Arte e 'savoir faire' brasileiros estão presentes em salão de design em Paris
Com o tema "Take care" (cuidar), o salão de design e decoração Maison&Objet (Casa & Objeto) reúne 2.300 expositores de 147 países em Paris de 19 a 23 de janeiro. As brasileiras Bianca Motta e Ana Lozon, criadoras da marca Sabiá, de objetos para a casa, expõem pela primeira vez na feira e chamam a atenção com suas enormes folhas vindas diretamente da Amazônia brasileira.
"Uma casa brasileira" é o slogan da Sabiá, esta marca franco-brasileira criada há um ano e meio. "Queremos, por meio dos nossos objetos, falar da alma da casa brasileira, este lugar festivo, caloroso, colorido, em que sempre temos o prazer de receber", explica Bianca Motta, que é arquiteta e mora na França há mais de dez anos.
"Falar da casa brasileira é divulgar os nossos artistas, o nosso patrimônio imaterial. Nossa primeira coleção, assinada por Clarisse Romero, se chama 'O canto do sabiá' e fala da importância do sabiá, o pássaro símbolo da nossa cultura, para o Brasil", continua Bianca.
As estampas desta coleção servem para cobrir almofadas de diferentes tamanhos, toalhas de mesa, jogos americanos e guardanapos. "Além disso, temos jogos americanos feitos artesanalmente de uma folha da Floresta Amazônica. A partir de uma folha natural os povos originários criam um molde e reproduzem com o látex extraído das seringueiras da região do Pará, de forma sustentável. As cores também são naturais. Então o bordeaux vem do açaí, o vermelho vem do urucum, o verde da grama...", complementa Ana, que é estilista.
Elas explicam que esses produtos são todos fabricados no Brasil. "São 75 famílias paraenses que se juntam, em forma de cooperativa, para produzir as folhas. É tudo feito na floresta, com ingredientes locais, de forma sustentável, o que permite gerar renda sem destruir o meio ambiente", conta Bianca, sobre o processo de produção.
Alma brasileira
"Para nós, brasileiras morando fora do Brasil, reconstruir a nossa casa, com a nossa alma, é muito importante. As experiências sensoriais e estéticas, o sentimento de acolhimento de uma casa brasileira: é isso o que a marca Sabiá busca passar. Nós temos uma cultura riquíssima, é um privilégio poder falar dela", diz Bianca.
"O tema deste salão caiu como uma luva, porque cuidar é exatamente o que a gente valoriza. É importante para a gente trabalhar com essas cooperativas, com pessoas que valorizam a cultura brasileira, que permitem às pessoas viverem dignamente do trabalho delas. Não são só objetos, é história, é valor, o detalhe, a singularidade de cada peça", diz Ana, acrescentando que a Sabiá é a única distribuidora destas plantas na França.
Embora as estampas da Sabiá sejam bem brasileiras, os tecidos e a mão de obras são franceses. "Para nós, é importante desenvolver a economia e o trabalho locais, com confecções que trabalham com a reinserção profissional de imigrantes. Desenvolver o local e exportar a nossa cultura; assim todo mundo ganha. Tudo aqui é 'made in France' com criação brasileira", conclui Ana.
Ouro vegetal
O baiano Jorge dos Santos criou a marca de bijuterias Açaí Bijou faz 15 anos e tem como carro-chefe o capim dourado, que na França é conhecido como "ouro vegetal". "O capim-dourado vem da região do Jalapão e trabalhamos com a comunidade de Ponte Anta do Tocantins, onde temos um ateliê com 14 artesãos. Eu crio as peças, eles produzem lá e eu distribuo aqui", explica.
O stand da Açaí, que expunha além das bijuterias, acessórios e objetos de decoração, estava cheio. "Temos tido uma procura importante e este ano estamos lançando um novo material: a piaçava", conta Jorge sobre a palha marrom vinda do sul da Bahia, a partir da qual ele criou braceletes bastante originais.
Prazer sexual como sinônimo de bem-estar
A Maison&Objet não é apenas uma feira de design e decoração, é um importante detector de tendências emergentes e movimentos de consumo. Passeando pela feira, a reportagem da RFI se deparou com duas marcas que colocam o prazer feminino como central para o bem-estar.
Uma delas é a francesa Blush, criada há apenas um mês pela engenheira Lucie Solal. "Eu criei a Blush depois de ser mãe pela segunda vez, com um pós-parto extremamente difícil e um corpo do qual eu deveria me reapropriar. Eu tive que partir do zero e redescobrir a minha sexualidade com sex toys. Então, com meu background de engenheira, criei esta 'concept store' (loja de conceito) que tem como carro-chefe o estimulador clitoriano Ona, que pode ser utilizado solitariamente ou em dupla", conta.
Mas por que apresentar sex toys num salão de design? "A ideia de estar neste salão é para mostrar para quem se interessa pelo bem-estar que devemos tratar a sexualidade como parte deste pacote, de uma maneira holística. A sexualidade é normal e faz bem para a cabeça, o corpo... os benefícios do orgasmo sobre o corpo são incontáveis", responde Lucie, frisando que seu produto é como qualquer outro produto de beleza e bem-estar.
A inglesa Jenny Ashton, que representa a marca Natural Glow, também aposta nesta tendência. "Nós somos uma marca de bem-estar sexual, que foca no estilo de vida no qual acreditamos, com embalagens estilosas e de luxo, recicláveis e sem plástico. Nossas campanhas focam em corpos naturais, normais", diz sobre a trend do momento.
"Nós já estávamos no mercado do bem-estar há seis anos, com outra marca e vimos que nossos revendedores estavam tendo demadas por sex toys, então decidimos investir neste setor de mercado. Nosso plano é lançar um kit com lubrificante, spray de limpeza e vela, como os kits de beleza que vêm com sérum, skin care, etc.", conclui Jenny, dizendo que o objetivo é fazer as mulheres brilharem.
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