua coleção.
Londres alega que o friso de 75 metros, destacado do Partenon, e uma das famosas cariátides de um pequeno templo antigo na Acrópole — ambas peças-chave do museu londrino — foram "adquiridos legalmente" em 1802 pelo diplomata britânico Lord Elgin, que os vendeu ao British Museum. A Grécia, por sua vez, afirma que as peças foram objeto de "pilhagem" enquanto o país estava sob ocupação otomana.
"Caixa de Pandora"
A ministra britânica não esconde o temor de que a devolução destes frescos abra a "Caixa de Pandora" e obrigue o Reino Unido a devolver outras obras compradas ou saqueadas pelo mundo. "[Estas peças] pertencem ao Reino Unido, onde cuidamos delas por muito tempo", disse ainda Donelan à BBC. Já no podcast News Agents, ela acrescentou que a ideia de empréstimos de cem anos "não estaria absolutamente prevista na legislação".
Os gregos, no entanto, se mostram inclinados a manter essa discussão: no museu da Acrópole, um espaço deixado vazio ainda aguarda a devolução da escultura do Partenon.
Na segunda-feira (10), um porta-voz do governo grego admitiu que as negociações com o British Museum "não estavam sendo fáceis". "Percorremos um longo caminho, avançamos alguns passos e os esforços continuam", revelou ele. "O objetivo é a devolução definitiva" dos frisos, insistiu o porta-voz, porque a Grécia "não reconhece nem a posse, nem a propriedade [destas obras] pelo British Museum", acrescentou.
A pressão para a devolução das peças aumentou nos últimos anos, na esteira dos movimentos antirracismo e de revisionismo histórico, para que os museus ocidentais devolvam obras, principalmente obtidas durante o período colonial, aos seus países de origem.
Papa Francisco
Em agosto, um museu em Glasgow, na Escócia, entregou à Índia sete obras de arte saqueadas de lugares sagrados durante a colonização no século 19, o que representou uma primeira restituição por parte de uma instituição cultural do Reino Unido.
Em dezembro passado, foi a vez do papa Francisco decidir enviar ao arcebispado da Igreja Ortodoxa em Atenas, na Grécia, três peças pertencentes ao Partenon, que estavam há séculos no Museu do Vaticano.
Por outro lado, os habitantes da Ilha de Páscoa, no Pacífico, também continuam reivindicando do British Museum a devolução do moai Hoa Hakananai'a, um monolito de 2,4 metros de altura e pesando quatro toneladas. A peça foi retirada da ilha sem autorização em 1868 pelo navegador Richard Powill, que a ofereceu à rainha Vitória.
(Com informações da AFP)
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