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Segunda-feira de Páscoa? Entenda por que a data é feriado na França e em muitos países europeus

Procissão de Segunda-Feira de Páscoa em Hakendover, em Tienen (Bélgica), acontece nos campos e cerca de 200 cavalos correm ao redor do público - JONAS ROOSENS/AFP
Procissão de Segunda-Feira de Páscoa em Hakendover, em Tienen (Bélgica), acontece nos campos e cerca de 200 cavalos correm ao redor do público
Imagem: JONAS ROOSENS/AFP

da RFI

10/04/2023 15h04

O feriado de Páscoa data dos anos 200 depois de Cristo, mas, na França, onde o processo de secularização do país remonta à Revolução Francesa, o imperador Napoleão Bonaparte resolveu colocar fim ao feriadão em 1801 e conservou apenas a segunda-feira após o domingo de Páscoa como dia de repouso. Mas não é só na França que esta segunda-feira (10) é feriado: o mesmo acontece na maioria dos países europeus.

Uma das poucas exceções na Europa é Portugal, onde, como no Brasil, os feriados da Semana Santa são a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa, mas, em alguns municípios portugueses, a segunda-feira também é feriado, como na vizinha Espanha.

Para entender melhor tudo isso, temos que voltar às origens: a celebração da Oitava da Páscoa, na Idade Média, período em que encontramos vestígios de uma antiga tradição cristã.

O imperador Constantino (272-337 d.C.) impôs então oito feriados consecutivos em Roma, um período chamado de Oitava da Páscoa, que começava no domingo da ressurreição. A segunda-feira de Páscoa é o segundo dia da oitava da Páscoa.

Famílias aproveitam a Segunda-Feira de Páscoa no parque temático em Toverland, nos Países Baixos, nesta segunda (10) - ROB ENGELAAR/AFP - ROB ENGELAAR/AFP
Famílias aproveitam a Segunda-Feira de Páscoa no parque temático em Toverland, nos Países Baixos, nesta segunda (10)
Imagem: ROB ENGELAAR/AFP

Missas eram realizadas todos os dias, a partir do domingo, para celebrar a festa da Páscoa. Durante este período, os peregrinos também podiam aproveitar para viajar para Roma.

Napoleão revoga maioria dos feriados religiosos

Esta Oitava de Páscoa, no entanto, chegou ao fim na França sob Napoleão Bonaparte.

A partir de 1801 e da assinatura da Concordata com o Papa, o então Primeiro Cônsul (título usado por Napoleão após a sua tomada do poder à força) comprometeu-se a reorganizar as práticas da Igreja Católica da França. Ele também removeu os feriados, que eram 50 na época.

Napoleão Bonaparte é o responsável pela tradição da Segunda-Feira de Páscoa - Internet/Reprodução - Internet/Reprodução
Napoleão Bonaparte é o responsável pela tradição da Segunda-Feira de Páscoa na França
Imagem: Internet/Reprodução

Napoleão optou assim por manter a Segunda-feira de Páscoa, a Ascensão (que este ano cai no dia 18 de maio), Assunção (15 de agosto), Todos os Santos (1° de novembro) e o Natal (25 de dezembro). Por outro lado, aboliu a semana do feriado após a Páscoa para manter apenas um dia isento de trabalho: a segunda-feira.

No novo calendário litúrgico do papa Paulo 6º, cujo papado durou de 1963 a 1978, a oitava pascal foi mantida. Na Igreja Católica, a segunda-feira de Páscoa também é qualificada como segunda-feira do Anjo, de acordo com o Evangelho segundo São Mateus.

Paulo 6º, morto em agosto de 1978, manteve a oitava pascal no calendário litúrgico - Ansa/Epa/Efe - Ansa/Epa/Efe
Paulo 6º, morto em agosto de 1978, manteve a oitava pascal no calendário litúrgico
Imagem: Ansa/Epa/Efe

Na França, sob o reinado do rei Luís 14, a capela real de Versalhes celebrava o ofício do Anjo na segunda-feira de Páscoa e no dia seguinte, especialmente cantando o Angele Dei (Anjo de Deus).

Nos países cristãos ortodoxos, como sinal de alegria, os ofícios são encurtados e simplificados. O dia litúrgico da Segunda-feira Radiante, como é chamado este dia, começa com as Vésperas cantadas no domingo à noite e durante as quais, nas igrejas ortodoxas, o Evangelho é lido em línguas antigas e modernas.

Tradições populares para celebrar a segunda-feira

Em alguns países, a segunda-feira de Páscoa é celebrada com tradições e costumes populares. Vejamos alguns exemplos.

Os italianos de Boccadasse, na Ligúria, curtem a Segunda-Feira de Páscoa na praia (foto) ou com piqueniques - Simona Sirio/Getty Images - Simona Sirio/Getty Images
Os italianos de Boccadasse, na Ligúria, curtem a Segunda-Feira de Páscoa na praia (foto) ou com piqueniques
Imagem: Simona Sirio/Getty Images

Na Itália, a segunda-feira de Páscoa é chamada de "Pasquetta". É costume preparar um piquenique no campo com a família e esta é uma oportunidade para comer os ovos que foram decorados no dia anterior. No Vale de Aosta, região alpina francófona que faz fronteira com a França e a Suíça francófona, a segunda-feira de Páscoa é chamada de "margarida" (pâquerette, em francês).

No sul da França, também era costume fazer um grande piquenique com a família e amigos na segunda-feira de Páscoa ao meio-dia com, como prato principal, uma grande omelete. Essa tradição é chamada de "omelete de Páscoa" ou "pâquette".

Na Polônia, a segunda-feira de Páscoa é conhecida como "Smigus-dyngus" (segunda-feira chuvosa), quando os poloneses jogam água uns nos outros. A água, símbolo da vida, recorda aos cristãos o seu batismo e com ele a sua participação na morte e ressurreição de Cristo para uma nova vida.

Na Hungria, os meninos borrifam perfume nas meninas. Isso traz sorte. As meninas devem recompensar os meninos com dinheiro ou ovos de Páscoa.

Na Inglaterra, o costume da segunda e terça-feira de Páscoa é chamado de "lifting" ou "headline". Os jovens vão de casa em casa carregando uma cadeira decorada com flores. Quando uma garota se senta na cadeira, eles a levantam no ar três vezes. Ser erguida assim traria boa sorte para a jovem, que também deve recompensá-los com dinheiro ou um beijo.

No dia seguinte, os papéis se invertem e é a vez das meninas colocarem os meninos na cadeira.